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sábado, 4 de setembro de 2010

#politica Contador estava no PT quando obteve dados da filha de Serra na Receita

Contador que retirou dados da filha de Serra foi filiado ao PT

Publicada em 03/09/2010 às 20h16m

Tatiana Farah

SÃO PAULO - Acusado de participar do esquema de vazamento de dados sigilosos da Receita Federal, o técnico contábil Antonio Carlos Atella Ferreira, de 62 anos, foi filiado ao PT paulista de 2003 a novembro de 2009. Segundo o Jornal Nacional desta sexta-feira, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) confirmou a filiação partidária e informou que Atella teve seu registro cancelado em novembro do ano passado, quase dois meses depois de ter ingressado com uma procuração supostamente falsificada em nome da filha do candidato José Serra, Veronica, para acesso a seus dados fiscais.

( Veja a cronologia do caso do suposto dossiê )

O PT paulista informou ao GLOBO que fez uma busca no sistema de registros partidários do TRE e o nome de Atella não consta como filiado a nenhum partido. O documento foi enviado à redação. No entanto, de acordo com o TRE, ele teria ingressado no PT de Mauá e mudado sua filiação para a cidade de Rio Grande da Serra até ter seu registro excluído do cadastro. Segundo o TRE, Atella filiou-se ao PT em 20 de outubro de 2003 e foi excluído do cadastro em 21 de novembro do ano passado.

(Quem é quem no escândalo do sigilo fiscal )

Ele ingressou com a procuração falsa em nome de Verônica Serra, no escritório da Receita Federal em Mauá, no ABC paulista, no dia 30 de setembro. De acordo com o tribunal eleitoral, a anotação de filiação foi excluída do cadastro de eleitores, o que não significa desfiliação, mas algum dado divergente que o partido não corrigiu. ( Leia também: Mantega admite vulnerabilidade no sistema da Receita Federal )

Em resposta ao JN o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, afirmou que Atella nunca teve atuação política no partido. Segundo ele, se "a filiação existiu de fato, ela foi apenas cartorial".

PT volta a negar participação na violação dos sigilos

Dutra voltou a negar nesta sexta que exista participação do PT e da campanha da candidata Dilma Rousseff na violação dos sigilos. Atella havia afirmado ao GLOBO que nunca fora filiado a nenhum partido. Nesta tarde, depois de prestar depoimento à Polícia Federal em São Paulo, Atella disse que a intenção de candidatar-se a vereador nas próximas eleições era uma "brincadeira". ( Leia também: Dutra diz achar estranho haver filiados do PT e do PV no escândalo da quebra de sigilo )

- Eu não quero ser candidato. Tenho horror à política.

Questionado mais uma vez pela Rede Globo, Atella disse não se lembrar de ter integrado um partido e que se isso ocorreu deve ter sido por algum momento de empolgação. Atella já havia denunciado o nome de quem teria encomendado o serviço, o contabilista Ademir Estevam Cabral. Ademir é filiado ao PV de Francisco Morato desde 2007. O PV abriu uma sindicância para apurar o caso.

Atella ficou cerca de cinco horas na Superintendência da PF em São Paulo e obteve o benefício de sair por uma porta lateral da Superintendência, usada apenas por funcionários, porque queria evitar os quase trinta jornalistas que o aguardavam na saída.

Segundo a assessoria de imprensa da PF, foi o próprio Atella quem pediu para sair por outra porta - um procedimento que não foi usado nem com políticos e banqueiros investigados pela polícia federal.

Atella confirma que foi orientado a não falar com a imprensa

Ao GLOBO, Atella afirmou que foi orientado a não falar mais com a imprensa. Ele cancelou uma coletiva marcada para esta sexta, às 16h, e disse ter seguido para o litoral paulista.

- Não estou autorizado a divulgar mais nenhuma palavra. O caso está em segredo de Justiça - disse o técnico contábil, que prestou depoimento sem a presença de advogado:

- Não preciso de advogado. No Brasil, tudo é moda como chamar um advogado.

Sobre o privilégio de usar a porta lateral, Atella afirmou:

- Isso é porque pode e não porque quer. Você já viu um brasileiro que entra pela porta da frente (na Superintendência da PF) e sai pela dos fundos? - gabou-se ele, negando que tivesse sido privilegiado:

- Usei o meu direito à privacidade.

Além de ouvir o depoimento de Atella, a Polícia Federal colheu sua assinatura para um exame grafotécnico. A ideia é conferir as assinaturas de Atella com as que aparecem na falsa procuração de Veronica Serra.

A PF tentou ouvir nesta sexta a filha de Serra, mas, até as 18h, ela não havia sido localizada para receber a intimação. Veronica deve fazer o mesmo teste de assinaturas, para confirmar se houve falsificação no documento usado por Atella ou não. Caso seja confirmada a fraude, o técnico contábil pode ser indiciado por pelo menos dois crimes: falsificação de documentos e falsidade ideológica. De acordo com o tabelião do cartório citado na procuração de Atella, Fábio Tadeu Bisognin, a filha de Serra nem tem firma aberta no local e os carimbos do documento seriam uma falsificação grosseira.

Acusado pretende processar Receita

Acusado de possuir vários CPFs e de responder a diversos crimes, Atella afirmou ao GLOBO que pretende processar a Receita Federal:

- Quero saber quem é que acessou o meu sigilo, informando que eu tive quatro CPFs. Isso é vazamento de sigilo. Estou analisando até onde eu fui prejudicado nessa história. Você só pode levar a pedrada, não pode dar? Disseram que eu sou um estuprador, eu, um homem de 62 anos. Você imagina o que é isso para a minha família?

Depois de prestar depoimento, Atella disse que o pedido de R$ 10 mil para conceder entrevistas era brincadeira.

- Foi uma brincadeira minha, de muito mau gosto. Assim como isso de falar que quero ser candidato.

Questionado se estava preocupado com a abertura de um inquérito pelo Polícia Civil específico para apurar supostas falsificações no documento, Atella disse estar tranquilo:

- Terei um grande prazer em bater um papo com os colegas da Polícia Civil - afirmou, dizendo estar se sentindo bem com a situação:

- Estou me sentindo maravilhosamente bem e famoso.

A PF também pediu a quebra de sigilo fiscal, bancário e telefônico de Adeildda Ferreira Leão dos Santos, uma das funcionárias da Receita que teriam acessado dados tanto de Veronica como de outras pessoas ligadas ao PSDB na sede da Receita Federal do ABC Paulista. O HD de seu computador na instituição foi recolhido pela PF e está sob perícia do INC (Instituto Nacional de Criminalística), em Brasília.


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