O circo melancólico
Finalmente caiu a ficha. O público começou a abandonar a seleção brasileira. Ninguém pode ser enganado por tanto tempo.
Mesmo quando joga bem, como contra o Chile, a seleção é enganadora. Há muito tempo ali não está um time de futebol representando seu país. Em campo o que há é um conjunto de empresas, ONGs, contratos e direitos de imagem.
Sua missão com a camisa amarela é “dar espetáculo” para esse público carente, o que Ronaldinho Gorducho resume com seu eufemismo de chuteiras: “Viemos dar alegria ao povo brasileiro”. Futebol mesmo eles jogam – ou tentam jogar – na Europa. Ali a coisa é séria.
A arquibancada cheia de vazios do melancólico Engenhão, no melancólico empate sem gols com a melancólica Bolívia, é a resposta mais sublime a esse cinismo inconfessável. Sumam daqui! Voltem para o outro lado do Atlântico com sua alegria de aluguel.
A seleção brasileira acabou. Virou um circo para esses palhaços sem graça “darem espetáculo” aos sem-diversão. Por que o time não engrena? Porque a finalidade do jogo sumiu. Seleção é lugar de desfile, pedalada, palavras bonitas, efeitos especiais. Não encham o saco dos astros com esse papo de jogar futebol.
Torcer pelo Brasil, hoje, é um pouco como assistir a “A praça é nossa”. Uma mistura de nostalgia e complacência, um encontro com a graça que já não está mais lá.
Dunga é o símbolo perfeito desse canarinho transformista. Acha que é tudo de verdade, sofre com as oscilações do time que acredita estar sob seu comando. Pobre Dunga. Perderá a cabeça antes de compreender que nunca a teve.
O problema não é só a privatização do patriotismo (patenteado por Ronaldos, Cafus, Roberto Carlos e companhia). Em breve, a Copa do Mundo não vai ser interessante nem se o Afeganistão jogar com Bin Laden de centro-avante contra os Estados Unidos. Na era do futebol transgênico, o espírito do confronto mundial de nações morreu.
A síntese do funeral é Robinho puxando o saco de Zidane um minuto após a eliminação do Brasil pela França em 2006. A pátria do moleque brasileiro era o Real Madrid.
Mais chata do que se tornou a Copa do Mundo, só as eliminatórias da Copa do Mundo. Disputadas a conta-gotas, com meses de intervalo entre um jogo e outro, pondo à prova todo o talento de Galvão Bueno para dar algum sentido àquilo.
Mas o Engenhão vazio foi demais. Nem Galvão salva.
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