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sábado, 23 de janeiro de 2010

O tenente-coronel e a universitária

Quando o PM do Distrito Federal jogou ao chão a universitária Ingrid Cartaxo, como se fosse uma boneca de pano, e fechou a grade gritando “O que que é? O que que é?”, pensei: “Esta é a imagem de um governo desmoralizado, truculento e autoritário”.

Desmoralizado pela corrupção e por manobras para garantir a impunidade. Truculento pela covardia contra jovens. Autoritário por não suportar contestação.

Identificado como tenente-coronel Cláudio Armond, comandante do 3o Batalhão, o policial militar perdeu o controle e empurrou fortemente a estudante de ciências sociais da Universidade de Brasília, que registrou queixa na Comissão de Direitos Humanos da Câmara contra a agressão. Havia suspeita de fratura no braço de Ingrid.

O mais preocupante é que essa cena começa a fazer parte da paisagem de Brasília.

A agressão ocorreu na quinta-feira. Estudantes depositaram 30 sacos de esterco na frente da Câmara Legislativa, em protesto contra as manobras para acabar com a CPI da corrupção.

A inabilidade da PM – um eufemismo – vem se repetindo desde o início de dezembro, com contornos mais e menos violentos. E ninguém faz nada. Porque encara tudo como normal.

É inacreditável e vergonhoso que um país democrático não saiba lidar com manifestações políticas. Especialmente um país que enfrentou uma ditadura militar.

Qualquer cidadão brasileiro que conheça Paris sabe que as manifs (apelido carinhoso de manifestations) bloqueiam avenidas da capital francesa quase todo fim de semana e são protegidas, não atacadas, pelas forças da ordem. O trânsito é desviado pela polícia. E o direito de expressão é garantido. A passeata transcorre sem problemas.

Dá arrepio pensar quantos jovens seriam feridos ou morreriam nas mãos da PM de Arruda se promovessem quebra-quebras como os protagonizados por universitários em Paris nos últimos anos.

A PM armada precisa aprender a agir com serenidade e só usar a força quando não há outra alternativa. Senão, é abuso de poder.

No dia 9 de dezembro de 2009, em Brasília, cavalos, gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes foram arremessados contra estudantes.

A tropa de choque convocada pelo governador José Roberto Arruda para reprimir o protesto contra o mensalão do DEM agiu com brutalidade extrema. Um coronel chegou ao corpo a corpo com um manifestante.

Qual é a opinião do coronel Alberto, chefe de Comunicações da PM de Arruda? “Os manifestantes perturbaram terceiros, afrontaram a população de Brasília, porque não atenderam a nossos apelos para desbloquear a via e dar fluidez ao trânsito.”

Sobre o confronto pessoal, Alberto disse em linguagem de código: “O coronel acabou entrando em vias de fato devido às circunstâncias”. Afirmou que “a PM de Brasília treina exaustivamente para evitar conflito” e que “vem demonstrando capacidade muito grande de negociação”.

Essa declaração soa como achincalhe. Quase como as risadas do “governador panetone” no fim do ano.

Quem afronta a população não são os universitários, coronel. O que afronta são as propinas distribuídas em cuecas, meias, barrigas, bolsos e malas.

O que perturba é a dissolução da CPI depois de a Justiça destituir da comissão os aliados corruptos de Arruda. O que ofende são as tentativas acrobáticas de sobrevida do governador do DF e dos deputados aliados.

Não há aqui nenhum desejo de incitar à desordem pública. Mas a desordem é inevitável e perigosa quando não se respeita o direito legítimo à manifestação.

Esses 30 estudantes (só me assombra o número não ser maior) faziam um protesto pacífico, acompanhados de um advogado. Diogo Ramalho, universitário, disse: “Este é um protesto simbólico. O esterco simboliza a sujeira aí na Câmara”.

Virou pancadaria. A PM disse que tinha informações de que os estudantes “iriam jogar estrume nos deputados”. Os jovens tentaram entrar na Câmara. E a PM os atacou, sem se sensibilizar com as palavras de ordem dos estudantes: “Policial pai de família, não defenda essa quadrilha”.

Alguém pode culpar jovens por depositar esterco ali em ato de ironia e deboche?

Ruth de Aquino é diretora da sucursal da ÉPOCA no Rio



Polícia usa violência em protestos contra Arruda
Publicado por Edson Fonseca
23-Jan-2010 12:01

Estudante diz que teve o pulso deslocado por policial durante o tumulto

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Um grupo de manifestantes que participaram do protesto contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), em frente à Câmara Legislativa do DF, compareceu na Corregedoria da Polícia Militar para denunciar a violência de policiais responsáveis pela segurança da parte externa da Casa legislativa.

Quatro manifestantes acusaram de agressão o coronel responsável pela operação. "Foi uma injustiça, o movimento era pacífico. Foi abuso de poder", afirmou a estudante Ingrid Cartaxo, que disse ter sido empurrada pelo coronel. Ela teve o pulso deslocado e prestou queixa na Delegacia da Mulher.

O estudante Diogo Ramalho denunciou a falta de identificação dos policias. "Eles estavam descaracterizados, assim não conseguimos saber o nome de quem nos agrediu", afirmou.

O advogado do grupo que protesta contra Arruda, explica que todas as provas serão reunidas e levadas ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. De acordo com ele, os manifestantes tinham habeas corpus para entrar na Câmara e mesmo assim foram impedidos.

O tumulto aconteceu na quinta, quando manifestantes foram impedidos de entrar na Câmara Legislativa, onde acontecia a CPI da Corrupção. O corregedor da PM Francisco das Chagas Soares afirmou que as imagens são fortes e que tudo será minuciosamente analisado.

Cavalaria pisoteia estudantes

Polícia Militar perde o controle de manifestação pacífica. Vídeos mostram ataques a estudantes e imprensa


João Campos - Da Secretaria de Comunicação da UnB

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Vídeos gravados pela reportagem da UnB Agência revelam momentos brutais da manhã em que a repressão triunfou sobre a luta pela moralização da política em Brasília. Uma das imagens registradas durante as três horas de conflito entre policiais militares e manifestantes que pediam o impeachment do governador do DF, José Roberto Arruda, mostra o instante em que o coronel Silva Filho, comandante da operação da PM no Eixo Monumental, perde o controle e agride o militante e ex-aluno de Biologia da Universidade de Brasília, José Ricardo Padilha, detido no local.

Assista ao vídeo de comandante da PM agredindo ex-aluno da UnB

Confira o vídeo de manifestante sendo pisoteado pela cavalaria da PM

As cenas de violência começaram quando a multidão que protestava em frente ao Palácio do Buriti interrompeu o trânsito no Eixo Monumental, por volta das 11h30. Sem negociação para desobstruir as pistas, a Polícia Militar convocou a cavalaria da corporação para expulsar os manifestantes, entre eles, 500 estudantes da UnB. As ofensivas dos policiais montados, armados com escudo e cassetete, não foram o suficiente para dispersar os jovens e trabalhadores, que voltavam a ocupar o asfalto de forma pacífica. Adesivos de “Fora Arruda” eram entregues aos motoristas parados.

A situação se agravou com a chegada do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ao meio dia. Munidos com bombas de efeito moral e tiros de borracha, em poucos minutos os militares instalaram o caos no coração da capital. Estudantes que desciam pelo gramado central para dar continuidade ao protesto na Rodoviária acabaram cercados. Começou, então, o confronto direto. “Foi combinado que nós deixaríamos as pistas para ir ao terminal. Mas fomos impedidos pela violência da polícia”, comentou o coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, Raul Cardoso.

As bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta atingiam, inclusive, a imprensa que cobria a batalha instalada. Estudantes que insistiam em seguir caminho eram atropelados pela cavalaria e revidavam com pedradas. Na confusão, o comandante da operação, coronel Silva Filho, perde a cabeça ao receber uma ofensa verbal do jovem conhecido por Zé Ricardo. O momento, testemunhado pela equipe da UnB, mostra o instante em que o militar parte para cima do manifestante e troca murros com o rapaz no chão. José Ricardo acabou preso e agredido após o embate.

Marcelo Brandt/UnB Agência

COVARDIA – Um das cenas mais chocantes deste 9 de dezembro ocorreu na volta do aglomerado para o Eixo Monumental, por volta das 13h30. Um homem deitado no chão protege a cabeça enquanto é pisoteado pelos cavalos da Polícia Militar. Desobedecendo a ordem de sair da pista, o militante João Batista Filho leva pancadas de cassetete nas costelas e acaba arrastado por colegas para não ser ainda mais espancado. O homem está internado no Hospital Regional de Sobradinho. A reação dos estudantes foi entregar flores aos policiais, enquanto entoavam o Hino Nacional.

Roberto Fleury/UnB Agência
A estudante Ingrid Cartaxo foi detida no confronto com a PM

Pelo menos 40 estudantes da UnB saíram feridos. As agressões, ocorridas no Dia Mundial da Luta Contra Corrupção, acabaram com a prisão da aluna de Ciências Sociais, Ingrid Cartaxo, liberada na parte da tarde. Com o Instituto de Medicina Legal (IML) fechado por causa da greve da Polícia Civil, estudantes procuraram hospitais particulares para registrar as marcas da violência. “Quem tem que ser preso é o Arruda. O governador está usando a máquina pública para impedir manifestações”, afirmou o aluno de Filosofia, Rafael Siqueira, com vários hematomas espalhados pelo corpo.



Uma manifestação pacífica

Sionei Ricardo Leão


300 pessoas participaram do ato, que percorreu o Plano Piloto
Sionei Ricardo Leão
No protesto que ocorreu ontem, em Brasília prevaleceu a cooperação entre manifestantes que querem a saída do governador Arruda e policiais militares. Os militantes, cerca de 300 pessoas, se concentraram em frente ao Setor de Diversões Sul (Conic) no início da tarde. Depois fizeram uma caminhada que percorreu a Rodoviária do Plano Piloto e a Esplanada dos Ministérios. Tudo de forma pacífica.
A PM só entrou em ação perto das 18h, no fim do evento, quando retirou da Rodoviária o líder do movimento Fica Arruda, Alessandro Álvaro. Ele estava discutindo com os estudantes da passeata. Os soldados decidiram transporta-lo numa viatura para longe do terminal, a fim de evitar problemas, ação definida como preventiva.
"Quando o movimento não é acéfalo (sem cabeça, sem comando), fica muito mais fácil", analisou o major PM Madureira. Ele comandou o efetivo de soldados, cerca de 100 homens, que acompanhou toda a marcha dos manifestantes. Na quarta-feira, ele foi um dos que tentaram negociar com os militantes a liberação do Eixo Monumental, antes da pancadaria que chocou a sociedade.
O major Madureira comparou as negociações de ontem com as que anteciparam a desocupação da Câmara Legislativa, na última segunda-feira. "Hoje temos contato com o pessoal que organiza. Tem até advogado, está muito melhor".
Era evidente a preocupação dos militantes em não provocar os policiais. Para evitar transtornos, representantes do movimento e da PM definiram que a passeata podia ocupar apenas duas das faixas da avenida. Quando uma ou mais pessoas deixavam essa área, os próprios manifestantes repreendiam.
"Pelo amor de Deus gente, vamos cooperar, volta para a faixa", gritava Roberto Nobre, de 40 anos. Segundo ele, o pensamento foi de não permitir qualquer pretexto que pudesse ser entendido como provocação pela PM. "Para não ter tumulto", complementou.
Ao deixar o Setor de Diversões Sul, a passeata circulou pela Rodoviária do Plano Piloto. Lá, as opiniões dos comerciantes e frequentadores do terminal foram diferentes a respeito do ato.
"É muito irritante. Não concordo com esse barulho", protestou a fotógrafa Cássia Silva de Souza. A servidora pública Neuza Pereira viu a movimentação com entusiasmo. "Eu queria estar no meio deste povo, mas não posso por causa do trabalho". O comerciante Arnaldo Alves Cardoso também apoiou. "Eles estão corretos. Tem que protestar mesmo".

"FORA"
Quando a passeata chegou ao Congresso Nacional, as palavras de ordem passaram a incluir a atacar políticos como o senador José Sarney (PMDBAP). Eufóricos, os estudantes gritavam que o movimento agora "vai mudar tudo no País". Eles formaram no gramado a palavra "fora" com os membros do protesto.
Hoje, de acordo com um dos organizadores do movimento, o antropólogo Paíque Lima, os militantes vão retornar à Rodoviária do Plano Piloto. Eles marcaram um ato às 17h, que foi definido como "carnaval fora de época". O evento vai satirizar os envolvidos na operação Caixa de Pandora.

Repúdio à ação da PM
O embate travado entre manifestantes e Polícia Militar, na manifestação realizada anteontem, em frente ao Palácio do Buriti, provocou reações de instituições como Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Sindicato dos Policiais Federais (Sindipol), que divulgaram notas, ontem.
O MPDFT esclarece, na nota, que "desde as 14h do mesmo dia (9), as promotorias militares já tomaram as providências cabíveis, como a requisição de abertura de Inquérito Policial Militar junto à Corregedoria da PM, e estão colhendo informações para apurar os eventuais excessos praticados pela polícia".
A CUT repudiou a ação da Polícia Militar e dos soldados do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que participaram da "cruel ação que feriu e prendeu diversos manifestantes que participavam do ato pelo impeachment do governador".
O Sindipol disse que a entidade estava indignada com os atos de violência e afirma que a PM agiu "sob o pretexto de garantir a ordem pública" e "impediu a livre expressão e pensamento". E ainda, "sob o pretexto de garantir o direito de ir e vir", "determinou que os manifestantes fossem retirados dos locais públicos".
A nota, assinada pelo presidente Cláudio Avelar, diz que "enquanto policiais federais fazem um excelente trabalho de investigação, ajudando a limpar Brasília, através da Operação Caixa de Pandora, o Secretário de Segurança Pública, delegado da Polícia Federal Valmir Lemos que deveria impedir a violência, protege o governador Arruda, que o colocou no cargo".
O Sindicato pede o afastamento imediato do comandante e que seja instaurado "imediatamente o devido processo a fim de apurar as responsabilidades punindo os responsáveis". A entidade finaliza dizendo que "deveria determinar imediatamente o retorno de Lemos às atividades na Polícia Federal.
Estudantes da UnB denunciaram a ação da PM no MPDFT na tarde de ontem. Vídeos e fotos que registraram os excessos da PM durante o protesto fazem parte da documentação que os alunos entregaram aos promotores do Núcleo de Combate à Tortura e Controle Externo da Polícia.

SAIBA +
A Justiça inocentou, na noite de quarta-feira, a estudante Ingrid Cartaxo, de 20 anos, e o líder comunitário João Longuino de Souza Neto, de 37. Eles foram presos por tentativa de lesão corporal, na manifestação da quarta-feira.
Ainda será ouvido o professor João Ricardo Fonseca, que também foi preso durante a pancadaria. Ele alega que foi vítima, pois teria sido agredido pela PM.
O advogado do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UnB, Márcio Freitas, declarou que vai denunciar os supostos abusos. Disse que vai pedir ajuda à OAB e a entidades de direitos humanos.




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