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sábado, 20 de março de 2010

O doido, o daime e o crime (trecho)



Qual é a relação entre o consumo religioso da ayahuasca e o comportamento psicótico do assassino do cartunista Glauco?
Humberto Maia Junior, Ana Aranha, Rafael Pereira e Juliana Arini Com Alexandre Mansur, Eliseu Barreira, Leopoldo Mateus e Naiara Lemos
Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 20/março/2010.

Assinantes têm acesso à íntegra no Saiba mais no final da página.

Fotos: Christian Rizzi/Gazeta do Povo/AE e Marcos  Mendes/Folha Imagem
RÉU CONFESSO
Cadu Nunes, preso na Polícia Federal de Foz do Iguaçu, depois de confessar ter matado o cartunista Glauco (no detalhe)
Na madrugada de 1º de janeiro de 2010, o comerciante Carlos Grecchi Nunes recebeu uma ligação de seu filho mais velho, de 24 anos:

– Pai, eu tô morrendo, me salva.

Nunes, que mora em Goiânia e estava em São Paulo para passar as festas de fim de ano com a família, tentou conversar com o rapaz, mas ele estava desorientado. Aos poucos, com dificuldade, conseguiu entender que o filho estava dentro do carro, parado numa estrada de terra próximo à igreja Céu de Maria, um dos locais de culto do santo-daime, religião criada em torno de uma droga alucinógena de origem amazônica conhecida como ayahuasca. A igreja fica em Osasco, na Grande São Paulo. Nunes pegou o carro e foi em busca do filho. Quando chegou à igreja, diz ele, um homem contou que seu filho tinha deixado o local de carro:

– Estava muito pilhado e foi embora.

– Mas como você deixa o rapaz sair desse jeito de carro? – disse o pai.

– Não há problema. Deus está com ele.

Nunes diz que refez o caminho e, seguindo a orientação de um morador, encontrou o filho. “Tive de quebrar a janela do carro para chegar a ele”, afirma. “Ele tinha urinado e defecado. Estava suando, babava e tremia muito. O celular estava na mão dele, mas ele não conseguia atender às várias ligações que eu tinha feito.”

– Tô morrendo, pai, tô morrendo – repetia o rapaz.

Nunes ligou para seu outro filho e pediu ajuda. Horas depois, Cadu – como todos chamavam Carlos Eduardo Sundfeld Nunes – estava mais calmo. Diante da melhora, o pai não o encaminhou ao hospital. Nem insistiu em interná-lo numa clínica psiquiátrica, embora Cadu já tivesse dado sinais de perturbação mental e carregasse antecedentes familiares de esquizofrenia (sua mãe sofre da doença). Olhando para trás, é fácil perceber indícios de que Cadu estava a caminho de um desastre, mas a família não entendeu. Foi um erro.

Três meses depois da crise do Ano-Novo, na madrugada da última segunda-feira, o mesmo Cadu foi preso na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, quando tentava fugir com um carro roubado para o Paraguai. Trocou tiros com policiais federais e feriu um deles no braço. Interrogado, confessou diante dos repórteres que três dias antes havia matado em São Paulo o cartunista Glauco Villas Boas, de 53 anos, e seu filho Raoni, de 25, um duplo assassinato que chocou o país:

– Foi eu. Foi eu – gritou, de olhos esbugalhados, para as câmeras de televisão.






LAST





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