Plantão | Publicada em 27/09/2011 às 13h41m
Guilherme Voitch (guilherme.voitch@sp.oglobo.com.br)Uma das principais autoridades no estudo do autismo no mundo, Muotri publicou em novembro do ano passado um artigo na revista científica "Cell", em que demonstra como ele e sua equipe conseguiram consertar neurônios afetados pela Síndrome de Rett, uma das formas graves de autismo e que provoca várias complicações neurológicas.
A solução para o Rett veio por meio de uma droga que amplia a presença de insulina nas células doentes. O trabalho de Muotri repercutiu no mundo acadêmico e lançou esperanças de que seria possível, com o mesmo fármaco, tratar outras formas de autismo. O cientista fez palestra ontem em São Paulo, promovida pela ONG Autismo e Realidade, para estudantes, médicos e pais de autistas, e disse que é exatamente nisso que a sua equipe está trabalhando agora.
- Saímos do Rett e estamos lidando com o autismo de origem desconhecida, em que a gente não tem noção do que está acontecendo geneticamente. Tudo que conseguimos fazer com o Rett, até agora, reproduzimos com o autismo - comentou.
Segundo o pesquisador, há muita semelhança entre os neurônios afetados pela Síndrome de Rett e pelo autismo clássico. As células, em ambos os casos, têm morfologias semelhantes.
- São células menores, com arborizações e número de sinapses (conexões) reduzidas - explicou.
O medicamento desenvolvido para controlar Rett já vem sendo testado por outras equipes de pesquisadores em pacientes comprometidos pelo autismo nos Estados Unidos e na Itália.
- Ela ainda causa muitos efeitos colaterais mas, no equilíbrio de prós e contras, decidiu-se usá-la. Agora a evolução desses pacientes está sendo acompanhada - comentou o cientista.
De acordo com Muotri, o medicamento se mostrou eficaz em laboratório, mas ninguém pode garantir agora que vai recuperar o cérebro de pessoas afetadas pelo autismo, e afirmou que o fármaco precisa ser aprimorado. Ainda são necessários testes de validações e ensaios de toxicidade. Isso pode levar dez anos, diz o pesquisador.
- Encontramos uma combinação capaz de reverter e consertar a célula em nível sináptico, fazendo com que o neurônio autista se comportasse normalmente. Sou um cético, nem eu acreditaria no começo da pesquisa, mas meus dogmas vêm sendo colocados à prova porque temos um modelo em laboratório que funciona - acrescentou.
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