A terra dos sanatórios
Na década de 1870, quando os primeiros habitantes fundaram a cidade de Campos Jordão, acreditava-se que o clima de montanha era bom para o pulmão dos tuberculosos. A notícia se propagou e foi o suficiente que muitos doentes subissem a serra.
Quem conta a história é o advogado e historiador Pedro Paulo Filho, autor de nove livros sobre Campos do Jordão. “Começaram a espalhar que, chegando aqui, a pessoa se curava. A cidade virou a meca da tuberculose”, relata. Os enfermos vinham em liteiras, espécie de redes, e no lombo dos burros.
Segundo Pedro Paulo, Campos teve pelo menos 12 sanatórios. Foi para lá que os doentes foram levados depois que a cidade passou por um processo de remoção dos sobrados onde viviam os tuberculosos. A “limpeza” fazia parte de um projeto de urbanização nos anos 30.
“Campos do Jordão teve seu crescimento retardado por causa do preconceito”, explica o advogado. Entre os pacientes, estava o escritor Nelson Rodrigues. Por pelo menos quatro vezes, ele esteve internado para tentar se curar da tuberculose.
Pedro Paulo diz que, hoje, apenas alguns sanatórios ainda têm a função original. A maioria foi fechada. “Viraram extensão de faculdade, hospital e até colônia de férias”. Quem imaginaria que, em um lugar destinado a loucos e doentes, seria o começo da experiência “dramática” de Nelson Rodrigues?
O escritor e outros pacientes decidiram encenar um teatrinho sobre a situação deles no sanatório. Conta-se que riram tanto que a sucessão de risos transformou-se em sonoras tosses em série.
Carolina Iskandarian, do G1, em Campos do Jordão
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