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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Fernando Meirelles: “Dilma já amarelou”


Aos 55 anos, o paulistano Fernando Meirelles é um consagrado cineasta, produtor e roteirista. Ganhou notoriedade nacional e internacional com seus longas-metragens Cidade de Deus (2002), O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira (2008). Veterano atrás das câmeras, esse ano ele resolveu assumir uma empreitada de curtíssima metragem: ajudar a candidata verde Marina Silva a produzir suas propagandas de TV.

Meirelles foi fundamental para a adoção de inovações, como histórias em quadrinhos, nas propagandas de Marina. Também foi indicação dele o cartunista e o diretor dos programas. Na entrevista que deu à ÉPOCA, Meirelles conta como conheceu Marina, qual foi sua participação no programa e critica a ausência da candidata Dilma Rousseff, do PT, em debates: “A candidata do governo já amarelou”.

ÉPOCA – De que maneira o senhor colaborou com a elaboração dos programas de televisão de Marina Silva?

Fernando Meirelles – Participei de algumas reuniões de brainstorming. Toró-de-palpites, como dizem em Minas. Ótimas reuniões, aliás. Diferentemente das outras campanhas, quem está envolvido não são políticos mas jornalistas, intelectuais e cientistas interessados nas idéias e não na possibilidade de ganhar poder. Parece um clichê dizer isso mas faz muita diferença.

ÉPOCA – Soube que algumas propagandas de Marina usarão histórias em quadrinhos. A ideia foi sua? Como será feito?

Meirelles – Durante o toró-de-palpites mostrei algumas referências mas a decisão final do formato do programa foi tomada pela coordenação, pelo marketing, pela direção da campanha e claro, pelo Guilherme [Leal, candidato à vice-presidência] e pela Marina. O formato varia de acordo com o tema ou o objetivo do programa.

ÉPOCA – Os programas pretendem romper com a linguagem convencional das propagandas políticas? De que maneira?

Meirelles – Eles serão diferentes dos programas do PSDB/DEM e do PT/PMDB por ter pouco tempo. Em 1 minutos e 24 segundos não cabe candidato beijando criancinha, trabalhador sorrindo, demagogia e todos estes clichês que os marqueteiros insistem em achar que convencem alguém. Neste curto tempo que ela tem é preciso ser claro e preciso. Isso é diferente.

ÉPOCA – Qual a sua expectativa em relação ao momento em que os programas começarão a ser veiculados?

Meirelles – Por mais bem feitos que possam ser os programas acho pena a Marina ter um tempo tão curto. Por um lado é bom pois como não loteou sua candidatura em troca de tempo na TV, se eleita não precisará entregar parte do governo para o Michel Temer [do PMDB, vice na chapa de Dilma] etc, mas por outro lado, ela tem ótimas idéias em seu programa de governo, está com uma equipe brilhante mas não terá tempo para mostrar tudo isso. Os debates seriam muito importantes para isso mas infelizmente a candidata do governo já amarelou e não vai dar as caras. Muitas idéias que poderiam e deveriam ser discutidas vão ser tratadas sem réplica. Muito pouco democrática esta decisão mas parece que é assim que vai ser. O Lula inventou o W.O. nos debates de 2006 e fez escola.

ÉPOCA – Como conheceu Marina Silva e por que decidiu colaborar para a campanha? Sua colaboração é voluntária?

Meirelles – Decidi votar na Marina desde o momento em que li sobre sua candidatura. Um dia fui convidado pelo Fábio Feldman para ir a uma reunião e assim me aproximei do grupo. A admiração que eu tinha pela Marina Senadora só aumentou ao conhecê-la pessoalmente. Minha mínima colaboração é voluntária, claro. O mundo está num momento em que precisa mudar os paradigmas, os hábitos, a maneira de enfrentar o desenvolvimento. Exploração de petróleo como prioridade e desenvolvimento acelerado foi a receita do Getúlio Vargas. É uma visão do passado. A Marina realmente vê um país olhando para frente.



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