Ai, ai… Ô vida dura!
Nesta madrugada, publiquei um texto sobre aquele manifesto das pessoas que se dizem contrárias à anistia para torturadores. É aquele, vocês sabem, encabeçado pelo sambista Chico Buarque, pela petista disfarçada de petista Marilena Chaui e pelo maior subscritor de abaixo-assinados da história do Ocidente, Antonio Candido. Essa compulsão já começa a ser chamada, nos círculos psiquiátricos, de “candidíase moral”: se o sujeito passa um dia sem assinar uma petição contra “a direita” e “os conservadores”, é acometido de delirium tremens, sudorese e incontinência ética. Um verdadeiro horror! O texto está no post das 5h15. Sigo adiante.
Fiz cá uma confusão e acabei publicando a primeira versão do texto, em vez de publicar a segunda, que tinha outra abertura. Recupero agora. Todos os absurdos e vigarices intelectuais que apontei no tal manifesto são pequenas perto das, acredito, duas linhas mais asquerosas jamais escritas num manifesto, mesmo de esquerdistas. Leiam isto:
Não à anistia para os torturadores, seqüestradores e assassinos dos opositores à ditadura militar.
Não! Não cometi nenhum erro de transcrição. Eles são contra a anistia para os torturadores, seqüestradores e assassinos DOS OPOSITORES À DITADURA MILITAR. Já os torturadores, seqüestradores e assassinos de inimigos da esquerda, bem, esses mereciam, naturalmente, a anistia.
Entenderam o parâmetro moral desses caras? Os assassinos que compunham a Vanguarda Popular Revolucionária, por exemplo, o grupo a que pertencia Dilma Rousseff, mereciam a anistia porque estavam cometendo um crime “político ou conexo”. Sempre que um esquerdista mata alguém está fazendo política, conforme nos ensina Tarso Genro em seu arrazoado sobre Cesare Battisti. Já um direitista ou “agente do regime”, se mata alguém de esquerda, está cometendo um crime de lesa humanidade.
Para esses humanistas, existem o bom e o mau assassinatos: mata-se legitimamente, em nome de uma causa, quando quem tomba é o adversário. E se comete um crime imprescritível apenas quando morre um esquerdista.
Houvesse um resquício de decência na cambada, e se escreveria: “Não à anistia para os torturadores, seqüestradores e assassinos.” Ponto! Mas isso, naturalmente, faria com que boa parte da cúpula do governo Lula deixasse as benesses do poder para ir parar no banco dos réus.
“Candidíase”, sabem, é também o nome de uma doença fúngica, que pode ser tratada com cetoconazol. Mas não há remédio para a candidíase moral. Ela é incurável. Contra a candidíase moral, o único remédio é a vigilância permanente e a disposição de jamais ceder.
O manifesto, em suma, deixa claro que, para seus subscritores, é a vítima que torna um determinado ato criminoso ou não. Cézar Britto, presidente da OAB, deve concordar.
Sulamérica Trânsito
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