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quarta-feira, 17 de março de 2010

PT veta na Câmara moção de apoio a presos de Cuba


Sérgio Lima/Folha

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) submeteu ao plenário uma moção de solidariedade aos presos políticos de Cuba.

Curto e objetivo, o texto anota: “A Câmara manifesta moção de irrestrito apoio e solidariedade aos presos políticos que em Cuba lutam pela liberdade e democracia”.

Temer abriu os microfones para que os líderes pudessem encaminhar a votação. Deu-se, então, o inusitado. O PT pegou em lanças contra a moção.

Discursando em nome da liderança petista, o deputado Eduardo Valverde (PT-RO) atacou o autor do requerimento, Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Referindo-se ao passado de Bolsonaro, militar da reserva do Exército, conhecido pelo apoio à ditadura, Valverde disse:

“Causa-nos estranheza que, quem protocolou essa moção, no passado defendeu a ditadura. Pela incoerência, somos contrários”.

Temer tentou contemporizar. Disse que o texto, em sua versão original, propunha “uma moção de apoio mais vigorosa”.

Esclareceu que, a pedido da presidência da Câmara, Bolsonaro negociara com líderes partidários e enxugara a moção.

O petista Valverde não se deu por achado: “Boa parte dessas informações não provem de fonte segura, mas de opositores do regime cubano...”

“...a crítica não vem da sociedade cubana, mas daqueles que resistem ao regime, financiados pelos EUA”.

Estabeleceu-se em plenário uma atmosfera de polêmica. O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), foi ao microfone:

“Ficar contra essa moção é o mesmo que dizer que é contra a liberdade e a democracia. Só o PT teve coragem de assumir essa posição”.

Ao farejar o cheiro de queimado, Temer deu meia-volta. Suspendeu a votação. Informou que levaria o texto da moção a uma reunião com os líderes.

Comprometeu-se a devolver o tema ao plenário na próxima terça (23). Líder do PSDB, o deputado João Almeida (BA) interveio.

Lembrou a Temer que, por orientação da presidência, os líderes já haviam negociado o texto. “Reflete a posição da maioria”, disse.

Almeida acrescentou: “É impossível fazer uma moção em termos mais brandos do que essa. Sob pena de expressar uma posição vacilante, inadmissível...”

“...Ao atacar o deputado Bolsonaro, o PT parece não acreditar na conversão dos homens. Isso não é argumento”.

Temer recusou-se a voltar atrás: “Já fiz declarações públicas, em nome da Câmara, de solidariedade a todos os que lutam por liberdades no mundo...”

“...Mas o meu dever é manter unidade no plenário. Vou levar a matéria aos líderes para tentarmos chegar a um texto comum. Se não houver, trarei a moção ao plenário”.

A despeito do adiamento da votação, o deputado Nilson Mourão (PT-AC) não se conteve:

“Todo esse interesse da oposição em debater Cuba tem o objetivo de combater o presidente Lula...”

“...Ele está no Oriente Médio, procurando construir a paz no mundo. Alguns parlamentares querem deformar o debate...”

“...Por que não incluem na moção o fim do embargo a Cuba e o fim da base militar de Guantânamo? Cuba está construindo o seu país. Vamos construir o nosso”.

O argumento de Mourão, por ridículo, não fica em pé. No debate sobre Cuba, Lula dispensa desmoralizou-se por conta própria. Não precisou da oposição.

Ao se contrapor à moção de teor anódino, o PT vai no mesmo caminho.


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