Até mesmo o nome do presidente Lula e de sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, são citados no relatório
O lobista Manduca conta a um amigo que, juntos, ele e o governador 'vão fazer o estado inteiro, vão fazer 1 bilhão de reais'
Um relatório do Ministério Público de São Paulo aponta o governador do Tocantins, Carlos Amorim Gaguim (PMDB), como um dos envolvidos em uma organização criminosa responsável por um gigantesco esquema de fraudes em licitações. O procurador-geral do estado, Haroldo Rastoldo, também é ligado ao esquema. As informações foram divulgadas na edição desta sexta-feira do jornal O Estado de S. Paulo.
O jornal teve acesso a um documento de 428 páginas e a 300 interceptações telefônicas feitas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), núcleo de Campinas, em parceria com o MP de São Paulo. O alvo principal da força-tarefa é o lobista Maurício Manduca, amigo de Gaguim e sócio de um cunhado do governador, o empresário Duda Rodrigues, em uma boate que será inaugurada no Shopping Capim Dourado, em Palmas (TO). Duda é irmão da primeira-dama Rose Amorim.
Entre 15 e 27 de abril, Manduca integrou comitiva de Gaguim em missão oficial à China e aos Estados Unidos. A promotoria apurou que o lobista e o empresário José Carlos Cepera, suspeito de compor a cúpula da organização criminosa, mantêm negócios com a gestão do peemedebista. Cepera e Manduca estão presos.
Escutas - Foi justamente enquanto as autoridades monitoravam os lobistas e empresários que os nomes de Gaguim e Rastoldo foram interceptados. Em uma das páginas, o documento faz referência a um novo contrato que o grupo teria fechado com Gaguim para admissão de 3.000 funcionários por secretarias de estado sem concurso público. Até mesmo o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, são citados no relatório.
"Manduca explica sobre um encontro que se realizaria em Palmas onde se fariam presentes o presidente Lula e a então ministra Dilma Rousseff", afirma o documento. Lula e Dilma apoiam a candidatura de Gaguim à reeleição no estado. Ambos já participaram, inclusive, de comícios do candidato, que espalhou pela cidade de Palmas banners e cartazes com sua foto ao lado dos petistas.
Lula - O documento ainda transcreve escuta de uma conversa entre Manduca e Cepera em 14 de março, às 10h12. "Lula está indo para Palmas lá na fazenda dele (Gaguim)", diz Manduca. "Eu vou ficar três dias lá com o Lula e ele (Gaguim)", continua. "Vão ficar lá dois secretários dele, ele (Gaguim), eu, a Dilma e o Lula. Vão pescar tucunaré lá na chácara." O lobista é então, parabenizado por Cepera.
Em uma outra conversa, desta vez em 26 de março, a dupla volta a citar o nome de Lula. "O homem (governador) está em Itabuna, Bahia, com o presidente Lula e acabou de relatar ao presidente que a empresa de um oriundo de Tocantins que vive em São Paulo há 30 anos é a solução para os problemas do estado", disse o lobista.
No dia anterior, Manduca fala a alguém não identificado a respeito de seus planos, que envolveriam a participação de Gaguim. O lobista conta que o governador o chamou de amigos e que juntos "vão botar para f... vão fazer o estado inteiro, vão fazer 1 bilhão de reais".
Organização criminosa - "Os diálogos e e-mails deixam claro que a vitória da empresa de Cepera e contratações subsequentes são decorrência de novas fraudes realizadas pela organização com participação direta de agentes políticos e servidores públicos do alto escalão do estado do Tocantins, dentre eles o próprio governador Gaguim e o procurador geral do estado", afirma o relatório do MP.
Defesa – O governador nega qualquer participação no esquema e atribui as denúncias a "adversários políticos". A Secretaria de Comunicação do Tocantins informou que Gaguim "desconhece as denúncias e não há qualquer possibilidade de seu nome estar envolvido no suposto esquema". "O governador é um gestor que recebe em audiências, costumeiramente, diversos empresários, do país e do mundo, interessados em investir no Tocantins, dadas as potencialidades e a política de incentivos fiscais que o governo oferece aos investidores", diz nota da assessoria.
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