Foi saudável a forma como Dilma Rousseff divulgou sua doença. Transparência total, entrevista sóbria, equilíbrio num assunto tormentoso.
O Brasil aprendeu com Tancredo Neves o custo de escamotear a saúde dos grandes tomadores de decisão. Mistério nesse departamento é sinônimo de irresponsabilidade — ou de falta de democracia, como no caso Fidel Castro.
Na sua entrevista coletiva sobre o pré-sal — o segundo fetiche preferido do governo Lula, depois do PAC —, Dilma foi perguntada sobre o câncer. Respondeu, com propriedade, que não quer transformar sua doença em espetáculo. Só falta combinar com o chefe.
No dia seguinte à divulgação da doença, Lula levou Dilma a uma solenidade e botou o câncer da ministra-candidata em primeiro plano. Fez um comício emocional, que é sua especialidade.
Agindo assim, o presidente da República foi o primeiro a autorizar a confusão entre saúde pessoal e campanha eleitoral. Lula caiu na tentação de agregar à sua candidata a marca dramática de uma lutadora pela vida. Dilma merecia a chance de se tratar em paz.
Agora vai ser difícil. O PT e a oposição tiveram reações exemplares à notícia do problema de saúde da ministra. Separaram prontamente o fato da questão eleitoral, com a elegância de afirmar que confiavam na pronta recuperação de Dilma. Aí Lula entrou em cena mistificando, desinformando, oscilando entre tratar Dilma como uma heroína trágica e declarar que ela “não tem nada”.
Lula desumanizou Dilma. Por enquanto, a doença é dela, o show é dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário