Consta que o PT e o Planalto ficaram desolados com a divulgação da palestra feita para uma plateia de petroleiros pelo ex-presidente do partido, deputado cassado, réu processado por corrupção e autoproclamado "camarada de armas" de Dilma Rousseff, José Dirceu.
O secretário de Comunicação do PT, André Vargas, chegou a discorrer muito claramente sobre o espírito da coisa.
"O aconselhável é que todos nós, eu, qualquer dirigente do PT, o José Dirceu, falemos pouco, falemos menos ou não falemos de jeito nenhum. Se queremos ajudar a campanha, todos nós temos de falar o menos possível", disse Vargas.
Uma campanha presidencial em que quanto menos falarem os que estão envolvidos nela, melhor? O natural seria exatamente o oposto. Durante a campanha mesmo é que se deve falar muito, os concorrentes precisam ser expostos, responder a tudo e a todos, fazer frente a cobranças de toda ordem, ter passado, presente e futuro muito bem esquadrinhados.
A lei enunciada pelo secretário de Comunicação prega a ocultação. Em outras palavras, a manutenção do eleitor na ignorância a respeito das coisas como elas realmente são.
Por essa norma não se pode repetir em público o que em particular dizem os petistas por todo lado, graduados ou soldados rasos.
Justificam o engajamento na campanha de uma candidata imposta e antipatizada justamente em nome do "projeto" a que se referiu Dirceu naquela fala menos discutida do que merecia, por causa da queda da ministra da Casa Civil.
O projeto está detalhado em documento aprovado pelo partido em fevereiro último e causador de constrangimento quando apresentado à Justiça Eleitoral como sendo o programa de governo de Dilma. A campanha reapresentou uma versão "light" provisória, prometendo uma definitiva nunca apresentada.
O assunto morreu na imprensa e, depois, não valia a pena abrir uma guerra entre partidos aliados por causa do programa de governo nem seria produtivo dar destaque ao PMDB em demasia.
Essas coisas devem ser escondidas, assim como deve ser ocultada a proximidade de José Dirceu, bem como a candidata é mantida atrás do biombo de Lula a fim de que a massa do eleitorado não tenha contato mais espontâneo e amiúde com ela.
Por quê? Porque Dilma não segura a onda, Dirceu é malquisto pelo público, o PMDB é mal falado e o PT divide a "base" - dentro e fora do Congresso.
José Dirceu disse duas verdades: que o PT considera o governo Dilma sua grande chance de exercer de fato o poder e que considera excessiva a liberdade da imprensa.
Mas se esqueceu de que antes da eleição a palavra de ordem é bico calado.
Cenografia. Foram 70 dias entre o prazo regulamentar e as duas notificações da Comissão de Ética Pública para que Erenice Guerra apresentasse informações sobre o patrimônio e a família. Ela ficou 170 no cargo.
Portanto, havia 100 dias que a ministra estava em situação irregular sem que ocorresse aos conselheiros dirigir-lhe a censura feita depois da saída. O silêncio teria sido menos desmoralizante.
A então ministra não atendeu aos pedidos porque ninguém no governo dá bola para a referida comissão nem para a ética pública.
Certidão. "Onde está a prova de que eu esteja envolvida?", pergunta a candidata do PT, a propósito da rede de tráfico de influência, extorsão, empreguismo e nepotismo que envolvia sua sucessora na Casa Civil.
A prova é o aval que Dilma deu à nomeação de Erenice.
Dissociar uma da outra seria como considerar que o presidente Lula não tenha responsabilidade alguma sobre o que faça e diga ou venha a fazer e dizer Dilma Rousseff.
Em português. Pode ser mais sonoro, mas é errado dizer "doa a quem doer". As coisas doem "em" alguém e não "a" alguém.
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