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terça-feira, 17 de maio de 2011

Seis mil escolas públicas devem receber o kit gay no 2º semestre

O objetivo do kit é ensinar os estudantes a aceitarem as diferenças e evitar agressões e perseguições a colegas que assumem a homossexualidade.

Chamado de Escola sem Homofobia, o governo federal planeja distribuir, já no segundo semestre, o kit escolar para combater a violência contra gays. O kit será enviado para 6.000 escolas públicas do país.
Dirigido a professores e alunos do ensino médio, em geral com 14 a 18 anos, o material contém vídeos polêmicos, que tratam de transsexualidade, bissexualidade e de namoro gay e lésbico.

O objetivo do kit é ensinar os estudantes a aceitarem as diferenças e evitar agressões e perseguições a colegas que assumem a homossexualidade.

O assunto virou foco de polêmica no Congresso Nacional, depois que deputados contrários ao material o apelidaram de "kit gay", argumentando que ele estimularia a prática homossexual entre os adolescentes.

Como é o kit
Além de cinco vídeos em DVD, o kit anti-homofobia inclui um caderno com orientações para professores, uma carta para o diretor da escola, cartazes de divulgação nos murais do colégio e seis boletins para distribuição aos alunos em sala de aula.

A ideia é que o material sirva como guia para discussões sobre as diferenças de sexo, a discriminação contra mulheres e gays e a descoberta da sexualidade na adolescência.

O kit é em boa parte desconhecido. Há pelo menos um ano, ele vem sendo estudado pelo MEC (Ministério da Educação), que pode fazer mudanças no formato. O material é mantido em sigilo pelo receio de um impacto negativo antes da entrega às escolas.

Em contato com o ministério, não obteve acesso ao conteúdo do material impresso, sob a justificativa de ele ainda estar "em análise" por um grupo de trabalho. Na internet, a reportagem encontrou cinco vídeos.

Três dos vídeos estão em versão completa na internet. Todas as histórias se passam em uma escola
No site da Ecos, ONG responsável pela produção, há trailers para download de outros dois vídeos, mais antigos. Um deles é o desenho animado Medo de Quê?, sobre um menino que percebe estar apaixonado por um colega; e Boneca na Mochila, em que uma mãe descobre que o filho gosta do brinquedo.
Todo o material foi projetado pela ONG, sediada em São Paulo, que também negou o envio da parte impressa e do restante dos vídeos. Em conversa com a reportagem, a diretora da entidade, Lena Franco, uma das autoras, descreveu o teor.

- [O material] diz como a heterossexualidade foi imposta como norma, que é imposta e as pessoas têm que aceitar. Conta a história do movimento LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros] e a história dos direitos humanos.

Para além da questão gay
Cada edição do boletim do kit Escola sem Homofobia, voltado para os alunos, traz um tema diferente e que vai além do conceito sobre diversidade sexual. Tratam de amor, mas também questões sexuais, como masturbação. Também falam de família, violência sexual e doméstica e prevenção à AIDS, entre outros.
No site, a apresentação do caderno que será distribuído no kit diz que ele "possibilita aos profissionais avaliar e rever sua visão em relação à homossexualidade e à própria sexualidade dos jovens". O caderno está esgotado.

A reportagem apurou que só a confecção do kit custou R$ 743 mil. O dinheiro é parte de uma emenda parlamentar aprovada em 2008 no valor total de R$ 1,9 milhão, que financiou ainda uma pesquisa nacional sobre homofobia nas escolas e cinco seminários.

Como ainda não começou, a impressão e distribuição do kit anti-homofobia ainda têm custo desconhecido, mas também deve ser bancado com dinheiro público.

Reação
Enquanto o Ministério da Educação se fecha sobre o assunto, um grupo de deputados, liderados pelo polêmico Jair Bolsonaro (PP-RJ), vem buscado apoio da sociedade contra a distribuição do material.
Nesta semana, o deputado carioca deve levar aos gabinetes dos colegas 10 mil panfletos atacando o kit anti-homofobia.

- Ninguém aqui é contra o homossexual, cada um faz o que quer com seu corpo. O que não pode é levar isso para as escolas.

Contra esse tipo de argumento, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), ligado ao movimento gay, diz que o material usa a educação para inibir as agressões a alunos perseguidos nas escolas. Para o kit ganhar apoio da sociedade, é preciso esclarecer as pessoas, ressalta o parlamentar.

- O projeto valoriza a vida humana, o respeito à dignidade do outro. Se a gente pudesse apresentar para a sociedade os danos causados pelo bullying, se pudesse ter acesso a todos os crimes praticados, lesões corporais, violência, ela [a sociedade] não iria ser contra, porque estaria protegendo os seus próprios filhos.

Nas últimas semanas, duas comissões rejeitaram a convocação do ministro da Educação, Fernando Haddad, para falar sobre o kit na Câmara Federal.





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