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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tema polêmico deixado de lado


Autor(es): Diego Abreu, Josie Jeronimo e Luisa Medeiros
Correio Braziliense - 25/07/2010


Em encontro com líderes evangélicos, Dilma se compromete a não propor assuntos, como o aborto, caso chegue ao Planalto

Iano Andrade/CB/D.A Press
Dilma cumprimenta o bispo Manoel Ferreira, no principal templo da Assembleia de Deus em Brasília, na 910 Sul


De olho nos 34 milhões de votos evangélicos, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, firmou compromisso de não propor temas como o aborto e a união homoafetiva, considerados polêmicos pela igreja, se chegar ao Palácio do Planalto. Apesar de receber na coordenação de sua campanha o deputado federal e bispo Manoel Ferreira (PR-RJ), principal líder da Assembleia de Deus, que sozinha reúne mais de 13 milhões de seguidores, a petista precisou afinar o discurso para conquistar o entusiasmo dos fiéis, ontem, durante o evento que selou o apoio à sua candidatura, no maior templo da igreja em Brasília.

A presidenciável foi hostilizada por alguns fiéis que levaram faixas com os dizeres “apoiar a Dilma é negar a Bíblia”, mas abusou do discurso religioso para arrancar aplausos. Ela e o vice, Michel Temer (PMDB-SP), decoraram passagens bíblicas do Novo e Antigo Testamento, passando pelos evangelhos de Lucas, João e pelos ensinamentos de Salomão. Criticada durante a semana por um bispo da Igreja Católica por defender o aborto, a ex-ministra mudou o tom diante da plateia de evangélicos. “Sou a favor da vida em todas as dimensões e em todos os seus sentidos. Sou a favor da preservação da vida”, discursou, arrancando aplausos.

Sem mencionar diretamente o partido de seu principal adversário, José Serra (PSDB), Dilma recorreu ao trecho de um salmo para cutucar os tucanos. “O choro pode durar toda a noite, mas a gente sabe que a alegria vem pela manhã”, citou. E emendou: “O governo Lula encerrou uma era do choro”. No discurso, a candidata disse que aprendeu “com um amigo evangélico” uma lição sobre a vida e a missão de governar. Temer também não fez feio no teste junto aos líderes evangélicos. Contou que costuma admirar os jovens que se arrumam para ir aos cultos e repetiu que estava “cantando louvores” por estar ao lado de Dilma no evento religioso.

Lideranças
As boas-vindas à petista foram dadas por uma imensa faixa que atravessava a igreja com os dizeres “espalhados, somos poucos; unidos, somos milhões”. A frase traduz a estratégia do PT em se aproximar da Assembleia de Deus. O partido tem importante interlocutor junto à Igreja Universal do Reino de Deus, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ). O parlamentar participou do evento organizado por Manoel Ferreira e, segundo o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (SP), Crivella e o bispo da Assembleia terão convivência “harmoniosa”, apesar de serem adversários no Rio de Janeiro. A proximidade é estratégica para arrancar votos da candidata evangélica Marina Silva (PV) e de Serra, que têm se aproximado de igrejas protestantes.

Crivella não integra a coordenação da campanha de Dilma. Já o líder da Assembleia de Deus, afirma Cardozo, será responsável pelas articulações junto ao eleitorado evangélico. A missão de Manoel Ferreira é tentar aglutinar e unir o maior número possível de igrejas evangélicas. Na terça-feira, o bispo se reunirá com pastores de todo o país para definir a atuação das lideranças religiosas no convencimento por votos para Dilma.



O número

17 de agosto
data de início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV

No território do adversário


Os petistas do Distrito Federal dividiram espaço no principal templo da Assembleia de Deus de Brasília, na Asa Sul, com aliados do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), principal adversário do candidato Agnelo Queiroz (PT) na disputa ao Palácio do Buriti. O anfitrião da festa organizada para apoiar a presidenciável Dilma Rousseff (PT), pastor Egmar Tavares (PTdoB), é segundo suplente na chapa de Maria de Lourdes Abadia (PSDB), concorrente ao Senado pela coligação encabeçada por Roriz.

A mistura de cores partidárias no ato político-religioso teve que ser engolida pelos candidatos. O nome do PT ao governo local, Agnelo Queiroz, prestigiou o evento longe da mesa principal, sentado próximo a oponentes da aliança, como o deputado federal Bispo Rodovalho (PP), candidato à reeleição. Candidatos ao Senado da chapa de Agnelo, Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), também não tiveram espaço de destaque no templo. “A companheira Dilma tem apoios muito amplos. Tenho certeza que meus adversários, não esses que estavam aqui, mas todos, adorariam apoiá-la porque sabem que é a melhor candidata a Presidência da República”, afirmou o petista.

Apesar de ser da base de apoio a Roriz, Rodovalho faz uma campanha descolada do ex-governador no DF. Na festa organizada pela cúpula evangélica a Dilma, no entanto, ele fez questão de comparecer e minimizou as diferenças partidárias. “A gente vai ter que aprender a fazer a ponte nacional independentemente das diferenças locais”, disse.

Colega de partido de Rodovalho, Benedito Domingos, que é candidato à reeleição para a Câmara Legislativa, elogiou o discurso de Dilma. “Ela foi bem instruída. Quando disse que defende a vida, está querendo dizer que é contra o aborto. Quando a candidata falou que valoriza a família, eu entendo que ela não deve ser a favor do casamento homossexual”, analisou. Ao encontrar com Agnelo na saída da igreja, Benedito o chamou de “governador”. “Ele é meu amigo. Vou trabalhar para o Roriz, mas se Agnelo ganhar vou apoiar o governo dele”, afirmou. (LM)

Em busca do voto na rua


Os presidenciáveis Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) aproveitaram o sábado para se aproximar do eleitorado. A candidata do Partido Verde fez corpo a corpo junto a internautas na capital paulista, enquanto o tucano passou o dia no Paraná, onde voltou a criticar a principal concorrente, Dilma Rousseff (PT).

Em Paranavaí, no noroeste paranaense, Serra participou de uma carreata ao lado do candidato tucano ao governo do estado, Beto Richa. Aos jornalistas, o ex-governador de São Paulo disse acreditar que sua campanha ganhará fôlego a partir do momento em que as emissoras de TV realizarem os debates entre candidatos. Segundo ele, esse vai ser o momento ideal para que os eleitores passem a conhecer os candidatos e suas respectivas propostas.

“A gente não pode ficar confrontando slogans, rumores, boatos. Campanha não pode ser isso”, destacou Serra, que disse ser favorável a um debate “pacífico e gentil, mas substancioso e firme”.

Com 10% de intenção de votos na pesquisa Datafolha divulgada ontem, a candidata do PV à Presidência, Marina Silva, aposta em um efeito “pororoca” para promover reviravolta em sua campanha e chegar ao patamar eleitoral de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que passaram a casa dos 30% de citações nas sondagens. Para Marina, assim como o curso dos rios é modificado pela confluência das águas, a campanha tem chances de decolar de uma hora para outra. “Você não acha que a pororoca não se forma rapidamente quando as águas se juntam? Isso aqui é um encontro das águas”, disse ontem em São Paulo, depois de participar de café da manhã com o internauta Pedro Pongelupe, idealizador do “twitaço” que gerou 16 mil citações ao nome da candidata do PV.

Feliz
Marina afirmou que ficou “feliz” por aparecer com 1% a mais na pesquisa, em comparação à sondagem divulgada no fim de junho. A presidenciável verde disse que o “mundo da pesquisa” registra apenas o “momento” da apresentação do questionário e que no “mundo real” é possível reverter a desvantagem da candidatura em relação a Serra e Dilma. Na pesquisa ela aparece com 10% de intenção de votos quando apresentada na lista de candidatos e com 4% na sondagem espontânea.

Ainda de acordo com a consulta do Datafolha, Dilma e Serra aparecem tecnicamente empatados. A candidata do PT tem 36% das intenções de voto e o tucano, 37%. A margem de erro da pesquisa, que ouviu 10.905 eleitores entre os dias 20 e 23, é de 2%. Na projeção de um segundo turno entre os candidatos mais lembrados, Dilma fica com 46% contra 45% de Serra. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número 20164/2010.

Na sondagem espontânea, em que os eleitores citam o candidato preferido sem o pesquisador listar opções, Dilma tem grande vantagem. A petista tem 21% da intenção de voto espontânea contra 16% do tucano.



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