São Paulo - Um ano depois de ser internado, contra a vontade, em uma clínica para dependentes químicos em São Paulo, Walter Casagrande Júnior voltou a público ontem e fez um relato sincero e emocionado de sua luta contra as drogas, no programa "Altas Horas", que irá ao ar já na madrugada deste domingo, após o Supercine. Entrevistado pelo apresentador Serginho Groisman, o ex-jogador da seleção brasileira e comentarista licenciado da TV Globo contou em detalhes o drama de sua doença, da qual só tomou conhecimento após capotar com seu carro, em setembro do ano passado. “Tenho 1,91m e dei entrada no hospital pesando 70 quilos, cheio de marcas de picadas nos braços. Quando acordei do coma, três dias depois, estava internado”, contou. Casagrande foi mantido na clínica Greenwood, em Itapecirica da Serra, por determinação de seu filho mais velho, Victor Hugo, de 22 anos. Durante oito meses, o ex-jogador não teve contato algum com parentes ou amigos e recebeu alta somente há duas semanas. Mas ainda está reaprendendo a usar sua liberdade. “Nos quatro primeiros meses, eu tentei lutar contra o tratamento. Meu filho me bancou lá, disse que eu não sairia, e me salvou. Sou um cara pacato, mas tenho um poder de autodestruição enorme”, afirmou. Casagrande contou que começou a usar drogas ainda na adolescência. “Venho de uma geração em que os ídolos morreram de overdose. Admirava Jim Morrison. Quando comecei, não foi com maconha. Eu usava cocaína e heroína. Cheirava e me injetava, mas não achava que isso era doença. Pensava que podia parar, mas a dependência química é progressiva, fatal e incurável. Vou ter que conviver com ela até o fim da minha vida, mas nunca mais quero ter uma overdose na frente do meu filho de 12 anos." Até sua internação, em setembro de 2007, Casagrande já havia sofrido quatro overdoses. Durante o período como jogador, porém, ele garante que soube segurar a onda. “Fiquei oito anos longe das drogas, lá na Itália. Antes, aqui no Brasil, eu usava maconha e cocaína na véspera dos jogos, gostava da sensação de prazer. Mas quando você pára de jogar, no dia seguinte não é ninguém. Senti falta daquela adrenalina, queria de volta a emoção dos estádios cheios. Foi quando caí de cabeça nas drogas”, revelou. Em janeiro de 2006, Casagrande se internou voluntariamente por 40 dias. “Há um tempo, eu havia começado a perder o controle da minha vida, da minha disciplina, e fui me distanciando da família, dos amigos. No trabalho eu também já encontrava dificuldades e estava fora da Copa do Mundo da Alemanha naquela época. Batalhei muito, fiquei sem usar drogas e consegui ir à Copa, para comentar os jogos”, lembrou. Na volta para casa, no entanto, ele teve uma recaída assistindo ao DVD de "Ray", filme sobre a vida do músico Ray Charles, que teve uma longa relação com a heroína. “A dependência química é sutil, vem de repente. Vi o personagem na fissura e pensei: quero me injetar agora”, contou o ex-jogador. Muitas vezes, o desejo de usar drogas era mais forte do que sua própria vontade: “Eu me injetava chorando, sabia que não podia fazer aquilo, mas não resistia”. Casagrande, porém, não ficou à vontade para entrar no debate sobre a descriminalização das drogas. “Eu sempre fui a favor, mas não acho que seja uma prioridade para o Brasil, neste momento. Mas também não vou me engajar em projeto algum contra as drogas; seria hipócrita de minha parte falar contra isso. O que posso fazer é incentivar a internação e o esclarecimento sobre a doença da dependência química”. O comentarista foi o primeiro dos entrevistados do "Altas Horas". A atriz Malu Mader, que entrou em seguida, é sua amiga de longa data e não escondeu a alegria por reencontrá-lo. “Não sabia que você estaria aqui, foi um depoimento emocionante, contundente e muito útil”, comentou a atriz. O grupo de rock Skank prestou, logo depois, uma homenagem ao ex-jogador: enquanto tocava "É uma Partida de Futebol", um telão exibia gols de Casagrande jogando pelo Flamengo, Corinthians e seleção brasileira. “Você é o único que conseguiu unir rock"n"roll e futebol, Casão”, brincou o vocalista da banda, Samuel Rosa. Há duas semanas de alta, Casagrande ainda não se acostumou à velha nova rotina. “Fiquei um ano trancado, sem ver ninguém, e a cada pessoa que encontro sinto uma emoção muito forte. Tenho que ir devagar. Até agora, só saí de casa para ver um show da Rita Lee e para vir aqui”, disse, coberto de aplausos da platéia jovem do programa. “Só saio para jantar com psicólogos. Eu ainda preciso deles”, disse. Prontamente, foi convidado por Malu Mader para jantar com ela e o marido, o guitarrista Toni Bellotto, dos Titãs. Até o fim do ano, há possibilidade de que volte a comentar jogos para a TV, mas ele não quer apressar as coisas. Ainda freqüenta a clínica diariamente, das 12h30 às 17h, onde encontra outros dependentes químicos e uma psicóloga. Mas mostrou que está com o senso crítico afiadíssimo ao responder à pergunta de um rapaz, que queria saber sobre o atual time do Corinthians, que disputa a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro: “Você quer saber de drogas, né?”.
Casagrande: ‘Usei cocaína e heroína. Cheirava e me injetava’
Após um ano internado numa clínica, Casagrande é liberado pelos médicos e, no programa ‘Altas Horas’, fala do drama de suas quatro overdoses. Com apoio de psicólogos, ele luta contra as drogas que o afastaram da rotina e quase o levaram à morte
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
, Walter Casagrande Júnior voltou a público ontem e fez um relato sincero e emocionado de sua luta contra as drogas
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SAÚDE
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