Há algo extraordinário acontecendo quando um bilionário pede para deixar de ser mimado pelo governo e reclama que está pagando poucos impostos. Mas foi esse o recado dado pelo megainvestidor Warren Buffett, 80 anos, o terceiro homem mais rico do mundo, fundador e sócio da Berkshire Hathaway, num artigo publicado no jornal The New York Times, na semana passada. Intitulado “Stop Coddling the Super Rich”, algo como “Parem de afagar os bilionários”, o texto irônico e direto assinado por Buffett chama a atenção para o fato de que, no último ano, ele pagou 17,4% em tributos sobre seus rendimentos para o governo americano. Ao mesmo tempo, seus 20 funcionários mais próximos, representantes da classe média americana, suportavam uma carga tributária que varia entre 33% e 41% sobre seus ganhos. “Enquanto as classes mais baixas lutam por nós no Afeganistão, e enquanto as famílias de classe média se sacrificam para fechar o orçamento do final do mês, nós, os super-ricos, continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias”, escreveu Buffett em seu artigo.
No texto, o empresário revelou ter de sobra o que falta ao Partido Republicano, nos tempos atuais: bom-senso. Em busca de um sistema que ajude a fechar a conta, os parlamentares que se opõem ao presidente democrata Barack Obama vetaram a proposta de aumentar o tributo dos mais ricos. Não permitiram que se mexesse no orçamento da Defesa, exatamente o que ajudou a engordar o déficit americano com as sucessivas guerras, mas exigiram cortes em programas sociais, que podem significar um complemento de renda para a população mais carente, como ficou demonstrado pelas políticas anticíclicas empregadas pela América Latina durante a crise de 2008, baseadas na ideia de que incentivar uma maioria a consumir é mais eficiente para manter a roda da economia girando. Mas os republicanos não pensam assim.
Miraram, na verdade, na candidatura à reeleição de Obama e não se importaram em promover um atraso na recuperação econômica, contanto que os democratas sejam derrotados no jogo eleitoral, no ano que vem. O tiro, porém, pode sair pela culatra, avalia o professor Richard Locke, chefe da cadeira de ciências políticas do Massachusetts Institute of Technologies (MIT). “As pesquisas de opinião mostram mais americanos contrários aos republicanos depois das medidas que tomaram, terríveis para a economia”, diz Locke. O Oráculo de Omaha foi um deles.
Buffett reclama que os congressistas precisam “repartir os sacrifícios” num momento como o atual, em que os americanos guardam centavos para pagar dívidas acumuladas nos tempos das vacas gordas. O empresário, diga-se, é um sujeito sui generis. Revelou-se da pá virada desde os 14 anos, quando decidiu declarar como bem tributável sua bicicleta e um relógio, companheiros inseparáveis em suas visitas de porta em porta pelas casas de Omaha, sua cidade natal, no Estado de Nebraska, para vender doces, Coca-Cola e revistas. Aprendeu desde cedo a ganhar dinheiro e embora acumule uma fortuna de US$ 60 bilhões, já avisou os filhos que 85% dessa montanha de recursos irá para fundações beneficentes, numa atitude altruísta surpreendente.
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