Promotor diz que Suzane acusou pai dos Cravinhos de tramar o crime
Revelação se baseou em afirmação que teria sido feita pela própria jovem.
Presa, Suzane von Richthofen acusa o promotor de assediá-la.
O promotor de Justiça Eliseu José Berardo Gonçalves, de Ribeirão Preto, a 313 km de São Paulo, disse neste domingo (26) que Suzane von Richthofen acusou o pai dos irmãos Cravinhos, Astrogildo Cravinhos, de ter tramado a morte dos pais dela em 2002. Em um primeiro momento, o promotor não quis revelar o nome do suposto envolvido no assassinato. Depois, fez a revelação em outra entrevista. O promotor ouvido pelo Fantástico é acusado por Suzane de tê-la assediado, mas nega as acusações.
Assim como Suzane, os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos também foram condenados pelo crime. "Segundo ela (Suzane), o dia, o local, o horário e a maneira da execução foi planejada pelo senhor Astrogildo Cravinhos", afirmou o promotor, completando que o homem teria ainda confeccionado os instrumentos do crime. Os pais de Suzane foram mortos enquanto dormiam na mansão onde moravam com os dois filhos em São Paulo.
A advogada Gislaine Jabur, que defende os dois irmãos, disse não haver documento que prove as acusações. "Essa afirmação é do promotor. Não existe documento que comprove o que a Suzane está falando", alegou Gislaine. O próprio Gonçalves admite que a jovem não quis assinar o depoimento em que acusa Astrogildo Cravinhos. Ela teria voltado atrás após conversar com seu advogado, Denivaldo Barni. Procurado, ele não quis comentar o assunto
A denúncia de assédio
A revelação nunca tinha sido mencionada e só surgiu agora porque a equipe do Fantástico procurou o promotor em busca de explicações sobre a denúncia de assédio feita por Suzane. Por causa das declarações da jovem, que foi condenada a 38 anos de prisão e cumpre pena pela morte dos pais, Gonçalves foi punido pela Corregedoria do Ministério Público Estadual com suspensão de 22 dias.
Em entrevista ao G1 no dia 15 deste mês, Gonçalves já havia negado estar apaixonado e ter assediado Suzane. "Não me apaixonei por ela. Nego com veemência”, afirmou à época.
De acordo com a versão de Suzane, os dois estavam sozinhos na sala do promotor ouvindo música romântica. Ela afirma que quem preparou esse clima romântico para ela foi Gonçalves. A trilha sonora tinha canções de João Gilberto, o criador da Bossa Nova.
No dia 15 de janeiro de 2007, com autorização da Justiça, Suzane foi ao prédio do Ministério Público em Ribeirão Preto para falar sobre ameaças que estaria sofrendo e supostas irregularidades na penitenciária feminina da cidade, onde estava presa na época.
Mas, segundo Suzane, o encontro com o promotor tomou outros rumos. E ele teria aproveitado a chance para fazer uma declaração de amor. Na versão de Suzane à Justiça, ele não foi direto ao assunto. Primeiro, teria dito que estava apaixonado por uma moça - sem dizer quem era -, que havia escrito várias poesias e que sonhava em beijar e abraçar essa moça.
Suzane alega que a revelação veio depois: essa moça seria ela própria. De acordo com a jovem, o promotor chegou a ler as poesias em voz alta. Com 45 anos de idade e 19 anos de profissão, Gonçalves disse que é tudo mentira. Quando perguntado pela suposta paixão pela detenta, ele nega: “Isso é uma inverdade. Jamais. Foi uma declaração dela, prestada a uma juíza de direito da comarca de Taubaté (no interior de São Paulo). Na realidade, isso nunca aconteceu."
A Corregedoria do Ministério Público de São Paulo decidiu pela punição do promotor. Durante os 22 dias de suspensão, ele não teve o direito de receber salário. A pena começou a valer quarta-feira (22).
A história
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Suzane von Richthofen ficou cinco meses na penitenciária de Ribeirão Preto: de setembro de 2006 a fevereiro de 2007. Dividiu cela com advogadas acusadas de envolvimento com uma organização criminosa.
Testemunhas dizem que Gonçalves esteve cinco vezes na cadeia entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007. Seriam visitas normais, já que ele é promotor-corregedor dos presídios, com a função de fiscalizar a rotina das cadeias.
Mas, segundo funcionários e diretores da penitenciária feminina, antes da chegada de Suzane, ele ia raramente à prisão. Também nunca tinha levado uma presa ao gabinete. Há relatos de que Gonçalves chamava a prisioneira de “Suzi” ou “Su”, tirava fotos ao lado dela e a cumprimentava com beijos no rosto. Ele ainda teria comentado com outro promotor que Suzane Richthofen, na época com 23 anos, era linda.
“Nunca eu chamei essa moça de ‘Suzi’ ou ‘Su’. Quem disse isso mentiu descaradamente e não tem vergonha de ter feito isso”, afirma ele. Quanto à história do beijo no rosto, o promotor diz: “Todos vieram despedir, ela acabou dando um beijo no rosto. Isso foi na frente de todo mundo. Eu não me esquivei por uma questão de educação”.
Clima romântico
Suzane von Richthofen foi duas vezes ao gabinete do promotor. Ficou sempre sem algemas e sem escolta policial, o que foi considerado um privilégio pela Corregedoria, pois ela poderia ter fugido. A primeira vez foi em 5 de janeiro de 2007. Os dois estiveram juntos por quase seis horas seguidas, no gabinete do promotor. Segundo Suzane, Gonçalves aproveitou esse encontro a sós pra fazer perguntas sobre a vida pessoal dela, antes e depois do crime.
Suzane explicou que queria ser transferida para um presídio mais próximo da capital. Mas o promotor, segundo a detenta, disse que era melhor que ela ficasse em Ribeirão para que ele pudesse protegê-la.
A declaração de amor com musicas românticas ao fundo teria acontecido dez dias depois, em um outro encontro a sós no gabinete, segundo Suzane. Nesse dia, foram mais de dez horas na sala do promotor. De acordo com Suzane, Gonçalves disse que jamais poderia viver sem ela. E despediu-se com um beijo no rosto e um abraço.
“Eu nunca tive nem aparelho de som na minha sala, não sou poeta, então não tinha clima romântico nenhum”, garante o promotor. Ao ser perguntado se Suzane, em algum momento, se insinuou para ele, o homem negou. “Nunca tivemos uma conversa além do profissionalismo.”
Ao punir o promotor, a Corregedoria do Ministério Público disse que ele não teve uma conduta compatível com o cargo que ocupa. E não foi só por causa do suposto assédio a Suzane que o promotor foi suspenso por 22 dias. Para a Corregedoria, ele também cometeu outras infrações em outros casos, como ter dispensado uma testemunha importante em um julgamento.
“Nós vamos ingressar junto ao Conselho Nacional do Ministério Público em Brasília com um pedido de revisão desse processo. Exatamente porque nós entendemos que houve erro“, afirma o advogado promotor, Heráclito Mossin. Em fevereiro de 2007, Suzane Richthofen foi transferida de Ribeirão Preto para Tremembé, a 150 quilômetros da capital, onde está presa até hoje.
Um novo envolvido no crime
Agora, oito anos depois da morte do casal Richthofen, uma nova informação pode causar uma reviravolta no caso. No segundo encontro a sós com o promotor, Suzane teria contado um fato muito importante, e até então desconhecido.
Segundo o promotor, durante as 10 horas de depoimento, Suzane chegou a falar que além dela e dos irmãos Cravinhos, também condenados pelo crime na mansão da família von Richthofen em São Paulo, uma outra pessoa participou do assassinato. Essa pessoa teria planejado tudo.
“Ela afirmou categoricamente que essa terceira pessoa, que não são os irmãos Cravinhos, que planejou o crime. Qual instrumento seria usado, que dia as pessoas seriam executadas, em que circunstâncias. Então, ela atribui a uma terceira pessoa, praticamente, a autoria intelectual dos delitos”, revela o promotor.
Durante as investigações do crime e depois, no julgamento, ela jamais tinha falado sobre esse suposto mandante dos assassinatos. De acordo com o promotor, o segundo encontro dele com Suzane, que acabou durando dez horas, foi pedido por ela, com o objetivo específico de fazer essa revelação.
O rumo do processo
Questionado se essa versão que ela dá para o crime mudaria a história que conhecemos, o promotor pensa antes de responder. “A história em si, pode ser que não. Mas ela incriminou outra pessoa. Quando já estava praticamente pronto, que ia imprimir, ela ia assinar. O advogado ligou e ela talvez, por temor de alguma coisa, se recusou a assinar tudo aquilo que ela tinha dito sobre o crime”, diz Gonçalves, que afirma estar disposto a prestar depoimento, se o caso for reaberto.
Segundo advogados consultados pelo Fantástico, mesmo que as investigações recomecem, nem Suzane nem os irmãos Cravinhos teriam as penas reduzidas, porque já ficou comprovado o envolvimento deles no crime. Ano passado, a pedido da Justiça, psicólogos fizeram um laudo, atestando que Suzane é dissimulada, manipuladora e não tem limites para alcançar seus objetivos. O resultado foi decisivo psra que ela continuasse presa, sem direito ao regime semiaberto.
O promotor Gonçalves se considera mais uma vítima de Suzane Richthofen. Depois das denúncias de assédio, ele teve sérios problemas familiares. “A minha consciência esta absolutamente tranquila; a sociedade pode confiar em mim, em absoluto, que eu trabalho e eu honro a instituição”, afirma ele.
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