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domingo, 8 de agosto de 2010

INVESTIDORES LEVAM CALOTE DE R$ 800 MILHÕES EM FUNDO


FUNDO DÁ CALOTE DE R$ 800 MI
Autor(es): Carolina Mandl, de São Paulo
Valor Econômico - 06/08/2010

Um grupo de 17 investidores, quase todos "hedge funds" estrangeiros e um fundo de pensão brasileiro, perdeu boa parte de um total de RS 800 milhões que aplicaram em um fundo de direitos creditórios, o Union National Financeiros e Mercantis. Os cotistas descobriram que o dinheiro investido em uma carteira com histórico de baixo nível de inadimplência tinha virado pó em setembro de 2009 - 96,2% dos créditos estavam atrasados. O fundo entrou em liquidação e tenta agora recuperar os créditos, mas as previsões mais otimistas não ultrapassam o ressarcimento de 40% do valor investido. A Union National, que criou o fundo, é uma empresa de factoring fundada em 1995. Além de idealizadora, ela era a cedente, a consultora de créditos e o agente de cobrança do Union.

Os sócios da Union, Maurice Kattan e André Kamkhaji, decidiram em 2006 replicar a operação da factoring em um fundo de direitos creditórios, permitindo que investidores participassem da atividade. Era uma forma de crescer sem ter de adicionar recursos próprios. O ganho da Union viria da prestação de serviço como consultaria de crédito, já que selecionava os papéis comprados pelo fundo, recebendo por isso cerca de 0,5% do patrimônio líquido ao ano.


Um grupo de 17 investidores está à procura dos R$ 800 milhões que aplicou em um fundo de direitos creditórios, o Union National Financeiros e Mercantis. Da noite para o dia, esses cotistas - quase todos fundos hedge estrangeiros mais um fundo de pensão brasileiro - descobriram que o dinheiro investido em uma carteira com histórico de baixo nível de inadimplência tinha virado pó em setembro de 2009. Nada menos do que 96,2% dos créditos estavam atrasados. Diante da notícia, o fundo entrou em liquidação e tenta agora recuperar os créditos, mas as previsões mais otimistas não ultrapassaram o ressarcimento de 40% do valor investido.

Guardadas as devidas proporções, o episódio ficou conhecido entre agentes do mercado financeiro local como a versão brasileira do caso Bernard Madoff, o mega gestor americano que criou em seus fundos um esquema de pirâmide, causando US$ 20 bilhões de prejuízo mundo afora. Perder 100% do dinheiro em um fundo de investimento é um risco do qual os cotistas estão cientes. Mas é algo incomum, já que os gestores dependem do sucesso das aplicações para continuar captando recursos dos investidores.

No caso do fundo da Union, porém, diversas peculiaridades chamam a atenção. A primeira questão é como a Union National, uma factoring criada em 1995, conseguiu levantar tanto dinheiro?

Sem um nome com tradição no meio financeiro, os sócios da Union, Maurice Kattan e André Kamkhaji, decidiram em 2006 replicar a operação da factoring em um fundo de direitos creditórios (FIDC), permitindo que investidores participassem da atividade. Era uma forma de crescer os negócios sem ter de adicionar recursos próprios. O ganho da Union viria da prestação de serviço como consultoria de crédito, já que selecionava os papéis comprados pelo fundo, recebendo por isso cerca de 0,5% do patrimônio líquido ao ano.

Em fevereiro de 2006, a factoring, que girava cerca de R$ 70 milhões em operações de fomento, criou um fundo que começou com R$ 50 milhões, sendo que parte dos créditos da própria Union migraria para a nova estrutura. As captações entre investidores não pararam por aí. Com a ajuda da BCP Securities, distribuidora de produtos financeiros, a Union foi ao exterior buscar recursos. Com novas emissões de cotas feitas de setembro de 2006 a setembro de 2008, o fundo engordou, atingindo patrimônio de cerca de R$ 800 milhões, mais de dez vezes superior ao porte inicial da Union.

"Era um período de muita liquidez. Os estrangeiros estavam comprando qualquer coisa sem fazer muitas perguntas", diz uma pessoa que participou do processo de captação. Na fase de captação o fundo pagou aos cotistas da 1ª e da 2ª séries rentabilidade equivalente a cerca de 140% do Certificado de Depósito Interfinanceiro.

Outro fato que intriga os investidores ouvidos pelo Valor, que preferiram o anonimato, é o fato de repentinamente a carteira ter se deteriorado. De março para setembro de 2009, a classificação de risco passou de "A+" para "CCC", segundo a agência Austin Ratings. O volume de créditos vencidos saiu de 13% para 96,2%, com papéis de empresas como a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), cooperativas agrícolas e o grupo Bertol, do Rio Grande do Sul. "Nunca vimos deterioração de crédito tão abrupta. Mesmo levando-se em conta a crise, isso não aconteceu com nenhum dos 103 fundos de crédito que analisamos", diz Mauricio Bassi, analista da Austin Rating.

Mas já havia alguns sinais de que as coisas não iam bem. Segundo a Austin, o prazo de vencimento dos créditos da carteira foi se esticando. De uma média histórica de 90 dias, o fundo passou a 185 dias em meados de 2009. "Esse sempre é um indicador de postergação de problema. Estica-se o prazo para ver se a empresa consegue quitar a dívida", explica Bassi.

Já no início do fundo, a Austin relatou que havia a concentração (quase 40% do patrimônio) em duplicatas cedidas pela Mundial, fabricante de talheres da qual Kattan era conselheiro. Apesar disso, naquela época a Austin atribuiu uma nota "A+" ao fundo. Outra peculiaridade do Union é o acúmulo de atividades pela factoring. Além de ser a idealizadora, era a cedente, a consultora de créditos e o agente de cobrança. Em paralelo ao FIDC, a Union continuava operando a factoring. "Quem garante que a Union não selecionou os piores créditos para o FIDC?", questiona um investidor. Todas as funções, porém, foram atribuídas à empresa com aval dos investidores.

Eles reclamam, porém, que o Bradesco, custodiante do fundo, repassou à Union a guarda física dos papéis, o que estaria dificultando o acesso à documentação. Procurado pela reportagem, o banco afirmou que "a informação não procede". "A prestação de informações e o relacionamento com os cotistas deve ser feito pela administradora do fundo."

Procurado por telefone pela reportagem para explicar a situação do fundo, Kattan enviou e-mail afirmando que o FIDC está em fase de renegociação dos créditos. "Já tem uma grande parte dos devedores renegociados, e o resto em processo judiciais", escreveu.

De acordo com José Alexandre Freitas, da Oliveira Trust, administradora do fundo, o problema foi a crise dos mercados em 2008. "Os créditos eram de clientes de factorings. Ou seja, devedores que já não tinham por onde correr e enfrentaram um momento de dificuldade. Não acredito em má fé porque os sócios da Union tinham dinheiro lá." Kattan e Kamkhaji tinham R$ 168,4 milhões em cotas subordinadas, aquelas que servem como um colchão para a inadimplência - já totalmente corroído.

Na próxima semana, os investidores decidirão em assembleia se contratam novo gestor. O nome em análise é o da Root Capital, criada por Rafael Fritsch, com foco na recuperação de créditos.

Esse não é o único episódio envolvendo a Union. Em 2007, a factoring captou outros R$ 300 milhões entre investidores brasileiros e estrangeiros para a criação de um fundo de direitos creditórios do agronegócio. Para isso, associou-se a uma empresa especializada em créditos do agronegócio, a EcoAgro. No ano passado, elas se separaram e agora a EcoAgro se comprometeu a devolver aos cotistas até 2013 pelo menos o principal investido.



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