Segundo ele, ‘circo’ teve fim, mas agora haverá etapa técnica ‘racional’.
Promotor, no entanto, diz não acreditar em recurso.
Após cinco dias de embate entre o promotor Francisco Cembranelli e o advogado de defesa Roberto Podval, o casal Nardoni foi condenado pelo júri. Para Podval, no entanto, o caso Isabella está longe do fim. “Acabou o júri. Acabou o grande circo que a população buscava. Eu tenho esperança agora que começa o prazo em uma etapa técnica, em uma fase racional. Eu peço que a população respeite essa família tão sofrida, deixe que pelo menos a família continue a vida dentro de um mínimo de respeito”, diz. "Na minha visão, a gente ainda não sabe o que aconteceu, na minha visão talvez a gente nunca venha saber o que tenha acontecido."
Não é só nesse ponto que os dois discordam. Veja a seguir:
Acusação x defesa
Francisco Cembranelli: “Eu não acredito que houve nenhuma perda e a vitória alcançada se deu em razão da qualidade do trabalho feito. Houve um esforço muito grande de profissionais competentes para apresentar o resultado ao conselho de sentença.”
Roberto Podval: “Por um lado o doutor Cembranelli brigava e utilizava da força da modernidade, da força da perícia. E por outro lado, ele utilizava um discurso de lombroso. Lombroso é aquele que dizia que o homem com a cabeça grande é criminoso. Não havia provas contra eles, a perícia errou. A perícia fala em esganadura, mas a perícia não chega em quem teria esganado aquela criança.”
Reação popular
Francisco Cembranelli: “Eu entendo que o julgamento foi de alto nível e deveria ser mantido até do lado de fora, claro que as pessoas ficam curiosas, poderiam estar na frente do fórum fazendo as tais vigílias, mas eu sempre pedi que houvesse calma por parte da população.”
Roberto Podval: “É assustador, é assustador. Nós íamos a um julgamento e eu não poderia entrar pela porta da frente. Para chegar ao fórum, eu tinha de ir cada dia com um carro diferente para não saberem que era eu. Tinha que ter reforço policial para me acompanhar. Eu não podia sair para almoçar, porque o dia que eu saí, eu apanhei.”
Os jurados
Francisco Cembranelli: “Os jurados todos chegaram com uma ideia e isso foi muito divulgado e era impossível que alguém não soubesse do caso Isabella, mas, no momento em que os jurados foram sorteados, eles ficaram absolutamente confinados e eles estavam bem preparados, sabiam da importância da missão.”
Roberto Podval: “Os jurados são membros da própria sociedade. A sociedade está contaminada, não é possível que eles não estivessem.”
O que levou à condenação
Francisco Cembranelli: “Um conjunto de provas bem produzido e exposto. Felizmente eu tive o equilíbrio e o bom senso de fazer uma acusação respeitosa, mas firme, eficiente e que pudesse ser compreendida pelo conselho de sentença.”
Roberto Podval: “A opinião pública, o que foi construído durante esses dois anos e que era impossível ser desconstruído em cinco dias. Tudo que está provado nos exames técnicos, eu vou partir da premissa que é verdade. Aí eu pergunto: a prova técnica chega à autoria do delito? E a verdade é não.”
A sentença
Francisco Cembranelli: “Eu não discuto muito pena, o juiz tem seus critérios, se eventualmente houver um recurso da defesa questionando a quantidade, isso vai ser apreciado por câmaras criminas com competências, com conhecimentos técnicos profundos.”
Roberto Podval: “A pena representa o clamor que o juiz também sentia todo dia que ele entrava no fórum. Foi justa? Se você levar em consideração a pena proporcional ao clamor popular, foi. E foi essa porque não tinha pena de morte, se não, iriam condená-los à morte. Se ela foi justa dentro do enredo do caso, é difícil adequá-la ao caso, porque a gente não tinha a verdade do que aconteceu.”