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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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terça-feira, 20 de outubro de 2009 | 20:26

O vice-presidente Eric Trappier e os Rafale

O vice-presidente Eric Trappier e os Rafale

Em breve, o governo irá anunciar a maior despesa da história militar do país, a compra de 36 aviões de combate para Força Aérea Brasileira (FAB). A escolha passa primeiro por uma avaliação técnica do Ministério da Defesa. Questão apenas protocolar. Isso porque Lula, quem decide, já manifestou sua preferência. Entre os 3 caças, o americano F-18 Super Hornet, o sueco Gripen NG e o francês Rafale, o presidente quer o último. O mais caro. Quem pagará a conta são os contribuintes. Eles não sabem quanto nem a fabricante Dassault está disposta a dizer.

A bordo do barco fluvial Talismã, no rio Sena, próximo do gramado onde Santos Dumont fez decolar o 14 Bis, Eric Trappier, vice-presidente da Dassault Aviation, fez o possível para contornar a pergunta de Veja.com: “Quanto o Rafale irá custar aos brasileiros?” Em um primeiro instante, Trappier justificou sua posição alegando o respeito às regras da licitação. Diante da quarta insistência, deixou escapar: “Não vou dizer o nosso preço para depois o fabricante de um avião que só existe no papel melhorar a oferta.”O francês refere-se a quem ele considera o seu maior concorrente, a sueca Saab que fabrica o Gripen NG.

No mês passado, surpresos com o anúncio do resultado antes da data - ela já foi adiada 9 vezes - os suecos constrangeram Lula e os franceses. Propuseram vender dois de seus caças pelo preço de um só. A oferta deixou a direção Dassault no desconforto. Até então os franceses saboreavam o apoio que Trappier admite nunca ter recebido - “Nos tocou profundamente” - em concorrência nas quais o Rafale enfrentou pelo mundo afora. E diga-se de passagem, perdeu todas. A Dassault baixou o preço inicial da sua proposta. Agora, garante que a hora de vôo do Rafale custará para a FAB exatamente o mesmo que seus velhos caças Mirage 2000. Quer dizer, 14.000 dólares.

Estima-se que o pacote francês irá custar em torno de 5,5 bilhões de dólares - um terço do custo previsto das obras do Rio 2016. A vantagem que chega com o Rafale é a promessa de transferência de tecnologias criticas da Dassault para indústrias aeronáuticas nacionais, centros de pesquisa e universidades. Ela envolve a entrega do código fonte do caça, a formação inicial e treinamentos. Também o pacote de dados da aeronave, dos sistemas , os métodos de concepção e desenvolvimento, o know how. A principal beneficiaria será a Embraer da qual a Dassault tem 0,9% das ações.

A francesa Snecma que produz turbinas de propulsão aeroespacial, responsável pelo motor M88 do Rafale, discarta a transferência de tecnologia ao Brasil, A cooperação se restringe a manutentção. Há menos países que produzem turbinas de aviões militares no mundo que os que tem bomba atomica. A partir de 2012, a Thales promete equipar o Rafale BR, a versão brasileira do caça bimotor supersonico, com radares de última geração, o sistema de varredura eletronica ativa, - AESA, na sigla em inglês. O radar proporciona alcance superior para detecção, rastreamento de alvos dentro e fora da aérea de busca, identificação do solo com alta resolução e permite voos em baixíssima altitude sobre terrenos não-mapeados. A empresa cuja Dassault acaba de comprar 25%, promete tansferir a tecnologia para a fabriacão da antena, a parte mais sensível do equipamento.

Se o contrato for assinado com a Dassault em 2010, a direção da empresa francesa - produz atualmente 11 Rafale por ano na sua fabrica de Mérignac com capacidade para o dobro - afirma que o primeiro avião de combate será entregue ao Brasil em 2013. Os 6 primeiros Rafale serão fabricados inteiramente na França. Os 30 seguintes poderão ser montados na Embraer - a partir de um kit de peças vindas da França - na unidade de Gavião Peixoto, próxima a Araraquara, interior de São Paulo. Os componentes de produçao nacional - a Dassault afirma que eles poderão totalizar 50% do caça - serão integrados de acordo com evolução das parcerias com empresas brasileiras. Já foram formalizados 67 projetos de compensação (offests) - diferença de tensão entre a entrada e saída de componentes eletrônicos - com 38 empresas. Prevê-se a criação de mil empregos diretos e dois mil indiretos durante 10 anos.

O fabricante do Rafale é controlado por uma empresa familiar. Os Dassault cujo patriarca é o senador Serge, amigo do presidente Nicolas Sarkozy, dono do jornal Le Figaro, de vinhedos na região de Bordeaux, de uma fabrica de carros elétricos, e da Artcurial, uma casa de leilões de objetos de arte. Em 2008 a Dassault Aviation teve um lucro de 373 milhões de euros vendendo, sobretudo, seus luxuosos jatos executivos com capacidade de 14 a 19 passageiros, a linha Falcon - fazem questão de evidenciar que não são concorrentes da Embraer, mas não gostam de lembrar que um dos seus melhres clientes é Hugo Chavez.

A crise financeira mundial fará a rentabilidade da Dassault cair para 289 milhões de euros este ano. A empresa aposta na recuperação aumentando suas vendas de aviões militares. A França, o único compador do Rafale, tem uma encomenda de 294 aeronaves para serem entregues até 2022 - 60 deles com trem de pouso reforçado para oprear nos porta-aviões seram destinados a Marinha e 234 para Força Aérea. A Dassault já entregou 75 entre os quais 2 unidades que chocaram-se sob o Mar Mediterrâneo. Os dois aviões foram encontrados. Um deles, o piloto conseguiu se ejetar e foi salvo. O segundo avião foi encontrado no fundo do mar com o piloto preso dentro do cockpit. A empresa afirma que houve erro humano.

Atualização: Luis Inácio Lula da Silva reafirmou sua preferência “política” pelo Rafale ao presidente da Assembleia Nacional da França, Bernard Accoyer, em vista ao Brasil. As manifestações de Lula antes do anúncio da licitação, o que caracteriza jogo de cartas marcadas, dá margem aos concorrentes americanos e suecos moverem ação contra o Brasil na Organização Mundial do Comércio.

Por Antonio Ribeiro



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