O presidente Lula mandou incluir no Orçamento de 2011 - primeiro ano de seu sucessor - investimento de R$ 127 milhões para que, até o final da década, o Brasil exporte urânio enriquecido. A meta é atingir a autossuficiência no ciclo do combustível nuclear em 2014. Projeções levadas a Lula mostram que o País precisa enriquecer urânio para nove usinas até 2034. 0 processo representa 35% dos custos de produção. Brasil é um dos poucos países que tem reserva de urânio e sabem enriquecê-lo
Para o País poder exportar urânio enriquecido até o fim da década e superar o atraso no plano de dominar o ciclo do combustível nuclear em escala industrial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a inclusão no Orçamento do ano que vem, o primeiro de seu sucessor, de um investimento de R$ 127 milhões, informou o ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia).
O programa nuclear brasileiro foi assunto de reunião reservada de Lula com um grupo de ministros há duas semanas. A autossuficiência no ciclo do combustível nuclear, planejada inicialmente para 2013, foi descartada na reunião. A meta agora é atingir esse objetivo no ano seguinte, mas isso depende de investimentos no primeiro ano de governo do sucessor de Lula, contou o ministro.
Os R$ 127 milhões da conta apresentada por Rezende no encontro com Lula são a primeira parcela do dinheiro necessário para ampliar a escala de conversão do concentrado de urânio em gás, numa etapa intermediária do enriquecimento do urânio ainda feita totalmente no exterior, e também para aumentar a fabricação de ultracentrífugas. O custo total das novas fábricas é de R$ 348 milhões em três anos.
"O valor necessário durante o primeiro ano é pequeno, e o presidente determinou que seja colocado no Orçamento para que o programa nuclear não atrase mais", relatou Sergio Rezende ao Estado.
As necessidades de consumo de urânio enriquecido foram estabelecidas com base na expansão no número de usinas nucleares no País. Além de retomar as obras de Angra 3, cuja construção ficou interrompida desde 1986, o governo estuda a construção de pelo menos mais quatro usinas, de 1.000 MW (megawatts) cada, até 2034. As duas primeiras são projetadas para o Nordeste, provavelmente às margens do rio São Francisco.
Embora polêmico, o enriquecimento de urânio é positivo porque agrega valor ao minério. O Brasil é um poucos países que detêm grandes reservas e também sabe enriquecê-lo.
Nove usinas. Projeções levadas a Lula mostram que o País precisa enriquecer urânio para abastecer nove usinas nucleares até 2034. Mas as mesmas projeções indicam a produção de excedentes de concentrado de urânio, gás hexafluoreto e urânio enriquecido, respectivamente, a partir de 2012, 2014 e 2018.
"A exportação de excedentes é uma possibilidade", diz o ministro de Ciência e Tecnologia. Dados levados a Lula defendem o enriquecimento do urânio no País: "A tecnologia da ultracentrifugação é dominada por um pequeno número de países e não está disponível para a compra, agrega substancial valor ao urânio pois representa 35% do custo de produção do combustível para as usinas nucleares", argumenta o documento.
No mês que vem, deverá ser inaugurada no interior de São Paulo a primeira fábrica piloto de conversão de concentrado de urânio em gás hexafluoreto. A unidade construída na área da Marinha, em Aramar, tem capacidade de produção de 40 toneladas por ano. Mas a meta é multiplicar a produção para 1.500 toneladas por ano.
A nova fábrica de ultracentrífugas também ficará na área da Marinha. As ultracentrífugas serão montadas em Resende (RJ), onde já operam três cascatas de enriquecimento de urânio a 3,5%, porcentual usado no combustível nuclear. Cerca de 90% do enriquecimento do urânio consumido nas usinas de Angra dos Reis ainda é feito na Europa.
PONTOS-CHAVE
Prazo A autossuficiência no ciclo de combustível nuclear, planejada inicialmente para 2013, deve ser atingida no ano seguinte. Mas isso depende dos investimentos do próximo governo.
Demanda As necessidades de consumo de urânio enriquecido foram estabelecidas com base na expansão no número de usinas nucleares no País. A projeção é de nove usinas até 2034.
Fábrica piloto No mês que vem, deverá ser inaugurada no interior de São Paulo, a primeira fábrica piloto de conversão de concentrado de urânio em gás hexafluoreto.
Capacidade 40 toneladas por ano é a previsão da capacidade de produção da fábrica piloto que será construída na área da Marinha, em Aramar,
Dependência As novas ultracentrífugas serão montadas em Resende, onde operam três cascatas de enriquecimento. Cerca de 90% do urânio consumido nas usinas de Angra é feito na Europa. |
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