Lula deixará para seu sucessor dívida bruta de 64% do PIB, a maior dos últimos dez anos
Publicada em 15/05/2010 às 19h31m
O GLOBORIO - Importante indicador da saúde fiscal de qualquer país, a dívida bruta - que é a dívida total do setor público - pode chegar a 64,4% do PIB no fim de 2010, o maior patamar em dez anos. Reportagem de Regina Alvarez publicada no GLOBO deste domingo mostra que essa herança do governo Lula para seu sucessor foi turbinada pelas operações batizadas de "empréstimos" que o Tesouro vem realizando com o BNDES desde o ano passado, por meio da emissão de títulos públicos. A projeção de que a dívida pode alcançar o montante recorde de R$ 2,2 trilhões em dezembro (ou 64,4% do PIB) é do economista Felipe Salto, da Consultoria Tendências, e já considera a emissão de R$ 80 bilhões em títulos do Tesouro para reforçar o caixa do BNDES.
Na semana passada, o Tesouro concluiu a emissão desses papéis, que, somados, engordam a dívida bruta em R$ 180 bilhões. A primeira parcela de R$ 100 bilhões foi repassados ao BNDES em 2009, contribuindo de forma substantiva para o crescimento da dívida em cinco pontos percentuais do PIB, em relação ao ano anterior. Passou de 57,9% para 62,8% do PIB.
O crescimento robusto da dívida bruta - decorrente do aumento da dívida interna, já que a externa corresponde a apenas 3,4% do PIB - é visto com preocupação por muitos analistas. É um fator de risco futuro, em especial depois que a crise na zona do euro colocou em evidência a saúde fiscal dos governos. O que está em jogo, no caso do Brasil, é a credibilidade conquistada a duras penas nos últimos anos junto ao mercado internacional.
A crise global de 2009 abriu espaço para uma mudança radical de postura do governo do PT em relação às contas públicas. O acúmulo de superavits, que serviam para reduzir a dívida em relação ao PIB, foi substituído por uma combinação de aumento dos gastos com expansão do crédito por meio do crescimento da dívida pública.