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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Para prevenir doenças, cientistas unem, num mesmo embrião, DNA de três pessoas


Publicada em 15/04/2010 às 02h43m

O Globo

Uma nova e polêmica técnica de fertilização impediria o nascimento de bebês com males hereditários que afetam os músculos, o fígado e o coração. Pesquisadores da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, conseguiram criar embriões formados pelo DNA de um homem e de duas mulheres, para prevenir o que os médicos chamam de problemas mitocondriais, herdados da mãe, que podem provocar a morte na infância. O estudo está na "Nature".

Cada célula precisa de energia para funcionar e sua usina é uma estrutura em forma de feijão conhecida como mitocôndria. Algumas doenças raras, no entanto, são desencadeadas por danos ao DNA das mitocôndrias. No Reino Unido, por exemplo, uma em cada 6.500 crianças, sofre de distúrbios desse tipo, que podem causar fraqueza muscular, cegueira, insuficiência cardíaca e hepática, diabetes e dificuldades de aprendizagem.

" Uma criança nascida com este método terá mitocôndrias que funcionam corretamente, e todas as demais características de sua informação genética são de seu pai e sua mãe "

O DNA mitocondrial é transferido apenas de mãe para filho e contém menos genes. Ele é independente do material genético que se encontra no núcleo da célula. Quando há defeitos no DNA mitocondrial, as doenças são transmitidas das mães aos filhos. Portanto, gestantes com história familiar desses transtornos geralmente correm grande risco de gerar um filho doente ou não ter um bebê. E ainda não existe cura para essas alterações.

Com a nova técnica de fertilização in vitro, há maior esperança de o bebê nascer saudável. Ela consiste na transferência de DNA nuclear herdado dos pais a um óvulo doado com mitocôndrias perfeitas.

- Uma criança nascida com este método terá mitocôndrias que funcionam corretamente, e todas as demais características de sua informação genética são de seu pai e sua mãe - explica Doug Turnbull, da Universidade de Newcastle, que, ao lado da cientista Mary Herbert, coordenou a pesquisa. - É como trocar a bateria num laptop. A fonte de energia funciona corretamente, e nenhuma informação do disco rígido foi alterada.

" Este é um avanço muito grande, com um potencial enorme para ajudar as famílias em situação de risco para doenças mitocondriais "

Eles reforçam que o DNA mitocondrial só afeta a produção de energia celular. Todas as características que tornam uma pessoa reconhecível permanecem inalteradas no novo procedimento. O DNA da mitocôndria forma cerca de 13 genes em comparação com os 23 mil genes (número estimado) herdados de nossos pais. Um óvulo recém fecundado tem, normalmente, dois pronúcleos, constituído de material genético do óvulo e do espermatozoide, assim como o DNA mitocondrial (herdado apenas do óvulo). Pouco depois da fertilização esses pronúcleos se fundem.

Segurança ainda será avaliada

Os cientistas retiraram o pronúcleo do óvulo fertilizado, descartando as mitocôndrias. Depois implantaram o pronúcleo em óvulo de doadoras, cujos próprio pronúcleo havia sido removido, mas as mitocôndrias mantidas. Assim, o embrião passou a ter o DNA nuclear do pai e da mãe, além da mitocôndria saudável da doadora. Na experiência, foram produzidos 80 embriões, mantidos de seis a oito dias num laboratório, até a etapa de blastócito, como determina a Lei de Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido.

- Este é um avanço muito grande, com um potencial enorme para ajudar as famílias em situação de risco para doenças mitocondriais - afirma Turnbull.

A equipe da Universidade de Newcastle está fazendo outros estudos para investigar a segurança do procedimento. Ele poderá estar disponível nos próximos três anos, mas ainda esbarra em leis de muitos países, que proíbem a manipulação genética de embriões humanos em tratamentos de fertilização in vitro.

Mas se a técnica der certo e for segura, e a lei for alterada, ela poderá evitar casos como o de Sharon Bernardi, de 44 anos, que herdou uma doença mitocondrial de sua mãe. E ela perdeu seis de seus filhos com poucos dias de vida. O único que está vivo, Edward, de 20 anos, precisa de cuidado constante
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