07/09/2009
Folha
Em mais uma evidência de desapreço à Viúva, veneranda e indefesa senhora, a Câmara decidiu fazer vistas grossas ao absenteísmo.
Desde fevereiro de 2007, quando a atual legislatura começou a “trabalhar”, a Mesa diretora da Câmara perdoou 85% das faltas dos deputados.
Deve-se a descoberta aos repórteres Ranier Bragon e Maria Clara Cabral. Notícia produzida pela dupla foi pendurada na manchete da Folha.
Perscrutando dados oficiais, a dupla descobriu que o pico de faltas ocorre em dias emendados a feriados e finais de semana e durante as festas regionais.
A principal justificativa para o abono das faltas é a de que os deputados encontravam-se em “missão oficial”.
Para que determinada “missão” seja acolhida como “oficial” basta que o líder da bancada a que pertence o faltoso expeça um pedido de abono.
A declaração do líder vai à Mesa, que digere sem maiores questionamentos a informação de que o deputado cumpriu tarefa partidária ou legislativa.
O abono da falta, além de conspurcar a estatística, produz efeitos monetários. Cada dia de falta deveria resultar em desconto de R$ 850 no contracheque.
Beneficiados com a indulgência da Mesa companheira, a maioria dos faltosos conserva intactos os vencimentos do mês: R$ 16,5 mil.
No ranking dos ausentes, o deputado e presidenciável Ciro Gomes (PSB-CE) ocupa a quarta posição. Faltou a 42% dos dias de votação.
Ciro invoca em sua defesa uma paralisia facial que o asfatou da Câmara por dois meses, em 2008. E quanto aos outros dias?
Diz ter atendido a compromissos nos Estados. Atribui ao fato de ser um dos principais nomes do PSB a atribulação da agenda externa.
"O problema é a multiplicidade de atividades. Mas eu estava em todas as votações importantes...”
“...E, pelo telefone, sempre participei de todos os encaminhamentos [da bancada], pela posição de liderança que tenho no partido".
Campeão de faltas, o deputado Alberto Silva (PMDB-PI), que tem 90 anos, diz que, por recomendação médica, fica em casa. De onde, ele jura, continua trabalhando.
Segundo colocado, o deputado Carlos Wilson (PT-PE) faltou a 52% das sessões deliberativas. O motivo lhe custou a vida. Morreu de câncer há cinco meses.
Terceira do ranking, Nice Lobão (DEM-MA), mulher do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), acumula 143 ausências. Problemas na coluna, diz ela.
Enio Bacci (PDT-RS), 119 faltas, invoca razões de segurança. Ex-secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, diz ter sofrido ameaças.
Alega que, nos dois primeiros anos de mandato, seguiu a recomendação de mão se expor publicamente.
Miguel Martini (PHS-MG), 110 faltas, diz: "Tive licença o ano passado e agora estou com acompanhamento médico, de qualquer forma sempre tento participar dos assuntos que me interessam."
Líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), outro faltoso contumaz, alega:
"Quando somos líderes não temos a obrigatoriedade de participar de todas as sessões, tenho seis vice-líderes de plenário. Participo de reunião do Conselho Político, de reuniões com ministros. A minha atuação é muito mais ampla."
Vadão Gomes (PP-SP) e Jader Barbalho (PMDB-PA), que também compõem a lista dos gazeteiros, preferiram não oferecer explicações aos repórteres.
Escrito por Josias de SouzaFale com o Ministério
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