Gabriel Bonis
4/10/2011 21:21,
Por Gabriel Bonis, no sítio da CartaCapital:Em uma palestra sobre o
atual jornalismo brasileiro na Faculdade Cásper Líbero, na
segunda-feira 3, o jornalista Mino Carta, diretor de redação de
CartaCapital, defendeu a regulamentação da mídia como forma de controlar
os interesses dos proprietários de veículos do setor. “Quando se toca
neste assunto, a mídia se apressa em dizer que está sendo tolhida.
Porém, trabalhei fora do país em um lugar onde patrão não poderia ser
diretor de redação por lei. É indispensável estabelecer esse limite”,
disse Carta.Aos 77 anos, o jornalista, criador das revistas Quatro
Rodas, Veja e CartaCapital e do Jornal da Tarde, afirmou a uma platéia
lotada, principalmente por estudantes de jornalismo, que a profissão
reflete os atrasos políticos e sociais do País. “Não tenho uma boa
opinião do jornalismo brasileiro e isso não deve mudar a curto ou médio
prazo”, alfinetou.Porém, essa visão não desanima a estudante de
jornalismo Helena Lima. “É uma análise bem realista, mas não chega a
assustar”, observou. “Creio que essa análise pessimista é até comum
entre os jornalistas de uma forma geral”, concordou a também estudante
Carolina Salomão, de 21 anos.Segundo Carta, “alguns senhores, donos de
veículos de mídia, carregam a herança da Casa Grande. Mostram um país
que eles gostariam de ver”. Como exemplo deste posicionamento, cita o
episódio ocorrido com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, na
França, na última semana.Na oportunidade, Lula recebeu o seu sétimo
título de doutor honoris causa. A premiação era do Instituto de Estudos
Políticos de Paris, o Sciences Po, que concedeu a honraria pela primeira
vez a um latino-americano. O diretor de redação de CartaCapital
destacou que alguns correspondentes brasileiros na coletiva de imprensa
“encarnaram seus patrões e manifestam o ódio de classe”. “Questionaram a
decisão de uma respeitada instituição que pesou prós e contras,
perguntando como era possível alguém que nunca leu um livro receber um
título de doutor.”A estudante de jornalismo Renata Moura, de 21 anos,
concordou com as críticas feitas por Carta à mídia nacional, e aos seus
correspondentes a “encarnar seus patrões”. “Acredito que é importante
debater esse aspecto de casa grande e senzala e os problemas do
jornalismo brasileiro, entre eles o fato de que os donos não deveriam
ser diretores de redação.”O criador de CartaCapital também mostrou-se
preocupado com fato de alguns veículos de imprensa não se
conscientizarem da importância de levar aos leitores uma informação
correta. “É preciso sempre manter a fidelidade canina à verdade factual,
mas infelizmente o jornalismo brasileiro atual não a respeita e omite
fatos quando não lhe convém que algo venha à tona. Isso quando não
mente.”Carta falou também sobre o dever da imprensa em fiscalizar o
poder, que nem sempre está na política. “Entendemos sempre que a
política é corrupta, mas há uma via de duas mãos, quem corrompe e quem é
corrompido. Nessa operação não existe somente políticos, há os senhores
do poder, não só deputados, ministros e senadores.” Em seguida,
ironizou: “A nossa corrupção é a mais glamurosa do mundo.”OpiniãoSegundo
Carta, há espaço para a opinião no jornalismo, desde que seja feita uma
apuração apresentando todas as partes envolvidas. “O espírito crítico
nos permite saber que estamos vivos, é uma dádiva”, declarou, apontando
que o formato de CartaCapital difere das demais revistas semanais do
Brasil por ter uma característica de análise.Sobre sua carreira, ele
destacou a liberdade técnica que teve para fundar o Jornal da Tarde, na
década de 60. “O jornal saia às 12h no centro de São Paulo. Era
corajoso, bem feito e valorizava as grandes reportagens, além do tom
literário. Embora tenha que admitir, o jornal cresceu muito após a minha
saída em 1968 para dirigir a Veja, tendo o seu ápice até 1973.”Em
relação à semanal que também fundou, Carta é enfático: “Criei um
monstro”. Porém, mantém o bom humor ao ser questionado se, como
ex-diretor da revista Quatro Rodas, uma publicação sobre carros, sabe
dirigir. “Não sei a diferença entre um Fusca e uma Mercedes. Talvez por
isso a revista tenha sido um grande sucesso”, brincou.O jornalista
também falou sobre a internet como ferramenta para buscar informações em
mídias alternativas aos grandes veículos de imprensa. “É um instrumento
excelente, mas depende de quem está usando”, declarou. “Já tive e
abandonei um blog porque por trás desse negócio há uma questão moral.
Quem escreve não se identifica, ofende e não mostra quem é ou o que
quer.”Uma característica que, segundo Moura, não deve ser encarada de
forma negativa. “Se você é um Mino Carta ou Rubens Paiva, vai ser
atacado, mas é importante continuar escrevendo, é apenas mais um aspecto
desse meio.”CartaCapital escolhe candidato à presidência
Por Alberto Dines
CartaCapital segue um rito adotado com freqüência pelos grandes veículos jornalísticos, principalmente nos Estados Unidos regido pelo regime presidencialista. Na Europa, mais inclinada para o parlamentarismo, esse tipo de adesão a um candidato é menos usual considerando-se que uma opção partidária sugere sempre um compromisso mais duradouro.
Embora louvável e meritória, a iniciativa de CartaCapital é, de certa forma, desnecessária. A revista tem apoiado de forma quase irrestrita não apenas o presidente, mas o seu governo e, principalmente, o seu partido. Poupa apenas os seus aliados. Esta é uma opção antiga e ficou mais visível a partir de maio de 2005, quando começaram as revelações a respeito do escândalo do mensalão. De qualquer forma, a preservação dos ritos é sempre bem-vinda e, sobretudo, a preservação dos ritos democráticos.
*** Trechos do editorial "CartaCapital declara sua preferência, com transparência e sem hipocrisia", copyright CartaCapital nº 409 – 6/9/2006 Há quatro anos, CartaCapital fez sua opção, declarou explicitamente preferência pela candidatura Lula no confronto com José Serra. Agora volta a escolher o presidente no embate contra Geraldo Alckmin. Em 2002, não faltou quem condenasse nosso comportamento, por considerá-lo impróprio de um jornalismo isento e pluralista.
Estas definições às vésperas de uma eleição são comuns, no entanto, nas melhores mídias do mundo. De resto, aqui mesmo, o O Estado de S.Paulo apoiou abertamente a candidatura Serra, ao contrário dos demais que alardeavam, e impávidos alardeiam, uma eqüidistância inexistente. Isto, em castiço, chama-se hipocrisia. (...)
O governo Lula ficou longe daquele que teríamos desejado. Tem, entretanto, seu trunfo, a própria eleição de um ex-metalúrgico, retirante nordestino, para a presidência da República, a despeito da ojeriza, quando não o ódio, que nutrem por ele os graúdos de vários calibres, e os aspirantes a graúdos.
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