Para seu terceiro filme, “O País do Desejo”, o cineasta Paulo Caldas queria falar de algo novo em sua filmografia, que inclui longas como “Baile Perfumado”, codirigido por Lírio Ferreira, e “Deserto Feliz”. Então, ele voltou suas lentes para a elite brasileira. “Tanto se fala, tanto se culpa, por isso eu queria discutir o universo dessa classe, os valores familiares”, disse em entrevista ao UOL Cinema por telefone de Recife, onde termina os ajustes finais do longa.
Para tratar dessa questão, Caldas escalou pessoas que considera “representantes de uma beleza clássica, além de também serem grandes atores”, definição em que cabem Maria Padilha, Fábio Assunção e Gabriel Braga Nunes. “É um filme corajoso”, afirma a atriz, “porque lida com questões pertinentes ao país, especialmente religiosas. É um Brasil diferente daquele que tanto vemos na tela. É um outro Brasil e, ainda assim, o mesmo Brasil”.
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Em "O País do Desejo", Fábio Assunção faz o papel de um padre
No filme, Maria interpreta Roberta, uma pianista que sofre de um câncer incurável. Inicialmente, a personagem seria uma celista. A atriz já estava treinando quando Caldas resolveu que seria uma pianista, um universo que não era estranho a Maria: “Eu toquei piano na infância e adolescência. Mas precisei tomar aulas, me preparar. No fim, eu apareço tocando em poucas cenas, mas a preparação foi tão boa que, além de tudo, voltei a tomar gosto e estou estudando até hoje”.
Ela conta que fez sua personagem “como uma rottweiller”. “Ela é uma mulher com ódio de estar perdendo a vida, ressentida por não poder fazer o que mais ama, que é tocar piano, pois está muito frágil”. Maria conta que, ao contrário de seu filme anterior,“Praça Saens Peña”, não fez uma interpretação muito realista. “Aqui, a personagem é um pouco diva, há um quê de fantasia”. Com o que o diretor concorda: “Eu tinha uma vontade antiga de fugir do realismo. O legal de cada filme é se lançar no desafio”.
O diretor criou duas cidades fictícias, Passárgada e Eldorado - Recife e Olinda, respectivamente, servem de cenário. Caldas conta que, pouco antes de filmar, em meados do ano passado, vira em Paris “Tetro”, de Francis Ford Coppola, que o deixou maravilhado. “Não foi exatamente uma inspiração, mas me ajudou a entender o que eu queria do meu filme: o desejo de fazer um espetáculo. Fiquei encantado com a narrativa, os sons, as imagens”.
Tanto como no filme de Coppola, em “O País do Desejo” há dois irmãos, aqui interpretados por Assunção e Braga Nunes. “O primeiro é padre e o outro, um médico. A família é dona de um hospital. Vi nesses personagens a possibilidade de falar do embate entre ciência e fé religiosa”. Ele diz que a distância existente entre os dogmas da igreja e a realidade é um tema importante em seu filme.
Já a protagonista do longa define-o como “um filme ibérico”. “Eu falava para o Paulo, esse filme podia se passar no Brasil, na Espanha, em Portugal, em qualquer lugar em que a religião tivesse um peso grande. E falar desse tema não é fácil. Ele foi muito corajoso, não só na escolha do tema, mas também no visual”.
A fotografia de “O País do Desejo” foi assinada Paulo Jacinto dos Reis, mais conhecido como Feijão, que morreu em 11 de abril. “Ele fez mais do que fotografar o longa. Esteve com a gente desde o começo, deu muitas sugestões. O filme é também dele - agora, mais do que nunca”, enfatiza a atriz.
O País do Desejo
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