Segundo levantamento, analistas de mercado estimam alta de 0,85% na inflação em abril, o que levaria ao estouro da meta no período de 12 meses
SÃO PAULO - A inflação acumulada em 12 meses até abril deve superar o teto da meta de 6,5% e os índices mensais dos três próximos meses podem trazer alívio para a escalada inflacionária mensal, preveem analistas de mercado. Mas essa trégua, provocada pela entrada da safra de alimentos e da cana e pela ausência de reajustes de preços administrados nesse período, não será suficiente para atenuar o preocupante cenário inflacionário de 2011.
Estimativas de 45 instituições financeiras ouvidas pelo AE Projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril, que será conhecido hoje, variam de 0,66% a 0,91%, com média em 0,85%. Esse intervalo aponta para uma inflação acumulada em 12 meses até abril entre 6,39% e 6,65%, com mediana muito próxima dos 6,60%.
"A inflação de abril ainda será muito feia", diz a economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro. Ela projeta para abril um IPCA de 0,83%, ante o de 0,79% em março. Tatiana se considera otimista entre seus pares de mercado. No extremo oposto, Thiago Curado, economista da Tendências Consultoria Integrada, espera um IPCA para abril de 0,89% e se considera pessimista.
Divergências numéricas à parte, ambos economistas concordam em dois pontos. O primeiro é que a disparada dos preços dos combustíveis fez a inflação de abril escapar das previsões. O segundo ponto é que, entre maio e julho, a expectativa é de que a inflação mensal seja mais moderada por causa da entrada no mercado da safra de cana-de-açúcar e de vários produtos agropecuários.
Uma parte desse movimento de queda de preços dos produtos agropecuários já é realidade no campo e deve ter impacto nas próximas semanas nos índices de inflação ao consumidor. Pela primeira vez desde julho do ano passado, o Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, apurado pela Secretaria da Agricultura, encerrou abril com deflação de 0,61%. A queda ocorreu tanto entre produtos de origem animal (-1,06%) como de origem vegetal (-0,42%). O preço do frango recebido pelo produtor caiu, por exemplo, 11,33% em abril e o arroz com feijão ficou 2,5% e 6,26% mais barato, respectivamente, no mês passado.
Trégua. De olho nesse recuo dos preços agropecuários, na ausência de reajustes de preços administrados importantes, como transporte e energia elétrica, e passado o impacto da alta dos combustíveis, Curado, da Tendências, projeta um IPCA de 0,42% para maio, de 0,15% para junho e de 0,17% para julho. Tatiana, do Santander, estima que a inflação deste mês desacelere para 0,60%, a de junho para 0,30% e o IPCA de julho recue para 0,20%.
"O governo vai ficar mais otimista quando a inflação recuar para 0,20%, pois esse resultado pode ser mais condizente com a meta", observa Tatiana. Mas ela e Curado ressaltam que o alívio mensal no curto prazo não significa que o problema inflacionário acabou. Muito ao contrário.
Segundo Tatiana, o recuo da inflação no fim do segundo e no início do terceiro trimestre faz parte do comportamento normal dos preços nesse período do ano. Mesmo com essa "trégua" na inflação, ela diz que o IPCA acumulado em 12 meses deve superar o teto da meta em outubro e novembro. A partir de setembro, com as negociações salariais de categorias importantes, como petroleiros e bancários, e o maior consumo de fim de ano, a inflação normalmente volta a ser pressionada, diz ela.
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