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sábado, 21 de junho de 2008

Um temido predador decide se mudar para o subúrbio


20/06 - 12:03 - The New York Times

WEST GREENWICH, R.I. – No verão passado, Kerry Beaudry ouviu latidos do seu pastor alemão, Holly, e saiu para investigar. O que ela encontrou, até hoje lhe dá calafrios. Uma criatura pequena e asquerosa estava em cima de Holly, cravando suas garras na nuca do animal e mordendo seu focinho.

“Nunca tinha visto nada igual”, lembra Beaudry. “Eu não sabia o que era aquilo. Parecia um pouco com uma raposa. Mas era muito, muito parecido com um rato e tinha caninos e garras. Era horripilante, mas não tão grande”.

O animal era uma fuinha, predador parecido com a doninha. A fuinha vive nas matas, foi salva da extinção na região nordeste e centro-oeste dos Estados Unidos, e acabou migrando para os quintais dos subúrbios.

O pequeno e sagaz animal cultiva uma reputação de matador feroz de pequenos animais domésticos, incluindo gatos e galinhas, deixando os donos de animais bem inquietos. Holly escapou quando o marido de Beaudry bateu na fuinha com uma vassoura.

Ao mesmo tempo, a habilidade da fuinha de adaptar-se rapidamente a habitats não-nativos impressiona os biólogos, que o vêem como sucesso de preservação. Estatísticas populacionais são difíceis de obter porque os animais não são encontrados facilmente e estudos em larga escala ainda não foram feitos. Mas os biólogos afirmam que a contagem de animais mortos na estrada e a presença da fuinha em novos territórios claramente indicam um número em expansão.

“Há dez, quinze anos, biólogos disseram que fuinhas só viviam em áreas de grandes florestas, como Adirondacks, e hoje você as encontra em terras agrícolas e subúrbios, disse Gordon Batcheller, biólogo que estuda a vida selvagem do Departamento de Conservação Ambiental do Estado de Nova York.

Fuinhas robustas, com caudas densas e olhos pequenos e brilhantes, pesam entre 2 e 7 quilos e vivem na terra e nas árvores. São basicamente carnívoras, geralmente comem roedores (esquilos, ratos) e outros animais, além de nozes e sementes. As fuinhas também são alguns dos poucos inimigos do porco-espinho, matando-o ao atacar seu focinho e virar o animal de costas.

“Fuinhas são muito cruéis”, afirmou Michelle Johnson, responsável pelo controle do animal em West Greenwich.

As fuinhas pertencem à família dos mustelídeos, que inclui doninhas, lontras e carcajus. Elas têm o temperamento agressivo e carnívoro dos carcajus e podem subir em árvores como as martas. Assim como as doninhas, as fuinhas podem matar vários animais ao mesmo tempo em um espaço confinado. As fuinhas são noturnas e não são facilmente encontradas.

Os humanos têm sido o maior inimigo das fuinhas, à medida que a devastação florestal e a procura pelo couro do animal quase as levaram à extinção no começo do século vinte.

“As fuinhas foram eliminadas em muitas áreas”, disse Dr. Trina Moruzzi, bióloga que estuda a vida selvagem no Departamento de Pesca e Caça de Massachusetts. “Já não se encontravam mais fuinhas nesta região”.

Muitos estados do leste e do meio-oeste dos Estados Unidos começaram a reintroduzir fuinhas no século passado para ajudar a reduzir a população de porco-espinho, que estavam atacando as árvores. Vermont foi o primeiro estado a trazer de volta as fuinhas, soltando 125 animais nos anos de 1950. Vinte anos mais tarde, a espécie estava crescendo.

O que os biólogos não sabiam é que as fuinhas não estavam apenas florescendo, mais se espalhando. As fuinhas de Vermont conseguiram chegar a New Hampshire e a região centro-norte de Massachustees, que tinha ampla floresta natural, além de árvores plantadas para o desenvolvimento de subúrbios. Mais recentemente, as fuinhas foram introduzidas em Michigan e na Pensilvânia.

À medida que a população se espalhou, também se espalhou a variedade. Fuinhas-macho são extremamente territoriais e se movem para outro lugar quando outro macho chega. Fuinhas-fêmea tendem a coincidir umas com as outras, disse Moruzzi. Os machos entram no território da fêmea para acasalamento a cada primavera e depois vão embora e ficam sozinhos por um ano.

“Há tantos territórios que podem ser ocupados”, disse Moruzzi. “Foi assim que as fuinhas entraram em tantas áreas novas”.Mais recentemente, essas áreas passaram a incluir Cape Cod, onde uma fuinha foi identificada este ano em Sandwich. Outras foram encontradas em áreas mais a leste, como Chatham. Cientistas teorizam que elas tenham nadado através do Canal Cape Cod ou corrido por uma ponte. Fuinhas também foram avistadas em Brookline, Massachusetts, nos arredores de Boston.

As fuinhas de Vermont viajaram para o sul, chegando a Rhode Island e à costa de Connecticut, confundindo habitantes que não conseguem identificar a criatura em seu quintal. Rhode Island começou a documentar mortes de fuinhas nas estradas em 1999 no norte do estado. Este ano, uma fuinha foi encontrada em South Kingston, no litoral.

No ano passado, disse Dr. Lori Gibson, bióloga que estuda a vida selvagem na Divisão de Peixes e Vida Selvagem de Rhode Island, o estado recebeu 43 reclamações sobre fuinhas. A maioria envolveu ataques de fuinhas a animais domésticos.

Funcionários para a Vida Selvagem de Connecticut, Massachusetts, Nova York e Rhode Island estão tentando educar donos de animais sobre as fuinhas e fazendo um apelo para que os donos mantenham gatos dentro de casa e galinhas em gaiolas seguras.

Lorraine Blake, que administra uma fazenda em Norton, Massachusetts, disse que uma fuinha matou três das suas cinco galinhas no ano passado. Blake disse que a fuinha decapitou uma galinha pelo fio ao redor do galinheiro. No dia seguinte, ela invadiu o galinheiro e matou mais duas galinhas.

“Eu nunca me preocupei com fuinhas”, disse Blake. “Não vi mais a fuinha depois do ocorrido. É como se a vagabunda soubesse que agora estou tentando pegá-la”.

No subúrbio de Lexington, Massachusetts, oficiais afixaram cartazes na área comum de um complexo de condomínios apelando para que os moradores mantenham gatos e pequenos cachorros dentro de casa porque uma fuinha foi vista na mata ali perto. Em Northborough, Massachusetts, oficiais colocaram avisos em jornais pedindo que os moradores vedem todas as latas de lixo e evitem colocar comida no chão para os animais.

“Elas acham nossas casas tão atrativas, porque nós oferecemos algumas coisas que elas adoram”, disse Gibson. “E aqui é New England. Temos paredes de pedra que atraem ratos. Então é um ambiente atrativo para elas. É meio irreal achar que podemos expulsá-las daqui”.

À medida que as fuinhas se tornam conhecidas nos subúrbios, os biólogos tentam assegurar às pessoas que elas raramente atacam humanos.

“Existe uma lenda que as fuinhas são predadores vorazes e que deveríamos tomar cuidado com as crianças e mantê-las longe desses animais”, disse Moruzzi. “Eu digo que elas são, sim, predadores vorazes, mas só se você for um esquilo ou um coelho”.

Uma fuinha infectada pela raiva tem mais tendência a perseguir humanos, segundo oficiais do centro de zoonose.

Lousie Scheuerman, de Scotia, Nova York, estava colocando o lixo para fora um dia em fevereiro quando uma fuinha pulou para fora de sua lata de lixo, seguiu-a até a garagem e atacou seu pé. Scheuerman se livrou da fuinha com um extintor de incêndio, correu para dentro de casa e chamou a polícia, que rastreou a fuinha na neve. Eles abateram o animal e confirmaram, através de testes, que ele estava contaminado pela raiva.

“Eles olharam as pegadas e disseram: ‘é uma fuinha’”, lembra Scheruerman. “E eu disse: ‘uma o quê?’”

Scheuerman sofreu danos ao nervo do pé e tomou uma série de vacinas anti-rábicas por cinco semanas.

Ela não saiu de casa por mais de duas semanas depois do ataque, acrescentando: “Fiquei com medo por um tempo. Ao que parece, em 200 anos em Nova York eu fui a segunda pessoa mordida por uma fuinha infectada pela raiva. Será que eu não podia ter ganhado na loteria? Seria tão mais interessante”.

Por KATIE ZEZIMA

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