Presidente imprime foco eleitoral em reunião de equipe e diz que se empenhará por disputa plebiscitária
Vera Rosa
BRASÍLIA
Na primeira reunião ministerial do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom da disputa entre o PT e o PSDB e partiu para o ataque. Após dias seguidos de troca de insultos entre os dois partidos, Lula chamou ontem o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), de "babaca", disse que ele está "desconectado da realidade", só fala "bobagem" e não conhece o Brasil.
A reação de Lula, de acordo com relato de ministros, foi uma resposta às alfinetadas de Guerra ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto. Em nota divulgada na quarta-feira, Guerra acusou Dilma de "mentir, omitir, esconder-se, dissimular e transferir responsabilidades". Antes, em entrevista à revista Veja, o tucano afirmou que o PAC é uma ficção e definiu Lula como "o último presidente a fazer política com as mãos sujas".
Ao encerrar a reunião ministerial, na Granja do Torto, Lula disse que Guerra não conhece o Brasil e muito menos o Estado dele, Pernambuco. "O Sérgio Guerra é um babaca e está desconectado da realidade. Se saísse de casa e andasse em Pernambuco, veria as obras do PAC", insistiu. Foi além: afirmou que o tucano está isolado no PSDB e a oposição, sem discurso. "Eu sei o que é disputar eleição sem discurso", observou, ao lembrar suas campanhas de 1994 e 1998.
O presidente avisou à equipe que vai se empenhar por uma disputa "plebiscitária" com o PSDB, que tem como pré-candidato o governador de São Paulo, José Serra. "Quero fazer a campanha do quem sou eu e quem és tu", comentou, numa referência ao confronto de projetos entre as administrações do PT e do PSDB. Em meio a críticas ao tucanato, Lula dirigiu mais uma farpa ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: disse que vai lançar a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em março, para que seu sucessor não passe dificuldades como ele, em 2003.
"Não quero que meu sucessor encontre a situação que encontrei quando assumi a Presidência, em 2003: não tinha Orçamento para investir nem projeto pronto", afirmou ele, segundo o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha.
TERCEIRIZAÇÃO
Apesar da artilharia apontada para os tucanos, Lula pediu aos ministros que fujam da linha de tiro. Deixou claro, porém, que todos devem ter na ponta da língua números e obras do governo para a contraofensiva.
Agora, a estratégia do comando da campanha petista será terceirizar o bombardeio contra Serra, Fernando Henrique e o PSDB, blindando a candidata, que na terça-feira entrou no bate-boca durante inauguração transformada em comício, no Vale do Jequitinhonha. Em nota lançada ontem, os dois presidentes do PT - o atual, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o eleito, José Eduardo Dutra - chamaram Guerra de "jagunço da política" e Serra de "hipócrita".
"A Dilma é da paz. A guerra está lá no PSDB", alfinetou Padilha, fazendo um trocadilho com o sobrenome do chefe dos tucanos. "O presidente Lula orientou os ministros a não entrar em jogo rasteiro na campanha. Temos condições de fazer um debate de alto nível."
A eleição de outubro consumiu boa parte da reunião, que durou cinco horas. Disposto a tratar da campanha, o presidente disse que Serra está em situação complicada, mas avaliou que, se ele desistir, passará a imagem de medroso.
Lula reiterou que quer ver o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) disputando o governo de São Paulo, com o apoio do PT. Disse que a base aliada precisa estar unida na corrida ao Planalto. "Vou conversar com Ciro".
O presidente garantiu que Dilma, gerente do PAC, ficará no cargo até o último dia permitido pela Lei Eleitoral, 3 de abril, e sugeriu a todos os ministros-candidatos que façam o mesmo. "Se alguém tiver dúvida, não deve falar comigo, porque vou convencer quem me procurar a não deixar o governo", brincou ele, ao contar que fez o ministro do Esporte, Orlando Silva (PC do B), desistir de se candidatar a deputado.
FRASES
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente
"O Sérgio Guerra é um babaca e está desconectado da realidade. Se saísse de casa e andasse em Pernambuco, veria as obras do PAC"
"Quero fazer a campanha do quem sou eu e quem és tu"
"Não quero que meu sucessor encontre a situação que eu encontrei em 2003: não tinha Orçamento
nem projeto"
Sulamérica Trânsito
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