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Idos de 1976: eu era jornalista de O Globo e nunca me passara pela cabeça ir trabalhar na tevê, e menos ainda escrever novelas. Na verdade, eu pouco via tevê, e novelas só via sábado sim, sábado não, quando conseguia uma folga. E como na época o universo dos astros e estrelas da telinha era bem menos explorado que agora pela mídia, ele me parecia quase equivalente ao que se falava sobre as areias escaldantes do planeta Marte, ou seja: praticamente nada.
Foi quando estourou o caso da cenoura. O ator Mário Gomes teria sido hospitalizado com uma delas entalada, bem, no respectivo ânus. Qualquer um que se detivesse sobre a notícia veria que ela era perversa e mentirosa... Mas o disse-me-disse, a fofoca, a maledicência falaram mais alto... E assim o caso da cenoura se transformou numa pavorosa lenda urbana.
Mário Gomes, na época o homem mais bonito da televisão brasileira, o galã dos galãs, aquele que tinha arrebatado de um super-poderoso Daniel Filho o coração da estrelíssima Betty Faria, de um momento para outro virou motivo de chacota... E nunca mais foi o mesmo. Aconteceu com ele a mesma infâmia que transformou Wilson Simonal em “informante da polícia” e assim destruiu sua carreira. Os dois foram vítimas da mesma arma terrível: a fofoca. Simonal por razões ainda mais obscuras: aos que foram lhe perguntar por que fomentou o falso boato sobre o cantor na época, um famoso cartazista declarou: “porque ele era muito metido a besta”.
Lembro-me de ter visto Mário Gomes no teatro, a fazer um triângulo amoroso com Nestor de Montemar e Arlette Sales em “Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá”, mega-sucesso de Fernando Mello. Sim, ele era um deus, cujos olhos verdes chamejavam. Sim, ele era um ator de recursos. Sim, ele era um homem belíssimo, e a televisão e as novelas tinham que ser o seu destino. Em “Gabriela” ele deslizava feito um gato. Em “Vereda Tropical” ele era um Gianechinni másculo. E em “O Astro”, bem... Nesta novela ele conheceu Betty Faria, que então era casada com Daniel Filho.
Os dois se apaixonaram, largaram tudo pra ficarem juntos, e o que veio depois foi a história da cenoura...
História essa que vai constar do meu próximo romance – o qual, assim como “98 Tiros de Audiência”, será sobre os bastidores da televisão -, mas ficcionada de modo a que nenhum personagem da vida real se sinta ofendido.
Muita água rolou desde então, e eu até fora tentado a acreditar que, de lá pra cá, os protagonistas dessa historia tinham afinal apascentado os respectivos sentidos. Até que...
Junho de 2010: abro os jornais brasileiros on line e descubro que 34 anos depois Mário Gomes vai processar por danos morais a Rede Globo e pedir uma indenização de 45 milhões de Reais por conta dos agravos que sofreu como resultado dessa história sórdida.
Claro, a Rede Globo não tem nada a ver com isso. Mas Daniel Filho na época era um dos seus executivos mais poderosos, e é a ele que se atribui o boato, embora a fonte de todos os jornais tenha sido Carlos Imperial, que à época também teve uma desavença com o ator por causa de um filme. O problema é que Imperial já morreu, Daniel não teria no seu cofrinho quantia tão alta quanto a que Mário Gomes agora pede e, portanto, resta a mommie dearest, que, aliás, nunca levou em conta a infâmia assacada contra o ator e ao longo dos anos, até que ele se mudasse para a Record, continuou a usar os seus serviços. Tanto que até voltou a escalar Betty e Mário para trabalhar juntos em “Lili Carabina”, escrito por um certo autor sexy, gostosão, lindo e de cabelos ultra prateados (os dois aparecem em cena aí embaixo).
Não sei, mas tenho a impressão de que Mário Gomes - sejam quais forem seus advogados e mentores - está sendo mal aconselhado. Vejo nessa história as pegadas de alguém interessado em validar outra versão maledicente – a de que a Rede Globo é uma central de boatos. E se for por causa disso que a história da cenoura volta ao noticiário tanto tempo depois, não tenho dúvidas: Por mais injusto que isso pareça, Mário Gomes está a ser vítima de outro (des) fato.
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