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domingo, 13 de julho de 2008

Rio: poder de voto do crime organizado avança com as milícias

Paula Máiran e Renata Victal, JB Online

RIO - Dos 4,5 milhões de eleitores do município do Rio, 11% – ou cerca de 500 mil pessoas – vivem em territórios dominados pelo tráfico ou pelas milícias e formam os chamados currais eleitorais. Em mais de 600 favelas, os grupos criminosos impedem o livre trânsito de candidatos a prefeito e vereadores e ainda impõem seus próprios candidatos aos moradores, sob a ameaça de suas armas.

Os números dos votos de cabresto impressionam: quase um terço do que foi necessário para manter Cesar Maia, em 2004, no Palácio da Cidade (1,7 milhão de votos); eleger pelo menos 25 dos 50 vereadores da cidade, com 20 mil votos para cada; ou, num cálculo mais apertado, até toda a Câmara.

A situação é tão grave que o TRE já convocou a Polícia Federal para garantir a liberdade aos candidatos e eleitores.

O tráfico de drogas ainda controla a maioria das favelas do Rio, mas a milícia avança e pelo menos 100 dessas comunidades – a maior parte nas zonas Oeste e Norte – vivem sob seu jugo, segundo levantamento recente da Secretaria de Segurança Pública do Estado.

Nas áreas de milícias, apenas os candidatos apoiados pelos bandos dominantes podem espalhar propaganda eleitoral e panfletar por ruas, vielas e praças. Aos demais, a entrada nas comunidades é impedida ou cerceada.

Na Zona Oeste, em lugares como a favela Carobinha, em Paciência, um vereador apoiado pelo deputado estadual Jorge Babu (PT) é o único que ousa pregar cartazes sem permissão prévia. Mas basta a sua equipe deixar a favela para que homens da milícia auto-intitulada Liga da Justiça arranquem tudo.

Segundo denúncia encaminhada ao coordenador de fiscalização de propaganda do TRE, na Carobinha a vereadora Carminha Jerominho, ou Batgirl (PMDB), é imposta aos moradores sob a alegação de que milicianos têm acesso ao voto pessoal de cada eleitor. Batgirl é filha e sucessora política do vereador Jerominho (PMDB), preso sob a acusação de comandar milícias na Zona Oeste – entre elas a Carobinha.

No Complexo do Alemão, integrado por 12 comunidades na Penha, Ramos e Inhaúma, quem manda é o tráfico. Lá, segundo moradores que pedem anonimato, somente o vereador Jorginho da SOS (DEM) pode atuar.

Tanto nos domínios das milícias quanto nos do tráfico, candidatos só conseguem entrar com aprovação prévia.

Na quarta-feira, Eduardo Paes (PMDB), por exemplo, panfletava na Pavuna quando, segundo um líder comunitário do Complexo da Penha, telefonou para um candidato local, de partido adversário, para pedir autorização para um corpo-a-corpo nas favelas do complexo - 10 ao todo, com 180 mil moradores. O pedido não foi concedido. Paes não retornou às ligações do JB.

Candidatos admitem o cerceamento. Fernando Gabeira (PV-PSDB-PPS) revela que já foi informado de que terá dificuldades para circular na Zona Oeste em sua campanha para prefeito.

– Existe dificuldade em entrar nas áreas controladas pelas milícias – admite.

– Não negocio com eles. Ainda não tive problemas porque não fui lá, mas sei que vou ter.

Alessandro Molon, do PT, concorda com o adversário:

– Esse controle é criminoso, fere a soberania estadual. Repudio a hipótese de ter de pedir autorização para entrar em qualquer lugar.

Nas urnas

A interferência de traficantes e milicianos no resultado das urnas já foi constatada pelo cientista político da PUC Ricardo Ismael.

Segundo ele, no último pleito, grupos de milicianos deram as cartas e conseguiram eleger representantes estaduais e federais.

– Apesar de o voto não ser distrital, a gente tem um recorte por áreas da cidade – explica Ismael.

– Um grande problema é que o tráfico ou a milícia apoiam alguns candidatos. Isso já aconteceu em 2006 com deputados estaduais e federais.

O pesquisador esclarece que a solução passa pelo reforço na fiscalização da Justiça Eleitoral.

– É preciso fiscalizar para evitar que os grupos imponham seus candidatos e garantir o direito de ir e vir de todos – afirma.

–Mas sei que não dá para garantir segurança aos fiscais em áreas conflagradas e isso facilita os currais eleitorais. O ideal seria que os eleitores pudessem votar livremente.

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