Porto, 08 jun (Lusa) -- A primeira parte do leilão da biblioteca de António José de Almeida "correu razoavelmente bem", segundo o seu promotor, José Mário Santos, da Invicta Livro, mas em Lisboa seria "um sucesso bestial".
Porto, 08 jun (Lusa) -- A primeira parte do leilão da biblioteca de António José de Almeida "correu razoavelmente bem", segundo o seu promotor, José Mário Santos, da Invicta Livro, mas em Lisboa seria "um sucesso bestial".
"Aqui, é uma pasmaceira", considera o mesmo responsável, queixando-se da "conjuntura" económica desfavorável, em declarações à Agência Lusa.
O bibliófilo Jorge Mota corrobora esta ideia, dizendo que "no Porto o dinheiro é chorado e suado", ao contrário do que, em seu entender, acontece em Lisboa.
O leilão abrange cerca de "mil livros", segundo José Mário Santos, começou esta terça-feira, no Palácio dos Viscondes de Balsemão, e termina hoje com uma sessão em que vão ser licitados "os principais lotes", nos quais figuram as obras completas de José Régio e uma coleção "extraordinária" de obras de Eça de Queiroz em primeira edição.
Um dos principais motivos de atração é um grande lote de livros da biblioteca de António de Oliveira Salazar.
António José de Almeida, um industrial portuense que hoje tem 85 anos, possuía muitos livros que foram de Salazar, alguns deles com dedicatórias de autores como o poeta Pedro Homem de Mello.
Comprou-os a Rui Salazar, sobrinho-neto de Salazar, poucos anos após o 25 de abril de 1974, e alguns haviam sido deliberadamente mutilados, aparentemente com o intuito de ocultar a sua origem por razões políticas.
O seu novo proprietário recuperou-os pacientemente e juntou-os à sua biblioteca pessoal, cujos livros, agora postos a leilão, "estão quase todos em muto bom estado", refere Sílvio Cervan, bibliófilo assumido, vice-presidente do Benfica e antigo dirigente do CDS-PP.
"Conheço o senhor Almeida, é um bibliófilo de particular bom gosto" e tinha grande "estima" pelos seus livros, elogia Cervan, que também está de olhos postos neste leilão.
"Há aqui duas ou três coisas que eu quero" e que serão licitadas hoje, revela, sem, contudo, pormenorizar.
António José de Almeida não era um mero colecionador de livros, queria-os como se fossem seus filhos, tratava-os com esmero, "vestia-os" com "encadernações espetaculares", embelezava-os com dourados e por aí fora.
Na primeira sessão, que se prolongou por quase três horas, tendo terminado para lá das 00:00, foram licitados 270 lotes, de um total de 546, e participaram cerca de 30 pessoas.
Uma das obras mais disputadas foi um Inventário Artístico de Portugal, da Academia de Belas Artes (1943-1995), que tinha como preço-base 800 euros e foi arrematada por 2.100 euros.
O casal Arnaldo e Maria Celeste Duarte esteve muito ativo e adquiriu "para aí 20 livros", tendo considerado que o "leilão foi muito interessante".
Livros e "antiguidades" são dois dos seus grandes amores, confessa Maria Celeste, frisando que, por ela, "ficava com quase todas" as obras licitadas.
Hoje é o dia forte, o dia de autores bastante cobiçados como José Régio, Vitorino Nemésio e Eça de Queiroz, mas também de Virgílio Ferreira, Teixeira de Pascoaes, Mário de Sá Carneiro e vários outros.
Salazar também estará presente, com mais algumas obras de sua autoria ou que lhe pertenceram, o que leva José Mário Santos a vaticinar que "vai dar disputa brava".
AYM.
Lusa/fim
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