da France Presse, em Santa Clara
da Folha Online
O jornalista cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome, rejeitou as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou os presos políticos cubanos a presos comuns, e disse que Lula se preocupa "mais com a política do que com pessoas".
"Sei que (Lula) nos comparou com delinquentes comuns, e estas declarações merecem ser rejeitadas. Lula está mais comprometido com suas ideias políticas de extrema esquerda do que com a raça humana", disse Fariñas à France Presse em sua casa de Santa Clara (280 km a leste de Havana), onde faz greve de fome desde 24 de fevereiro.
Ao questionar a greve de fome de Fariñas o presidente brasileiro disse: "Imaginem se todos os bandidos que estão presos aqui em São Paulo entrassem em greve de fome e exigissem liberdade (...). Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos".
Fariñas, 48 anos, já perdeu 13 quilos com a greve de fome e apresenta sinais de desidratação, mas se recusa a ir para o hospital, como recomendam os médicos.
"Sinto em recusar, mas não vou fazer isto (ir ao hospital) porque na minha consciência não cabe outra morte como a de Orlando Zapata", disse Fariñas sobre o preso político que morreu de greve de fome no dia 23 de fevereiro passado, em meio à visita de Lula a Cuba.
Zapata estava em greve de fome há dois meses e meio, para exigir a libertação de 26 presos políticos cubanos com problemas de saúde.
"Não estamos pedindo que (o presidente) Raúl Castro entregue o poder", é apenas um "gesto humanitário" para salvar presos doentes.
Carta
Na véspera, um grupo de dissidentes cubanos divulgou uma carta pedindo a Lula que interceda para que Cuba liberte os presos políticos doentes, evitando, assim, a morte de Guillermo Fariñas.
"Acreditamos que o senhor pode interceder junto ao governo de Cuba para pôr fim a uma situação que, além disso, obscurece os esforços destinados a articular uma autêntica comunidade de Estados latino-americanos e caribenhos centrada nos direitos de seus cidadãos".
"A influência regional do Brasil, sua confiança no potencial transformador da sociedade democrática e seu conceito de estratégia podem ajudar Cuba a compartilhar padrões mundiais em matéria de direitos humanos", expressaram os dissidentes.
Amorim
O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira que "muita gente pede o apoio" do governo brasileiro, mas que "não é possível ajudar todo mundo", em referência ao apelo de dissidentes cubanos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que interceda junto ao governo de Raúl Castro pela libertação de presos políticos.
Amorim disse também que o governo brasileiro "está comprometido com a defesa da democracia e com os direitos humanos", mas que a administração também "já teve experiências em que as condenações públicas nem sempre tiveram resultados práticos".
O chanceler recordou uma ocasião em que o próprio presidente Lula fez greve de fome, durante o período da ditadura militar (1964-1985), e considerou tais declarações seriam uma espécie de "auto-crítica" sobre o efeito obtido por tal tipo de protesto.
Amorim afirmou ainda que o Brasil está "comprometido em ajudar Cuba através de "comércio e infra-estrutura", e disse que tais "progressos trazem outras mudanças", e que "o próprio povoo cubano sabe que elas ocorrerão". "Se alguém está interessado em promover uma evolução política em Cuba, há uma receita muito rápida: acabar com o embargo dos EUA".
De acordo com o chanceler, se as sanções econômicas que os EUA mantêm contra Cuba desde 1962 fossem suspensas, "isso em si traria grande mudanças políticas para a ilha".
s Sphere: Related Content