| Celular vira ferramenta para cyberbullying Envio de fotos e imagens do aparelho para a internet cria nova modalidade de violência nas escolas. Segundo especialistas, prática é crime e indenização por danos morais costuma ser maior por causa da amplitude da rede Lais Cattassini Sem orientação, o aparelho celular na mão de crianças está se tornando uma ferramenta para o cyberbullying, a chacota que sai das salas de aula e ganha espaço na internet. Com o auxílio de fotos e vídeos, a zombaria entre os colegas vai dos colégios para o mundo - virtual e real - 8,4% dos 4.205 estudantes de 6 a 18 anos ouvidos em uma pesquisa em 2008 disseram já ter usado o aparelho para ofender alguém.
Embora não divulguem dados, como os nomes das vítimas e número de casos, advogados consultados pela reportagem afirmam que há registros no Brasil e que a indenização por danos morais costuma ser maior, por causa da amplitude da internet.
Como o cyberbullying leva essas agressões, muito próximas da brincadeira, para o mundo virtual, a exposição da pessoa ridicularizada é imensurável. “Na internet, os agressores são anônimos, o conteúdo nocivo é quase impossível de ser apagado e um maior número de pessoas tem acesso à provocação”, diz Betina von Staa, coordenadora de pesquisas da divisão de tecnologia educacional da Positivo Informática.
A preocupação aumenta quando se conhece o número de crianças e jovens que têm o próprio celular no País. Segundo a pesquisa de 2008, feita pela Universidade de Navarra, na Espanha, em parceria com a Fundação Telefônica, 79,4% dos estudantes brasileiros de 10 a 18 anos têm celular. Entre os mais novos, de 6 a 9 anos, 50,5% deles já possuem um aparelho.
Para evitar que os filhos tornem-se agressores e também vítimas do bullying, os pais devem dialogar. “O problema pode ser resolvido com uma simples conversa”, diz Betina. Como as crianças costumam acessar a internet sozinhas, entram e saem da “enrascada” sem chamar um adulto. “Por isso, é importante os pais orientarem e discutirem o assunto.”
Aprender junto
Conhecer as tecnologias utilizadas pelas crianças também é um passo importante para a orientação. Para a responsável pela pesquisa, Mila Gonçalves, coordenadora de planejamento da Educarede, ligada à fundação, a discussão deve estar presente em casa. “O pai não é obrigado a saber como funcionam as tecnologias antes de dar um aparelho de última geração aos filhos. Mas pode gastar um pouco do seu tempo para aprender com a criança.”
O abismo entre as gerações é o que facilita o uso incorreto da tecnologia. “Eu que ensino meus pais a usarem a câmera do celular”, conta a estudante Nathalia Barreiro, de 14 anos.
A escola também deve participar da discussão. “A criança que é vítima de bullying ou cyberbullying no colégio deve se sentir bastante apoiada pela escola e pelos pais. Os pais devem procurar a coordenação e exigir ações”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Mara Raboni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Vítima de agressões na escola, a estudante M.S., de 24 anos, conta que não se sentia à vontade para procurar os professores. “Quando eu falava alguma coisa, a provocação piorava. O apoio dos meus pais foi muito importante”, diz. Ela conta que colegas de sala jogavam futebol com seu material escolar e cuspiam em seu cabelo. “Não sabia que isso era bullying. Só quando a palavra virou moda eu fui pesquisar e descobri que sofria isso na escola.”
FIQUE ATENTO
Procure observar como as crianças e adolescentes usam o celular, se é para se comunicarem, jogar ou fazer vídeos e fotos
Aprenda a usar a tecnologia. Com o conhecimento é possível orientar melhor as crianças
Fique atento aos conteúdos buscados por seus filhos na internet e também ao que recebem pelo celular
Converse com as crianças e adolescentes sobre o respeito e a importância do diálogo entre os colegas
Se o desempenho escolar da criança cair ou se houver mudança de comportamento é possível que ela seja vítima de provocações na escola
Procure a coordenação do colégio em que a criança estuda para discutir a melhor forma de resolver a situação
A criança deve se sentir apoiada pelos pais, que têm de exigir retratação do agressor |