10.08.09
Prestes a lançar Tempos de Paz, Tony Ramos analisa a produção cultural do País e avisa: quer ser executivo de TV
Ninguém passa batido por ele. Conhecido por sua discrição, Tony Ramos comemora 45 anos de carreira como um homem bem resolvido: “Sou um artista popular.” O que se comprova em sua quadragésima novela, Caminho das Índias, onde conquista a simpatia geral na pele de Opash Ananda. E não lhe faltam palavras para explicar tantos tiros certeiros: “Entendo e gosto desse negócio de televisão.” A ponto de já pensar em mudar de ares no futuro: “Penso em me tornar um executivo de TV.”
Prestes a lançar Tempos de Paz, filme que estreia sexta-feira, onde interpreta um policial torturador da Era Vargas, avalia: “Este é um filme de boca-a-boca, diferente dos dois Se eu fosse você - referência aos fenômenos de bilheteria em que trabalhou com Daniel Filho, mesmo diretor de Tempos de Paz.
Em sua fala acalorada, o ator dividiu com a coluna opiniões e avaliações sobre a cultura brasileira e a polêmica discussão sobre a reforma da Lei Rouanet. Sem medo das críticas, resumiu: “Sem apoio, não se abre o pano.” A seguir, trechos da entrevista.
Como foi a filmagem de 'Tempos de Paz'? Foi baseada na sabedoria do bom diretor, apenas. Daniel Filho já tinha assistido à peça, que adorou. Mas, obviamente, contar a história em cinema é muito diferente de estar no palco, pois há cenários enormes, muitos figurantes, etc. Mas o que fica, de fato, é a palavra. A alma, a emoção.
De que tipo de emoção você fala? Emoção é a porosidade que transborda do ator. É quando o personagem vem à tona de forma verdadeira. Eu sou daqueles que não vivenciam o personagem. Mas tento fazê-los de forma verdadeira. E, realmente, eu mergulho na história.
A maioria dos atores se interessa por bons roteiros. O que o atraiu nessa história? É um filme que fala da intolerância humana, do preconceito, do desamor entre as pessoas. Falamos também a respeito da burocracia, da violência e do amor. Mas o que mais me interessou no filme foi a palavra. Perto dela não existe internet, blog, twitter, nada dessas coisas.
Mas você não usa a internet ? Não critico o uso da internet. Entretanto, não sou blogueiro e nem cultuo nada disso. Me sirvo da internet, quando necessária. Não passo mais de 40 minutos em um computador e às vezes passo dois dias sem ligá-lo. Não me deixo escravizar por nada. Mas uma coisa me conquista: a palavra. E isso está presente nesse filme.
'Tempos de Paz' se passa na Era Vargas. Você acha que o brasileiro ignora a própria história, ou simplesmente não tem conhecimento dela? O filme faz referência a esse período histórico, mas sem assumir nenhuma cor política ou partidária. Acho que o brasileiro, em geral, é desinformado. É fundamental conhecer e respeitar a história. Mas acredito ser importante viver o presente. Não vivo do passado, olho para o agora. O futuro, quando muito, é uma programação de pagar as contas e ponto final.
Você faz parte de um fenômeno de bilheteria, que são os filmes 'Se Eu Fosse Você' e 'Se Eu Fosse Você 2'. Como avalia a situação atual do cinema brasileiro? Seis milhões de espectadores são realmente um fenômeno. Logicamente, Tempos de Paz é um outro segmento. É um filme de boca-a-boca. Acredito que no cinema brasileiro há espaço para tudo. Para filmes de questionamentos sociais e políticos e para a filmes de cultura popular. Não podemos ignorar essa manifestação, um exemplo é Se Eu Fosse Você, que obteve boas críticas e muito público. Isso é fruto de um bom roteiro.
Ser um ator de televisão não ajuda na hora de captar recursos? A televisão é uma indústria. Mas a engrenagem do teatro não é industrial e sim, artesanal. Por isso é fundamental apoiar o circo, por exemplo. Grupos batalhadores por uma nova linguagem, também. Mas o ator de televisão precisa igualmente de apoio. Não podemos ter ranços preconceituosos.
Você é um ator referência para a nova geração da televisão. Acredita que temos uma boa safra de atores saindo do forno? Muito boa, difícil citar todos sem esquecer alguém. Para mim um dos atores mais carismáticos e simpáticos do Brasil é o Fábio Assunção. Que é um querido companheiro e há de voltar com tudo. Atrizes como Mariana Ximenes, a Ísis Valverde, também estão despontando muito bem.
Como tem sido a reação popular ao seu personagem de Caminhos das Índias, Opash Ananda? É o feed back mais adorável possível. Ando brincando com o público, dizendo que não tenho mais idade para isso (risos). As crianças me pedem para fazer um “hare baba” (risos). Fico feliz por conseguir, aos 45 anos de profissão, continuar trabalhando, do jeito que eu sempre quis fazer. Sou um artista popular e não nego isso.
Você já sofreu algum preconceito no cinema por trabalhar há muitos anos em televisão? Às vezes há um tom blasé, alguém fala “Ih, aquele cara faz novela...” Mas há momentos de solos primorosos em telenovelas. Por isso que eu digo: eu adoro fazer novela. É uma catarse popular. E, nesse contexto, sou apenas um homem que exerce seu ofício de ator. Nada mais do que isso.
Pretende mudar de área futuramente? Quem sabe, me tornar um executivo de televisão. Tenho vontade de levantar ideias, produzir e executar projetos. Não vou ser hipócrita de negar que eu entendo muito desse negócio (televisão). Mas nem por isso viro os olhos para o teatro, para o cinema. Gosto de boas histórias, essa é a verdade.
E o que acha da reforma da Lei Rouanet? É um assunto muito sério, com complexidades maiores, que não cabem numa análise frontal. Sem apoio, não se abre o pano. Mas o grande erro é as pessoas acharem que isso é algo exclusivo do Brasil. No mundo inteiro há apoios culturais e ingressos cobrados. A Broadway não tem incentivo público mas existem ações abertas no mercado, filantropos que abatem do imposto de renda. Em Portugal há companhias teatrais inteiras que são estatais. Portanto, todo fomento à cultura é bem-vindo. Claro que não sou favorável a dar dinheiro a qualquer coisa, há que se discutidor com bom senso.
E quais são os próximos projetos? Encerro a novela em setembro, ajeito a casa, fico quietinho e em outubro começo a me preparar para a novela de Silvio de Abreu.
Por Marilia Neustein
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