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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ultimatum - Fernando Pessoa


F E R N A N D O P E S S O A

Ultimatum

Capa de Ultimatum
Capa do Portugal Futurista Nº1 (único)


Original de Ultimatum
Publicação original de Ultimatum

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!
Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!
Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
Fora! Fora!
Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!
Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!
Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora! Fora!
Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Pathmos» (solo de trombone)!
E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu Loti, sopa salgada fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!
Fora com isso tudo! Fora!
¡Mandado de despejo a los mandarines de Europa! Fuera.
¡Fuera tú, Anatole-France, Epicuro de farmacopea-homeopática, ténia-Jaurès del Ancien-Régime(*), ensalada de Renan-Flaubert en loza del siglo diecisiete, falsificada!
¡Fuera tú, Maurice-Barrès, feminista de la Acción, Chateaubriand de paredes desnudas, proxeneta de palco de la patria de póster, moho de Lorena, alfayate de los muertos de los otros, vistiendo su comercio!
¡Fuera tú, Bourget de las almas, candelero de las partículas ajenas, psicólogo de tapa de blasón, ordinario snob plebeyo, subrayando con regla partida los mandamientos de la ley de la Iglesia!
¡Fuera tú, mercadería Kipling, hombre-práctico del verso imperialista de las herrumbres, épico para Majuba y Colenso, Empire-Day del malhablar de los uniformes, tramp-steamer de la baja inmortalidad!
¡Fuera! ¡Fuera!
Fuera tú, George-Bernard-Shaw, vegetariano de la paradoja, charlatán de la sinceridad, tumor frio del ibseninsmo, arreglador de la intelectualidad inesperada, Killkenny-Cat de tí mismo, Irish-Melody calvinista con letra del Origen-de-las-Especies!
¡Fuera tú, H. G. Wells, ideático de yeso, sacacorchos de cartón para la botella de la Complejidad!
¡Fuera tú, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveza al pie del altar, adiposidad de la dialéctica cockney con el horror al jabón influyendo en la limpieza de los raciocinios!
¡Fuera tú, Yeats de la celta-bruma a la rueda de postres sin indicaciones, bolsa de basura que vino a la playa del naufragio del simbolismo inglés!
¡Fuera! ¡Fuera!
¡Fuera tú, Rapagnetta-Annunzio, banalidad en caracteres griegos, «Don Juan en Pathmos» (solo de trombón)!
¡Y tú, Maeterlinck, fogón del Misterio apagado!
¡Y tú Loti, sopa salada fría!
¡Y finalmente tú, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
¡Fuera! ¡Fuera! ¡Fuera!
¡Y si hubieran otros que falten, búsquenmelos por ahí para un canto!
¡Saquen todo eso de mi vista!
¡Fuera con todo eso! ¡Fuera!

Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!
E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?
E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem isso tudo da minha frente!
Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Senão querem sair, fiquem e lavem-se.

¡Ay! ¿¡Qué haces tú en la celebridad, Guillermo Segundo de Alemania, zurdo manco del brazo izquierdo, Bismarck si tapa estorbando el brillo!?
¿¡Quién eres tú, tú de la melena socialista, David Lloyd George, bufón de gorro frigio hecho de Union Jacks?!
¿Y tú, Venizelos, migaja de Pericles con manteca, caida en el suelo con la manteca para abajo?
Y tú, cualquier otro, todos los otros, mazamorra Briand Dato. Boselli de la incompetencia ante los todos actos de los estadistas pan-de-guerra que datan de mucho antes de la guerra! ¡Todos! ¡todos! ¡todos! Basura, inmundicia, asquerosidad provincianda, sinverguenzario intelectual!
¡Y todos los jefes de estado, incompetentes al descubierto, barriles de basura dados vuelta a la puerta de la Insuficiencia de la Época!
¡Saquen todo eso de mi vista!
¡Junten atados de paja y póngannos fingiendo gente que sea otra!
¡Todo de aquí para afuera! ¡Todo de aquí para afuera!
¡Ultimatum a todos ellos, y a todos los otros que sean como todos ellos!
Si no quieren salir, quédense y lávense.

Falência geral de tudo por causa de todos!
Falência geral de todos por causa de tudo!
Falência dos povos e dos destinos — falência total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!
(It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!
Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!
Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas!
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!

¡Falencia general de todo por causa de todos!
¡Falencia general de todos por causa de todo!
¡Falencia de los pueblos y de los destinos — falencia total!
¡Desfile de las naciones hacia mi Desprecio!
¡Tú, ambición italiana, can de cuello llamado Cesar!
¡Tú, «esfuerzo francés», gallo despeinado con la piel pintada de penas! (¡No le den mucha cuerda sino se rompe!)
¡Tú, organización británica, con Kitchener en el fondo del mar mismo desde el principio de la guerra!
(It's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
¡Tú, cultura alemana, Esparta podrida con aceite de cristismo y vinagre de nietzschización, colmena de pérgola, transbordo imperialoide de servilismo engrampado!
¡Tú, Áustria-súdbita, mezcla de subrazas, batiente de puerta tipo K!
¡Tú, Von Bélgica, heroica por la fuerza, limpia la mano en la pared que fuiste!
¡Tú, esclavidad rusa, Europa de malayos, liberación de resorte desoprimido porque se partió!
¡Tú, «imperialismo» español, salero en política, con toreros de sanbenito en las almas al volver de la esquina y cualidades guerrera enterradas en Marruecos!
¡Tú, Estados Unidos de América, síntesis-bastarda de la baja-Europa, ajo de mazamorra transatlántica nasal del modernismo inestético!
¡Y tú, Portugal-centavos, resto de la Monarquía pudiendo República, extremaunción-sucia de la Desgracia, colaboración artificial en la guerra con vergüenzas naturales en África!
¡Y tú, Brasil, «república hermana», chiste de Pedro Álvares Cabral, que ni te quería descubrir!
¡Pónganme un paño por encima de todo eso!
¡Ciérrenme eso con llave y dejen la llave fuera!
¿Dónde están los antiguos, las fuerzas, los hombres, los guías, los guardias?
¡Van a los cementerios, que hoy son sólo nombres en las lápidas!
¡Ahora la filosofía es el haber muerto Fouilée!
¡Ahora el arte es el haber quedado Rodin!
¡Ahora la literatura es lo que Barrès siginifica!
¡Ahora la crítica es que haya bestias que no llaman bestia a Bourget!
¡Ahora la política es la degeneración obesa de la organización de la incompentencia!
¡Ahora la religión es el catolicismo militante de los taberneros de la fe, el entusiasmo cocina-francesa de los Maurras de razón-descascarada, y la espectacularidad de los pragmatistas cristianos, de los intuicionistas católicos, de los ritualistas nirvánicos, mendigadores de anuncios para Dios!
¡Ahora es la guerra, juego de empujar del lado de acá y juego de puerta(**) del lado de allá!
¡Sofoco de tener sólo esto a mi vuelta!
¡Déjenme respirar!
¡Abran todas las ventanas!
¡Abran más ventanas que todas las ventanas que hay en el mundo!

(***)

(***)
Portugal Futurista, pp. 30-34
Álvaro de Campos
Novembro de 1917

(*) N.d.T: Sistema de gobierno que rigió en Francia antes de la Revolución de 1789.
(**) N.d.T: Evitar perder la primera mano en el juego del monte.
(***) No original que fica na cabeceira do texto pode-se enxergar que logo destas três estrofes ainda há outras três. O texto que reproduzo é um 70% do original, eu não conheço o que falta, fora de alguma citação encontrada na rede como é "Só tem direito ou o dever de exprimir o que sente, em arte, o indivíduo que sente por vários".
En el original que está en la cabecera del texto puede verse que después de estas tres estrofras aún restan tres más. El texto aquí reproducido es un 70% del original, yo no conozco lo que falta con excepción de alguna cita dispersa como por ejemplo "Sólo tiene derecho o deber de exprimir lo que siente, en arte, el individuo que siente por varios".











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