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sexta-feira, 25 de junho de 2010

O complô contra o Morumbi


O que a crise do estádio paulista para a Copa 2014 revela sobre a dificuldade de financiar as obras para o torneio
André Fontenelle, de Johannesburgo. Com Alberto Bombig
RICARDO CORRÊA
IRONIA
O intraduzível trocadilho do cartaz fez sucesso entre os sul-africanos, irritados com as exigências da Fifa

A julgar pelo que a Fifa, a federação internacional de futebol, e a CBF, a confederação brasileira, falaram ao longo de um ano, o estádio do Morumbi é um dos lugares mais inadequados do mundo à prática do futebol. Em junho de 2009, em Bloemfontein, no dia do jogo Brasil e Egito pela Copa das Confederações, o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, mostrava aos jornalistas o estádio, que é uma das sedes da Copa deste ano. “O ônibus da Seleção parou na porta do vestiário! Agora me digam se o Morumbi tem isso!” Em setembro, durante uma reunião da Fifa no Rio, o presidente da entidade, o suíço Sepp Blatter, disse: “Parece que o prefeito de São Paulo apresentou hoje um projeto de novo estádio”. A seu lado, o secretário-geral da Fifa, o francês Jérôme Valcke, tinha nas mãos um dossiê e estava pronto a criticar o Morumbi caso alguém lhe fizesse a pergunta.

Se ainda havia dúvidas quanto à razão de tamanha má vontade, elas desapareceram na semana passada, quando a Fifa e a CBF anunciaram a exclusão do estádio do São Paulo Futebol Clube da lista de 12 para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O pretexto escolhido foi um pretenso atraso na entrega das “garantias financeiras”, ou seja, o compromisso de instituições públicas ou privadas de financiar a reforma do estádio para a Copa. Mas poderia ter sido a distância entre a tribuna de imprensa e os vestiários; ou o número insuficiente de vagas de estacionamento; ou, quem sabe, a posição do campo em relação aos preceitos do feng shui. O importante era tirar da Copa o maior estádio particular do país.

Assim, em vez de um estádio cuja reforma seria inteiramente bancada pelo clube (com financiamentos privados e do BNDES), por um valor entre R$ 265 milhões e R$ 630 milhões, segundo o projeto a ser adotado, fala-se agora em uma “arena” pública de R$ 1 bilhão em Pirituba, um bairro pobre da Zona Norte da capital paulista. Por trás da ideia estariam o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, desafeto dos dirigentes do São Paulo. A empresa dona do terreno em Pirituba afirma não ter sido procurada por ninguém. Há a alternativa de usar a futura arena do Palmeiras, que será construída no lugar do atual estádio, em um ponto nobre da cidade. Esse projeto envolve o empresário J. Hawilla, amigo de Ricardo Teixeira e dono de uma rede de veículos de comunicação e de uma empresa de gestão de arenas esportivas. O São Paulo reagiu com cautela – ainda tem esperança de uma reviravolta.

O problema do Morumbi exemplifica o principal obstáculo diante do Mundial no Brasil: o setor privado não se apresentou para financiar a competição. A cada dia é mais evidente que a conta será quase integralmente paga pelo contribuinte. Compare-se com a Alemanha, onde o dinheiro público só bancou um terço do custo dos estádios do Mundial de 2006. Organizar um torneio nos moldes ditados pela Fifa sai caro. Na Copa deste ano, as exigências da Fifa irritaram tanto os sul-africanos que o intraduzível trocadilho “Fick Fufa!” se tornou sucesso.

Ricardo Teixeira conseguiu excluir o Morumbi, mas isso não significa que tenha vencido a guerra. Faltam apenas quatro anos para a Copa, prazo apertado demais para tudo o que envolve uma obra do porte do possível “Piritubão”. Para erguer um estádio público (e a infraestrutura do entorno, como uma estação de metrô), a prefeitura ou o Estado de São Paulo terão de convencer a população da necessidade de uma obra bilionária. E o problema paulista pode contaminar toda a organização da Copa 2014. Para o tucano Caio Carvalho, presidente do Comitê Executivo de São Paulo para a Copa, “a Fifa ainda vai se arrepender da decisão de excluir o Morumbi”.



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