Delegacia já recebeu 17 denúncias de mulheres contra hospital na Baixada
'É um festival de horrores', diz delegado sobre depoimentos prestados.
Em um dos casos, mulher afirma que fez ligadura de trompas sem anestesia.
A 54ª DP (Belford Roxo), que investiga as mortes de pacientes no Hospital de Clínicas de Belford Roxo, informou, nesta sexta-feira (10), que até o momento 17 mulheres procuraram a polícia para fazer denúncias sobre a atuação de falsos médicos na unidade. No local, na Baixada Fluminense, um ex-estudante foi preso acusado de homicídio doloso e exercício ilegal da medicina.
De acordo com o delegado-adjunto, Antônio Silvino Teixeira, algumas acusações são contra o ex-estudante já preso, que atuava como obstetra, e outras são em relação a outro suposto falso médico, com nacionalidade colombiana, que conseguiu fugir no dia do flagrante da polícia no hospital, no domingo (5).
O delegado contou que um dos casos mais graves é o depoimento de uma mulher de 26 anos, datado de agosto desse ano, que afirma que o colombiano realizou a cirurgia de ligadura de trompas sem anestesia.
“A anestesia não pegou e ele cortou ela mesmo assim. Tem casos de morte, criança com paralisia cerebral, é um festival de horrores”, disse Teixeira.
O G1 tentou entrar em contato com o hospital, mas ninguém foi localizado para comentar o assunto, nesta sexta-feira.
Ainda segundo a polícia, o volume de gente que chega à delegacia querendo fazer denúncias contra a clínica é grande e a equipe não está conseguindo dar suporte. “A gente está pedindo para virem aos poucos à delegacia”, afirmou ele.
Segundo a Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública, que investiga a falsificação de documentos e a atuação de falsos médicos no local, o ex-estudante de medicina, de 40 anos, que está preso na Polinter desde domingo (5), é formado em Ciências Biológicas na Universidade de Nova Iguaçu (Unig). Ele começou a cursar medicina em 1995 e saiu em 2003, quando completou o oitavo período.
O responsável pela unidade também foi indiciado e vai responder por coautoria no homicídio doloso e também fraude processual. Ele prestará depoimento na próxima segunda-feira (13).
Vigilância afirma que clínica continuará aberta
Na quinta-feira (9), o hospital passou por uma vistoria de quase duas horas, onde, segundo a polícia, foram constatadas irregularidades nos leitos. De acordo com a polícia, verificou-se que a clínica não possui Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), apesar de realizar cirurgias complexas, como partos.
A Superintendência de Vigilância Sanitária informou, nesta sexta-feira, que durante inspeção “não foi observado nenhum agravo no âmbito da legislação sanitária que levasse a indicação de suspensão dos serviços prestados pela unidade”.
Em relação ao fato de o hospital não possuir UTI, a Vigilância disse que a clínica está dentro da legislação vigente porque possui unidades de retaguarda para encaminhamento de pacientes com agravo, que são o Hospital da Posse e Moacyr do Carmo.
Gerente e tesoureiro presos
Na quinta-feira (9), o gerente e tesoureiro do Hospital das Clínicas de Belford Roxo foram presos. De acordo com o titular da 54ª DP, foram apreendidas quatro munições de revólver calibre 38 em um cofre durante uma operação de busca e apreensão no hospital feita por agentes da Promotoria Eleitoral do Ministério Público Federal.
Ainda segundo o delegado, na operação – que tinha como objetivo apreender documentos – foram apreendidas ainda cerca de dez caixas de medicamentos vencidos.
De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), os fiscais encontraram morfina com prazo de validade vencido e apreenderam quatro computadores e documentos de 27 pacientes, com cópia dos títulos eleitorais, além das munições.
Responsável pela fiscalização da propaganda em Belford Roxo, a juíza Ana Helena Rodrigues entendeu que havia fortes indícios de crime eleitoral, após a promotora de justiça receber denúncias de que havia distribuição de santinhos no interior do hospital, inclusive na ala destinada a pacientes do SUS. As propagandas seriam de um dos sócios do hospital, que é candidato a deputado estadual, e de uma candidata a deputada federal.
Mais cedo, a prefeitura de Belford Roxo informou ter aberto uma auditoria para investigar o Hospital das Clínicas de Belford Roxo.
A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Saúde Pública disse que as mortes de 13 bebês que ocorreram no hospital nos últimos nove meses serão investigadas.
O Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) abriu um processo administrativo para apurar as supostas irregularidades cometidas no hospital. De acordo com a assessoria de imprensa do conselho, a sindicância vai investigar a direção e o corpo técnico da unidade.
Menina de 5 anos foi atendida por outro falso médico
(Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo)
A prisão do falso médico na Baixada aconteceu mais de 20 dias após a morte da menina Joanna Cardoso Martins, de 5 anos, que ficou quase um mês em coma.
Ela foi atendida no Hospital Rio Mar, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade e foi liberada desacordada por um falso médico, estudante de medicina. Joanna foi internada depois em um hospital em Botafogo, na Zona Sul da cidade.
No dia 3 de setembro, o Ministério Público do Rio denunciou o estudante que liberou Joanna por exercício ilegal da Medicina, com resultado morte, estelionato, falsificação e uso de documentos e tráfico ilícito de entorpecentes.
Já a pediatra que o contratou foi denunciada por homicídio doloso e pode pegar até 20 anos de prisão. A médica está presa desde o dia 14 de agosto, e nega as acusações.
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