O conflito entre o governo argentino e o setor agrário completa nesta quinta-feira cem dias com escassez de alimentos e rejeição de dirigentes rurais aos impostos, embora o Congresso tenha afirmado que irá analisar o assunto, como era desejo dos manifestantes.
A intervenção parlamentar foi aprovada pela presidente Cristina Kirchner na terça-feira (17), após quatro fracassos da oposição em anular a pressão do Fisco sobre o setor agropecuário.
O governo de Cristina reafirmou hoje que "não cederá" às pressões do campo e prepara uma estratégia parlamentar, já que a imposição do imposto pelo Executivo causaria uma divisão no grupo majoritário de legisladores aliados e prejudicaria a presidente.
Enquanto isso, duas pesquisas revelaram que pelo menos seis em cada dez argentinos apóiam a intervenção do Congresso no conflito.
Congresso
O núcleo da oposição ao governo de Cristina tem 84 deputados, quando, para iniciar um debate, são necessários mais de 129. Para a aprovação de uma iniciativa, precisa-se de 65 votos.
Cézaro De Luca-18.jun.2008/Efe |
Manifestantes se reúnem na praça de Maio de Buenos Aires em apoio a Cristina Kirchner |
Fontes congressistas calculam que dos 118 deputados governistas, há pelo menos 15 das províncias de Buenos Aires, Santa Fé, Córdoba e Entre Ríos, as mais afetadas pelo conflito, que se opõem ao projeto de ratificar a política do governo.
Uma parte dos 25 deputados aliados, entre eles os socialistas, também diverge dessa política, o que faz prever que o debate colocará à prova as alianças do governo.
"Não estamos dispostos a ceder à pressão de uma corporação com interesses muito pontuais: fazê-lo implicaria em renunciar ao futuro de milhões de argentinos", ressaltou o ministro do Interior, Florencio Randazzo, em declarações à rádio e à televisão.
Randazzo rejeitou duras declarações de Alfredo De Angeli, um dos dirigentes da combativa Federação Agrária, que disse ser preciso "dissolver" o Congresso, referindo-se à limitação dos congressistas a apenas aprovar propostas governistas nos últimos anos.
O vice-presidente de Confederação Intercooperativa Agropecuária, Carlos Garetto, pôs panos quentes, ao afirmar que agricultores e criadores de gado "deveriam centrar a reivindicação no setor e não misturar nisso posições políticas ou ideológicas".
Diálogo
Héctor Róo-11.jun.2008/Efe |
Caminhoneiro adere ao bloqueio no cruzamento das rotas nacionais 12 e 9, próximo à cidade de Rosário, a 350 km de Buenos Aires |
O chefe do Gabinete argentino, Alberto Fernández, afirmou que a política impositiva "está aberta ao debate".
O vice-presidente argentino, Julio Cobos, anunciou que na próxima segunda-feira (23) se reunirá com seis governadores, tanto aliados quanto oposicionistas, "para escutar as idéias e contribuições" de cada um deles visando ao debate parlamentar.
Entre os que irão à reunião está o governador de Santa Fé, o socialista Hermes Binner, um dos líderes que questionou a política impositiva e defendeu o diálogo com o setor agropecuário.
Governadores e dirigentes peronistas que discordam da pressão do Fisco sobre o campo instruíram legisladores de seus distritos a levarem essa posição aos debates da Câmara dos Deputados, de 254 membros, onde os governistas e seus aliados têm maioria.
Com Efe
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