Presidente critica tanto ''demonização'' do Irã quanto a negação do Holocausto e a ameaça à existência de Israel
Denise Chrispim Marin
Cinco dias antes de desembarcar em Israel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e o regime dos aiatolás não podem ser comparados a Adolf Hitler e ao nazismo. Mas Ahmadinejad também não pode pregar a eliminação de Israel e negar o Holocausto. A receita para o diálogo foi publicada na edição de ontem do jornal israelense Haaretz.
Na entrevista, Lula defendeu ainda a inclusão de novos mediadores para a solução do conflito entre israelenses e palestinos, com acesso irrestrito a todas as outras partes envolvidas na questão, como Síria e Irã.
A entrevista foi concedida no dia 9 a três meios de comunicação: os jornais Haaretz e The Maker e a Agência de Notícias Brasil-Árabe. Intitulada "O Profeta do Diálogo", a reportagem do Haaretz adotou um tom elogioso. Diz que Lula é o "mais popular chefe de Estado da história do país" e o apresenta como um político que atrai "consenso universal" no Brasil.
"Qualquer um que compare Ahmadinejad e o Irã atual a Hitler e ao nazismo está fazendo o mesmo tipo de radicalismo que o Irã é acusado de fazer. Qualquer um que siga essa linha não está contribuindo, no final das contas, com o processo de paz que nós queremos criar para o futuro", afirmou. "Não se pode fazer política com ódio e ressentimento", completou Lula.
O presidente foi cauteloso ao abordar as acusações frequentes de Ahmadinejad contra Israel. Lula relatou que, em novembro, quando recebeu o iraniano em Brasília, o aconselhou a parar com as declarações de que Israel tem de ser eliminado do mapa e o Holocausto dos judeus pelo regime nazista não existiu.
"Eu falei com o presidente do Irã e deixei claro que ele não pode sair falando que quer liquidar Israel, assim como não pode negar o Holocausto, que é um legado para toda a humanidade", contou Lula.
A reportagem reitera que Lula visitará Israel, territórios palestinos e Jordânia, entre segunda e quinta-feira, e dentro de dois meses viajará para Teerã. Ao ser questionado sobre o roteiro, Lula disse estar convencido de que há uma relação direta entre o avanço no processo de paz e seu plano de visitar o Irã.
"POSIÇÃO DE PRINCÍPIOS"
Essa argumentação reforça a posição de Lula como mediador extraoficial na região. "O conflito no Oriente Médio não é bilateral e não pertence apenas a Israel e aos palestinos. Há outros interesses no Oriente Médio, que devem estar representados", afirmou. "O Irã é parte disso tudo e, portanto, precisamos falar com eles."
Ainda segundo o Haaretz, Lula defendeu a entrada de novos atores no processo de paz. Oportunamente, também se apresentou como um líder com desenvoltura para conversar com os chefes de Estado dos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e com os envolvidos diretamente nos conflitos do Oriente Médio.
O principal objetivo do giro de Lula não seria necessariamente relançar o processo de paz, afirma Reginaldo Nasser, da PUC-SP. "Ao visitar Tel-Aviv e Ramallah, Lula busca credibilidade internacional e destacar que o Brasil ocupa agora um novo patamar no cenário internacional", afirmou Nasser ao Estado.
Nesse sentido, Lula não levará a israelenses e palestinos um plano concreto de ação para retomar o diálogo, mas "uma posição de princípios", completa o professor de relações internacionais da Unesp Tullo Vigevani. "O Brasil quer ajudar e não busca uma posição absolutamente central no processo."
COLABOROU ROBERTO SIMON
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