Lula não vai dizer um sonoro “Obrigado!” à VEJA? Por que não?
Vocês se lembram da reação dos petistas e do próprio presidente da República quando veio à luz a primeira reportagem da revista sobre as lambanças na Casa Civil na gestão Dilma Rouseff-Erenice Guerra? Ah, era tudo guerra eleitoral, tentativa da oposição de melar o jogo, “golpismo midiático”, diziam alguns delinqüentes. Pois é… Ontem, em entrevista ao site Terra, Lula resolveu mudar definitivamente o discurso: Erenice teria jogado fora a chance de ser “uma grande funcionária pública deste país…” Prestem atenção a esta fala:
“Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E, quando acontece, a pessoa perde”.
“Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E, quando acontece, a pessoa perde”.
Pois é… Um presidente ser “enganado” por sua ministra-chefe da Casa Civil é de lascar, né? Faz a gente duvidar da inteligência do bruto. Como prezo a de Lula, vou lhe dar o benefício da certeza (de que é inteligente): ele não foi enganado por ninguém; enganados eram os brasileiros, certo? A VEJA não se enganou.
Se “a pessoa” o enganou, quem o tirou das trevas foi a revista, que deveria receber, sei lá, uma daquela comendas por serviços prestados à República. Em vez de vociferar contra “a mídia” e permitir que seus assalariados se dediquem a patuscadas semelhantes, deveria ser grato “aos companheiros jornalistas” e à “companheira revista”, que tornou, um pouquinho que seja, mais moral o seu governo.
Lula não achou que Erenice “jogou fora” a chance de ser exemplar quando ordenou o dossiê contra FHC-Ruth Cardoso — ela estava sob as ordens de Dilma. Nem quando se meteu, numa operação obscura, na venda da Varig. Ou quando tocou adiante o tal Plano Nacional de Bandalheira Larga. Assuntos arcanos demais para o povão! E Lula, a exemplo de certos colunistas, está convencido de que, para esssa camada, bastam o vale-pão e o vale-circo.
Quando o assunto é grana, no entanto, aí o bicho pega. Aí é preciso esse recuo. O “povão” consegue entender esta mensagem: “Levou grana!”. Mas lá estava a glossolalia habitual:
“Se essas denúncias são manipuladas eleitoralmente, o povo percebe. Mesmo aquilo que é verdadeiro, o povo percebe. Agora, o povo aprendeu a julgar, isso é uma coisa interessante.”
“Se essas denúncias são manipuladas eleitoralmente, o povo percebe. Mesmo aquilo que é verdadeiro, o povo percebe. Agora, o povo aprendeu a julgar, isso é uma coisa interessante.”
Besteira! Não há manipulação nenhuma, e ele sabe muito bem. Será que os candidatos que disputam a eleição com Dilma deveriam fazer de conta que um escândalo de proporções ainda desconhecidas — mas já gigantesco pelo que se conhece — deveria ficar fora da campanha eleitoral? Por quê? A Casa Civil é o coração do governo. As coisas cabeludas que se sabem até agora aconteceram durante a gestão de Dilma Rousseff, debaixo de seu nariz.
Lula, como sempre, vai reescrevendo sua biografia. Segundo disse, adotou uma posição de cautela:
“Eu sempre admito que, muitas vezes, tem coisas que você tem que investigar.”
“Eu sempre admito que, muitas vezes, tem coisas que você tem que investigar.”
Errado! No caso de Erenice, partiram logo para apontar uma grande conspiração. E o presidente recorreu a mais uma de suas imagens iluminadas. Acusações, afirmou, são como feijoada:
“Você escolhe o que você quer ali. Tem coisa que tem dimensão séria, tem coisa que é boato, especulação, tem coisa que não tem profundidade.”
“Você escolhe o que você quer ali. Tem coisa que tem dimensão séria, tem coisa que é boato, especulação, tem coisa que não tem profundidade.”
É… Parece que a Casa Civil era uma feijoada completa, com a porcaria toda, da orelha ao rabo. Só que era Dilma quem estava na chefia da cozinha nos casos mais graves conhecidos até agora.
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