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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Epa, Paulo Bernardo! Assim, não! Ou: Ministro pretende que a imprensa seja mais criteriosa com sua biografia do que ele próprio



O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) sempre procurou ser um petista, como posso dizer?, algo diferenciado. Parece avesso ao jogo bruto de alguns de seus pares. Mas sabem como é a natureza… Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida.

Por Andreza Matais, na Folha Online:
Cobrado pela oposição sobre se usou um avião da empresa Sanches Tripoloni enquanto ministro, Paulo Bernardo (Comunicações) respondeu, nesta terça-feira (23), que não se lembra dos prefixos das aeronaves em que viajou no ano passado. A declaração foi feita em audiência pública na Câmara para tratar da implantação da rádio digital no país. Bernardo foi cobrado pela oposição a esclarecer suas relações com a empreiteira que tem obras com o governo federal no Paraná, terra do ministro, e doou recursos para a campanha da mulher dele, a também ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil.

Apesar de ter dito que não se lembra do prefixo da aeronave que utilizou, Paulo Bernardo afirmou que seria cauteloso na resposta porque “daqui a pouco aparece uma foto” dele num avião da empresa e vão dizer que ele mentiu. O ministro disse apenas que se lembra que “pegou carona” numa aeronave pequena, mas não disse a quem pertencia. A aeronave da Sanches Tripoloni é um turbo hélice. O ministro afirmou ainda que é amigo há anos de um dos donos da empresa.

Na segunda-feira (22), em nota, ele já havia informado que utilizou aeronaves de “várias empresas” no ano passado, durante a campanha eleitoral, “nos fins de semana, feriados e férias”, e que o serviço foi pago. O petista fez críticas à imprensa que publica informações “em off” (sem identificar o autor da denúncia). “[Depois] eu sou obrigado a dar explicações sobre uma suposta informação”, afirmou.

Ele disse que o jornalista não pode ser “desleixado, preguiçoso” e que tem que apresentar provas sobre o que publica. “A imprensa tem a liberdade de expressão, de circular a informação, ninguém pode pretender cercear, mas o mínimo que se pode pedir é que as matérias sejam apuradas, verificadas.” Bernardo afirmou ainda que não tem procuração para falar sobre a ministra Gleisi, mas que, quando usou o avião da empresa, ela não era agente pública e não pode ser cobrada por isso. Segundo o ministro, as aeronaves que eles usaram na campanha da ministra ao Senado no ano passado foram pagas pelo partido ou pela campanha.

Voltei
O PT tem se esforçado, desde que chegou ao governo, em 2003, para ensinar à imprensa o seu ofício. Os petistas achavam certamente que bom jornalismo era aquele que se fazia quando o partido estava na oposição. Chegando ao governo, de súbito, o que parecia virtuoso começou a se revelar incômodo; o pau que batia em Chico, seus adversários, começou a bater também em Francisco, e aí os companheiros tiveram um idéia: “É preciso fazer o controle social da mídia” — eles chamam jornalismo de “mídia” porque isso confere um certo aspecto conspirador à atividade; uma conspiração contra o povo, que todo petista encarna, como é sabido…

Em favor de Bernardo e de Dilma, por enquanto ao menos e nesse particular, diga-se algo a favor: aposentaram os delírios de Franklin Martins e dinossauros afins, mas ainda sem desmantelar a rede suja da Internet, sustentada com dinheiro público. Adiante! Mas se nota que o ministro tem aquela mesma disposição de seus pares de dizer aos jornalistas qual é o bom caminho — um caminho que não encha o saco de petistas.

Ontem, interpretei aqui a inteligente nota divulgada por Paulo Bernardo. O texto teve o cuidado de não negar que ele tenha andado num avião da construtora Sanches Tripolini. Com habilidade, afirmou que o ministro não fez vôo nenhum em troca de favores. O próprio Bernardo revela a intenção da nota, que detectei precocemente: indagado hoje se voou ou não na aeronave, afirmou que seria cauteloso. Acabou não dizendo nem “sim” nem “não”, afinal, ponderou, “daqui a pouco aparece uma foto”, e ele passa por mentiroso. Profissional e prudente. Tivesse a certeza de que não fez o vôo, não haveria possibilidade de foto, certo? Bernardo precisa tomar cuidado para não acabar assumindo como também sua uma frase histórica de José Dirceu: “Estou cada vez mais convicto da minha inocência…”

Participei de um programa Roda Viva, há alguns anos, com o agora deputado Paulo Maluf (PP-SP). Havia uma conta na Suíça em seu nome, o que era confirmado pelas autoridades daquele país. Ele negava que fosse sua. Eu o desafiei: “Olhe para a câmera e diga: ‘As autoridades suíças são mentirosas’”. Sabem o que ele me respondeu? “Isso é você que está dizendo, Reinaldo, eu não disse”. E o homem tentou me convencer de que as duas coisas eram possíveis: nem ele tinha conta na Suíça nem as autoridades daquele país mentiam. Entenderam?

Os políticos gostam dessa zona cinzenta em que a verdade desaparece, como se houvesse uma terceira dimensão, que não é nem a do fato nem a do não-fato. E, obviamente, não há.

Paulo Bernardo pede mais cuidado aos jornalistas. Certo! Acusa-os de um tanto preguiçosos, relaxados talvez… Na Câmara, no entanto, quem se mostra com a memória fraca sobre a própria biografia é ele, não é mesmo? Afinal de contas, não se trata apenas do homem privado “Paulo Bernardo” a voar no jato deste ou daquele, mas de uma autoridade da República.

Não acho que seja fato, mas digamos que houvesse mesmo esse descuido de que fala Bernardo: estariam os jornalistas sendo mais descuidados com a biografia do ministro do que é ele próprio? Afinal, vai que apareça uma foto…

Por Reinaldo Azevedo





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