O plano era criar um “Novo Pão de Açúcar”, empresa resultante da fusão entre a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), que agrega lojas do Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem, e o Carrefour Brasil. A nova companhia poderia responder por 27% do mercado varejista formal no país ou 16% do total, incluindo os informais, segundo cálculo do BTG Pactual, instituição que iria capitanear a operação por meio do fundo de investimento Gama. Tudo veio a público no começo de julho quando o Carrefour anunciou ter recebido uma proposta de fusão de ativos no Brasil com os da CBD. Na sequência, o também francês Casino, rival do Carrefour na França e um dos acionistas controladores do Grupo Pão de Açúcar, publicou um comunicado no qual se revelava fortemente contra a negociação. Estava declara guerra. Usando expressões fortes, como traição, negociações secretas e ilícitas, Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, já deixava claro seu posicionamento contra a fusão. Se você acompanha essa história desde o início já sabe que as negociações fracassaram. Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, não conseguiu convencer o conselho do Grupo Casino, e claro, Naouri, de que a fusão seria boa para todas as partes envolvidas. E logo que o BNDES e Gama (por meio do BTG Pactual) suspenderam o apoio à proposta de fusão, Abílio recuou. Em nota, a Península (holding que representa a família Diniz) afirma que reitera seu apoio à fusão, mas reconhece que tendo em vista a decisão tomada pelo Conselho de Administração do Casino, “não é factível prosseguir com essa proposta”. A nota ainda informa que a holding está convencida de que o Grupo Casino não analisou devidamente todos os aspectos da proposta. “A decisão unilateral do Casino é, portanto, profundamente lamentável. Sendo assim, a Península declara que continuará atuando no melhor interesse do Pão de Açúcar, a fim de criar valor para todos os seus acionistas”, pontua. Para o consultor Eugênio Foganholo, da Mixxer, a primeira conseqüência da não fusão recai sobre a relação entre Naouri e Diniz. “Se no passado era cooperativa e amistosa, passa a ser diferente. E isso de alguma forma pode vir a afetar o valor do mercado do grupo”. Outra mudança – acentuada e intensa – poderia vir a ocorrer a partir do momento em que o Grupo Casino assumir o controle do Pão de Açúcar (como previsto para 2012). “Todos os comandantes do Pão de Açúcar foram estabelecidos pelo Abilio. Ao assumir o controle, o Casino poderia trocar os executivos”, pontua. Além disso, a negociação com o Carrefour tornou-se uma admissão da fragilidade da companhia no Brasil diante de acionistas, mercado e clientes. “Apesar de ser a empresa número um no setor alimentício, ela está frágil de comando e vai ter que se posicionar”, comenta Foganholo. Já para Silvio Laban, professor de makerting do Insper, sem a fusão, o Carrefour emite um sinal de que tem flexibilidade para trabalhar com outro modelo. “Por sua vez, o Pão de Açúcar tem sua expansão no mercado restrita por questões de capital e terá que buscar alternativas para isso. E o Walmart está assistindo a tudo”, diz. Não há mudanças na estrutura do setor varejista, como no market share, porém há uma nova percepção de uma empresa em relação a outra. “É a perda da inocência”, resume Laban. Nesse novo contexto outras empresas poderiam aportar no Brasil. “Assumindo que o Carrefour tem interesse em parceria, existe a possibilidade de vir outra companhia europeia, por que não?”, argumenta. O Carrefour dava sinais de rever sua estratégia para o Brasil, uma vez que o resultado da operação não caminhava dentro das expectativas. “Quando ele insinua que pensa em sair da operação no Brasil, abre espaço para ter ofertas e, hoje, só duas empresas poderiam fazer propostas: o Pão de Açúcar, contando com a engenharia financeira e o aporte de capital, e o Walmart, com seu próprio capital”, comenta Ricardo Scaroni, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Sem acordo, o espaço continua aberto. “2011 prometia, mas não achava que era tanto”, conclui Laban. |
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