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sábado, 23 de janeiro de 2010

Capital do Haiti pode sofrer novo terremoto em breve, alertam especialistas

da France Presse, em Washington

Um terremoto tão ou mais violento que o que devastou Porto Príncipe no dia 12 ameaça a capital haitiana, advertiram os especialistas, insistindo na necessidade de reconstruir as infraestruturas da cidade segundo normas sísmicas rígidas, como as existentes no Japão ou na Califórnia (oeste dos EUA).

O Haiti continuará por várias semanas exposto a um risco importante de fortes tremores secundários, um fenômeno normal depois de um terremoto e que vai diminuir com o tempo.

O Instituto sismológico americano (USGS) avaliou quinta-feira em 25% a probabilidade de um ou mais tremores de magnitude 6 acontecerem durante este período.

O terremoto do dia 12, que matou pelo menos 111 mil pessoas, liberou grande parte da tensão acumulada nesta parte da falha Enriquillo. Porém, outra parte, localizada a leste do epicentro e diretamente adjacente a Porto Príncipe, pouco se mexeu, alertou o USGS.

O instituto se baseia em medições preliminares de deformação do solo realizadas com radares e perspectivas aéreas.

Acúmulo de tensão

De acordo com o USGS, esta parte da falha foi submetida ao mesmo acúmulo de tensão provocado pelo movimento das placas tectônicas da América do Norte e do Caribe, e pode liberar esta energia a qualquer momento.

"Os tremores anteriores no mundo e a história sísmica do Haiti indicam que terremotos de alta magnitude podem se repetir no mesmo lugar em um curto espaço de tempo", explicou à AFP David Schwartz, um especialista do USGS, citando o caso da Turquia em 1999, quando dois terremotos de magnitude superior a 7 foram registrados num intervalo de três meses.

Para Schwartz, este cenário pode se repetir em Porto Príncipe. "Nenhum de nós ficaria surpreso se isso acontecesse", afirmou.

A falha de Enriquillo ainda pode provocar um tremor de até 7,2 no Haiti, alertou, por sua vez, Eric Calais, um sismólogo francês da Universidade de Purdue, no estado de Indiana (norte dos EUA).

"Os tremores nesta região tendem a se repetir em sequência", afirmou, lembrando que nos três últimos séculos, terremotos de magnitude comparável ou superior ao do dia 12 abalaram o Haiti pelo menos quatro vezes, entre eles os de 1751 e 1770, que destruíram completamente Porto Príncipe.

"Prédios mais resistentes

"Como a região tem um passsado sísmico, é preciso reconstruir Porto Príncipe segundo normas sísmicas rígidas. O custo será mais elevado, mas é tecnicamente factível", afirmou Eric Calais.

Uma avaliação exaustiva do risco sísmico no Haiti, o país mais pobre das Américas, e nas demais nações do Caribe, permitirá melhorar as normas de construção e edificar prédios resistentes aos terremotos, explicou o USGS.

Isso requer, porém, estudos geológicos aprofundados das falhas e do solo, e tais estudos costumam demorar vários anos, segundo o instituto.

O Haiti foi negligenciado neste âmbito. Nos quinze últimos anos, somente duas equipes de geólogos e sismólogos se deslocaram ao Haiti, lamentou Calais, que participou de uma destas expedições e havia advertido para o risco de fortes terremotos.

O especialista deve viajar ao Haiti nesta segunda-feira para coordenar uma missão de avaliação, a primeira desde a catástrofe do dia 12.




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