Por AE
São Paulo - Uma dose oral diária de medicamentos antirretrovirais usados no tratamento da aids pode reduzir de forma eficaz a transmissão do vírus entre casais heterossexuais sorodiscordantes - em que apenas um deles tem o vírus HIV. É o que revelam dois novos estudos. Um deles é do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e o outro foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates e conduzido pela Universidade de Washington.O primeiro estudo, coordenado pelo CDC, envolveu mais de 1,2 mil homens e mulheres em Botswana, na África. Metade dos voluntários tomou doses diárias do medicamento Truvada e a outra metade recebeu placebo. Os resultados demonstraram que apenas quatro das pessoas que foram medicadas com o Truvada contraíram o vírus, comparado com 19 que receberam o placebo. Isso significa que o medicamento reduziu o risco de infecção em aproximadamente 78%.
O segundo estudo, da Universidade de Washington, foi feito no Quênia e em Uganda com 4,7 mil casais. Os parceiros não infectados pelo HIV foram alvo de três abordagens: um grupo recebeu doses de Truvada, outro tomou outro remédio (Viread) e o terceiro tomou placebo. Nesse caso, ocorreram 13 infecções pelo HIV entre os medicados com o Truvada, 18 entre os que tomaram o Viread e 47 entre os que ingeriram o placebo. Assim, os comprimidos reduziram o risco de infecção de 62% a 73%.
“São resultados animadores. Agora temos conclusões de dois estudos que mostram que a profilaxia pré-exposição pode ser usada por heterossexuais, que são a população mais atingida pelo HIV em todo o mundo”, afirmou Kevin Fenton, diretor do CDC. Pesquisas realizadas anteriormente com casais homossexuais também haviam demonstrado bons resultados no uso da profilaxia pré-exposição. Uma delas, que teve participação do Brasil, envolveu homens que faziam sexo com homens e concluiu que a proteção da infecção foi de 73%.
No Brasil, o Ministério da Saúde diz que os resultados dos dois estudos precisam ser analisados com cautela, antes de se tornarem efetivamente uma medida de saúde pública. Marcelo Araújo de Freitas, gerente da coordenação de cuidado e qualidade de vida do Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do ministério, diz que os dados são muito novos e que ainda não é possível extrapolar os resultados para a população.
Um dos pontos questionáveis, diz Freitas, é que os pesquisadores trabalharam com grupos que usaram o medicamento em ambiente controlado, de pesquisa. “Nesses casos, há um intenso trabalho para adesão ao uso do preservativo e os pacientes fazem exames a cada 30 dias. Como vamos transportar essa metodologia para a vida real?”, diz.
Freitas afirma também que o uso de remédios na prevenção do HIV pode causar a chamada desinibição sexual - que é uma falsa sensação de segurança. “As pessoas podem ter a ideia errônea de que o uso do remédio dispensará o uso do preservativo. Por enquanto, é uma medida temerária, que pode ter um impacto negativo”, avalia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
veja.abril.com.br
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