O paulistano vive tão marcado pela violência como se vivesse na Faixa de Gaza ou alguma outra região de conflito armado pelo mundo.
É o que revela uma pesquisa, ainda em andamento, que quantificou pela primeira vez a incidência de transtorno de estresse pós-traumático entre moradores da cidade que passaram por situações de violência, como assaltos, seqüestros, agressões, ameaças de morte, balas perdidas e coisas do gênero.
* 26% sofreram desse transtorno alguma vez na vida
* 9,7% sofreram desse transtorno no último ano
Os índices levam em conta critérios internacionais, daí a equivalência segura com zonas de guerra, segundo explica Sergio Andreoli, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos coordenadores do estudo.
"Esse tipo de transtorno é descrito por soldados", conta ele. "É um sofrimento grande, que prejudica o relacionamento com os outros, a pessoa tem medo de vivenciar de novo aquela situação, então se retrai, não sai de casa... É como se estivesse vivendo outra vez o momento do trauma."
Não é toda vítima da violência que sofre desse transtorno. Felizmente, porque:
* 63% sofreram algum tipo de violência direta
E não são somente as vítimas de violência direta que podem sofrer de estresse pós-traumático. Aliás, como informa Andreoli, grande parte dos paulistanos com esse transtorno é gente que presenciou agressões, roubos e atrocidades contra terceiros:
* 56% sofreram violência indireta
Somando vítimas de violência direta e indireta, a pesquisa chega à impressionante cifra:
* 86% sofreram algum tipo de trauma
Um dos dados que chamaram atenção dos pesquisadores foi o peso da violência intra-familiar no desenvolvimento do transtorno.
* 6,8 sofreram violência conjugal
A pesquisa envolveu cerca de 2,5 mil paulistanos, ouvidos desde meados de 2007, e muitos deles participarão de um estudo clínico mais aprofundado, incluindo o uso de ressonância magnética.
Os pesquisadores querem medir o impacto desse transtorno no cérebro, entre outros efeitos. Estudos anteriores já demonstraram que há morte celular no cérebro de vítimas do TEPT: uma redução de 5% a 10% do hipocampo.
A pesquisa da Unifesp se estende também à população do Rio de Janeiro, mas os resultados ainda não foram fechados. Há dificuldade para fazer as entrevistas, porque moradores das áreas pesquisadas têm medo de receber os pesquisadores.
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