"Três horas vendo esse lixo. Não acontece nada. O cara arruma uma mulher, depois arruma outra, aí termina andando na praia. Só a Donatela para gostar desse tipo de coisa. Ela e a Lara. Tal vaca, tal vaquinha."
Essa é Flora, a vilã pop do momento, destruindo o clássico filme de Fellini "A Doce Vida" (1960) e a própria filha.
A perversa personagem de "A Favorita", da Globo, caiu nas graças do telespectador. Tudo bem que muitos a odeiam, de tão má que é, mas ela também coleciona fãs. No site de relacionamentos Orkut, há comunidades dos que a "amam" por "suas qualidades" ou porque, "apesar dos crimes, nos diverte muito com as suas loucuras".
De fato, Flora, que já assassinou três e seqüestrou a filha, vive a disparar frases e expressões impagáveis, o melhor repertório da vilania televisiva em muitos anos. E tudo dito com um olhar maligno que Patrícia Pillar, 44, sua intérprete, jamais havia experimentado em toda a sua carreira.
À filha, Lara, meiga milionária interpretada por Mariana Ximenez, ela se refere como "pentelha", "purgantezinho", "xaropinho", além da já citada "vaquinha".
Seu pai, Pedro (Genézio de Barros), e o sogro, Gonçalo (Mauro Mendonça), simpáticos senhores, são "velhos babões". A sogra, Irene (Glória Menezes), que é uma mãe para ela, não passa de "velha cretina e safada".
Nesta semana, Flora, em uma única frase e entre dois tabefes, chamou Dodi (Murilo Benício), seu aliado, de "canalha, irresponsável, incompetente, animal, imbecil, estúpido, toupeira e louco". E Donatela (Cláudia Raia), a mocinha da história e sua arqui-rival, além de "vaca", é "ignorante, burra, cafona e caipirona".
Editoria de arte | ||
Risos
Pillar conta não segurar o riso muitas vezes ao ler o roteiro e nas gravações, especialmente nas cenas com seus cúmplices, Silveirinha (Ary Fontoura) e Dodi.
"A gente se diverte muito, apesar de ter um lado pesado. Flora tem um certo humor por ser uma pessoa sem limites. Às vezes, pensamos coisas que não dizemos. Ela é doente, louca e fala tudo. O humor ajudou a personagem e, nas ruas, percebo que telespectadores da novela falam comigo rindo e não com ódio", diz a atriz à Folha.
O autor de "A Favorita", João Emanuel Carneiro, que afirma ter se inspirado em si próprio ao criar Flora, acredita que a língua solta da vilã funcione como uma psicanálise. Pillar sente também o efeito de dar sua voz a tantas barbaridades.
"É como se, de alguma maneira, eu exercitasse essa liberdade sem nenhum ônus. E talvez ela provoque uma catarse no telespectador justamente pelo fato de não se reprimir. Isso é muito bom em uma época tão politicamente correta", defende.
A maldosa é, para Pillar, "a personagem mais rica" de sua carreira.
A atriz vinha de uma seqüência de papéis de boazinhas, como Cândida, de "Sinhá Moça" (2006), e Emerenciana, de "Cabocla" (2004), e confessa: "Ser vilã é muito divertido. Ela pode tudo, é liberta. E a Flora é especialmente rica. Como finge ser boa para alguns, às vezes tenho que fazer dois personagens na mesma cena".
Flora se revelou ao público 56 capítulos após a estréia da novela. Até então, não se sabia se era a mocinha ou a vilã. A partir daí, sua crueldade aumenta a cada capítulo, de forma surpreendente até para a sua intérprete.
"Desde o início, sabia que ela seria má, mas não tão perversa", conta Pillar. "Fazer esse papel é um desgaste louco, porque ela é um turbilhão, é aquecida, não pára de pensar, de armar coisas, nunca está relaxada. Conseqüentemente, é difícil para mim relaxar meu corpo também."
Sphere: Related Content
Nenhum comentário:
Postar um comentário