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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Por que Steve Jobs foi genial



Apple: o futuro sem Steve Jobs

A renúncia do fundador da Apple, a empresa de tecnologia mais influente do mundo, marca o fim de uma era. O desafio agora é mostrar que a companhia pode manter acesa a chama da inovação, a capacidade de revolucionar o mercado e influenciar a sociedade

Por Clayton MELO e Bruno GALO
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 Clique e confira entrevista em vídeo com os autores da reportagem



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Chove em Miami. É a manhã da quinta-feira, 25 de agosto, e a loja da Apple no Aventura Mall, um shopping a cerca de 30 minutos do centro, está lotada. Os funcionários de camiseta azul e a mítica maçã estampada no peito recebem os clientes com um sorriso, como se nada fora do habitual estivesse acontecendo. Nenhum sinal de que, na véspera, eles haviam recebido o e-mail com a carta de renúncia de Steve Jobs da presidência da Apple. A segunda maior empresa em valor de mercado do mundo – US$ 346 bilhões, perdendo apenas para a Exxon Mobil com US$ 349 bilhões –, não será mais tocada por seu criador, mas ninguém aqui parece se importar com isso. “‘É business as usual’, nada vai mudar”, disse a Milton Gamez, da DINHEIRO,  o técnico Eric Kruger, um jovem de Minnesota que trabalha há sete anos na empresa.  E que pretende continuar por lá . “Todo o meu dinheiro está investido na Apple e não estou preocupado”, afirma, enquanto consulta o preço da ação em seu iPhone. Sua visão, serena, não é diferente da maioria dos comentários dos analistas ouvidos freneticamente pelos programas financeiros da tevê  americana na noite anterior e nas primeiras horas do dia.
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Na prática, a saída de Jobs já era esperada desde janeiro, quando se afastou do dia a dia para tratar de um grave câncer no pâncreas, descoberto em 2004. Sua sucessão por Tim Cook como CEO  estava definida e ele continuará a acompanhar a Apple, agora na presidência do conselho de administração. E mais: os produtos que devem sair do forno nos próximos dois anos, entre eles o iPhone 5 e o iPad3, já estão sendo desenvolvidos. “Nosso principal designer, Jony Ive, continua na empresa”, lembra Kruger, citando o vice-presidente sênior, que acompanha Jobs desde o final dos anos 1990 e está por trás de grandes lançamentos, do iMac ao iPad.
 
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O técnico da Apple Eric Kruger (à direita) atende consumidora no Aventura Mall, shopping próximo a Miami
 
É verdade, mas será que os fiéis consumidores acreditam na versão de que a Apple continuará a surpreendê-los mesmo sem a presença de seu fundador? O dentista esloveno Peter Weber, 26 anos, que acaba de comprar um iPad 2, mantém a fé na companhia americana. “A Apple tem o DNA de Steve Jobs, certamente continuará revolucionária”, diz Weber. Seu pai, Vladimir Weber, um médico de 59 anos, também aposta na continuidade. “É uma empresa grande demais para depender de um homem só”, afirma.
 
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Peter Weber (esq) e Vladimir Weber, clientes da Apple, em loja de Miami
 
Pode ser, mas não há dúvida de que o distanciamento definitivo do fantástico criador da Apple, um dos nomes capitais da história da tecnologia mundial, significa o fim de uma época. E talvez tenha sido justamente para não alimentar reações ainda maiores à notícia de seu afastamento que Jobs optou por comunicar sua saída de forma bem simples. Fez uma despedida minimalista, como os produtos que levam sua assinatura. Com uma carta de 138 palavras, que consumiram 634 caracteres, impressos em papel e sem timbre, Jobs encerrou na quarta-feira 24, uma das mais notáveis trajetórias do mundo dos negócios em todos os tempos. O homem que se tornou o mais revolucionário inovador das últimas décadas, desta vez, não inventou: sua última criação como CEO da Apple foi uma singela carta-renúncia encaminhada ao conselho de administração e aos 46 mil empregados. “Sempre afirmei que, caso chegasse o dia em que não pudesse mais cumprir meus deveres e atingir minhas expectativas como CEO da Apple, seria o primeiro a lhes dizer. Infelizmente, esse dia chegou”, escreveu.   
 
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Se foi recebida com normalidade por alguns funcionários e consumidores, como no caso da loja de Miami, a carta redigida por  Jobs, o mago que revolucionou o mundo digital e se tornou uma figura pop em todo o planeta, causou um furor na mídia internacional. Em questão de minutos, a informação varreu a internet, a televisão e a mídia escrita. O impacto inicial fez as ações da empresa cair quase 6% nas primeiras horas. A Apple se apressou então em garantir que Jobs  continuará a colaborar  com a companhia.  Na quinta-feira 25, o mercado deu sinais de ter digerido melhor a notícia. Os papéis da Apple praticamente recuperaram o valor de antes do anúncio de Jobs. A reação tranquila do mercado de ações reflete a visão de alguns analistas e investidores de que o futuro da companhia está garantido – pelo menos no curto e no médio prazo. “O sucesso do iPhone e do iPad é tão grande que nada poderá parar a Apple nos próximos dois anos, nem mesmo a retirada de cena de seu grande arquiteto”, disse à DINHEIRO Leander Kahney, autor do livro A cabeça de Steve Jobs. 
 
Ainda assim, algumas questões pairam no ar: como será a Apple do futuro, quando não contar mais com o tino empresarial de Jobs? Continuará a ditar os rumos da tecnologia, criar mercados e revolucionar hábitos de consumo? A dúvida surge porque sua capacidade para antecipar tendências foi fundamental para tornar a Apple, cuja sede fica em Cupertino, no Vale do Silício, Califórnia, a empresa mais inovadora das últimas décadas. Sua influência pode ser percebida em toda a parte. Ela está nos computadores e celulares, passando por indústrias inteiras, como a da música, dos filmes, dos livros e dos games. “Seu principal legado foi ter transformado a maneira como interagimos com a tecnologia, a começar pelo computador”, disse à DINHEIRO Carmine Gallo, autor de Inovação, a arte de Steve Jobs. O resultado disso é que sua liderança – aliada ao seu carisma extraordinário – moldou o estilo ousado e vanguardista da empresa da maçã. 
 
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A condição de companhia inovadora foi alcançada porque Jobs criou ambientes de trabalho que encorajam a troca de ideias. “Isso é algo tão significativo quanto suas maiores criações, como o tocador de música digital iPod, o smartphone iPhone ou o tablet iPad”, afirmou à DINHEIRO o pesquisador americano Steven Johnson, autor do livro De onde vêm as boas ideias. Para minimizar o efeito negativo de sua ausência, o próprio Jobs procurou tranquilizar o mercado em diversas oportunidades. Disse, por exemplo, que a Apple não era um show de um único artista, mas sim de uma equipe formada por cabeças brilhantes em áreas cruciais, que conhecem a sua cultura e essência tanto quanto ele. Ao lado de Cook, um desses homens é justamente o inglês Jonathan Ive, vice-presidente de design, comandante de uma área vital para que os aparelhinhos da Apple fizessem o sucesso estrondoso. Outro exemplo é Phil Schiller, vice-presidente de marketing. Ele é o cérebro responsável pela estratégia inusitada e bem-sucedida de promoção dos produtos, que começa meses antes dos lançamentos, com supostos vazamentos de protótipos da Apple que aguçam a curiosidade dos consumidores. 
 
De fato, Steve Jobs soube se cercar de profissionais brilhantes em postos-chave, que, sob sua batuta, colocaram a Apple na dianteira do mercado. Mas, observando-se a distância, pode-se ter a impressão de que o sucesso sempre o acompanhou e que sua vida não teve sobressaltos. Não é bem assim. Nascido na Califórnia em 24 de fevereiro de 1955, Steve Jobs é filho de pai sírio e mãe americana, ambos universitários, que o entregaram para a adoção. Ele começou a atrair os holofotes quando nem bem havia saído  da adolescência, em 1976, aos 21 anos, ao fundar a Apple. A companhia foi criada em sociedade com o amigo e engenheiro da computação Steve Wozniak, numa garagem no Vale do Silício, na Califórnia. A partir de então, Jobs colecionou passagens brilhantes e alguns tropeços. Ele começou a marcar a história da tecnologia ao lançar o primeiro computador do mundo destinado ao consumidor doméstico, o Apple II, em 1977. Mas a grande revolução aconteceu mesmo com a criação, em 1984, do Macintosh, o PC que popularizou a interface gráfica para o usuário, uma tecnologia criada pela Xerox. 
 
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O diferencial do equipamento foi ter inovações, como o mouse, ícones e janelas, muito antes do Windows, da Microsoft, livrando as pessoas da dor de cabeça de terem de digitar linhas de comando para realizar tarefas no computador. Assim, a fama de gênio da inovação começou a ser construída, estimulada por seu talento de se colocar no lugar do consumidor e conseguir, desse modo, pensar soluções simples e elegantes para problemas aparentemente complexos do cotidiano. Além disso, ele é um usuário inveterado de tecnologia, um fuçador de quinquilharias tecnológicas. Novidades como o iPhone ou como o iPod foram testadas exaustivamente por ele antes de chegar ao mercado. No caso do iPod, uma das preocupações era obter um sistema de som capaz de atender às necessidades de portadores de problemas de audição, como o próprio Jobs. Budista e vegetariano, Jobs se especializou em refinar ideias e conceitos já existentes e apresentá-los sob uma roupagem nova, capaz de gerar o desejo nos consumidores. E isso não é pouco. Outro aspecto importante é que Jobs sempre soube valorizar a qualidade dos produto, envolvendo-os numa aura de inovação e num marketing sedutor. 
 
Foi dessa forma que a Apple arregimentou uma legião de devotos, aquilo que os profissionais de marketing chamam de evangelizadores da marca. “Para muitas pessoas, a Apple é realmente como uma religião, tamanho o envolvimento delas com a marca”, afirmou à DINHEIRO Martin Lindstrom, autor do livro A lógica do Consumo. Mas os contratempos também permeiam a história de Steve Jobs. Em 1985, ele foi expulso da Apple, vítima de uma manobra do executivo John Sculley, que contratara da PepsiCo para presidir sua empresa. “Ser demitido foi o melhor que me aconteceu. O peso do sucesso foi tirado dos meus ombros e substituído pela leveza de ser, de novo, um iniciante”, disse Jobs, que nunca concluiu um curso universitário, em um discurso durante a formatura de um grupo de alunos da Universidade Stanford em 2005.  “Foi duro, foi  um soco no estômago, mas me libertou. Entrei no período mais criativo da minha vida.” Sem seu fundador, a Apple começou a definhar, enquanto Jobs navegava por outros mares. Em 1985, ele fundou a NeXT, especializada em computadores para universidades e empresas. 
 
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No ano seguinte, montaria outra empresa, a Pixar, o estúdio que revolucionou o mercado de animação. A companhia foi comprada pela Disney em 2006, por US$ 7,4 bilhões, tornando Jobs o maior acionista individual da casa de Mickey Mouse. Antes, no entanto, a Apple compraria de Jobs a NeXT, no final de 1996, o que fez com que ele voltasse ao posto de CEO da Apple. A empresa que  reencontrou estava à beira da falência. O caminho para tirá-la do buraco foi de uma ironia formidável. Ele pediu a seu grande rival, Bill Gates, cofundador e então CEO da Microsoft, que emprestasse um cheque de US$ 150 milhões para a Apple. E conseguiu. Nos 14 anos seguintes, uma nova era de ouro surgiu para a sua companhia, que passou novamente a revolucionar a indústria. A sequência de sucessos é impressionante: o lançamento do iMac, em 1998, o computador cujo gabinete é integrado ao monitor; o tocador de músicas iPod; o iTunes Store; a App Store, a loja de aplicativos; o iPhone; e o Macbook Air. 
 
O sucesso mais recente é o fenômeno iPad, o produto que consolidou o mercado de tablets e inaugurou a “era pós-PC”.  Por conta de tudo isso, a Apple superou o Google e se tornou, em 2011, a marca mais valiosa do mundo, segundo o ranking da agência Millward Brown, publicado pela DINHEIRO. À parte o frenesi em torno desses aparelhos todos, é preciso ver que o empresário liderou vários movimentos de inovação tecnológica. Depois do Macintosh, nos anos 1980, outro fenômeno foi o iPod em 2001. Não foi o primeiro produto desse segmento, mas caiu nas graças dos consumidores por ser pioneiro ao permitir que as pessoas transportassem todo o seu acervo de canções no bolso.  A explosão seguinte foi o iPhone, em 2007, que redefiniu a categoria de smartphones ao se mostrar fácil de usar e reunir uma série de funcionalidades de computação e entretenimento num só aparelho. Depois veio o iPad. Ao aliar facilidade de uso, design inovador e recursos que ajudam as pessoas a compartilhar conteúdo, equipamentos como o iPod, o iPhone e o iPad popularizaram a tecnologia digital. 
 
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Jonathan Ive (destaque), o designer preferido do homem da maçã
 
Assim, contribuíram para a formação de um estilo de vida conectado, afeito à mobilidade e no qual a informação trafega fácil e rapidamente. A música é um bom exemplo disso. Diferentemente de outros tempos, quando ouvir canções era um ato mais coletivo, com pessoas se reunindo na casa de amigos para escutar o novo LP de Chico Buarque ou Caetano Veloso, hoje se trata de um comportamento eminentemente individual. “A música, hoje, se tornou de fato portátil e serve de trilha sonora para diversos momentos da vida das pessoas”, diz a antropóloga Lívia Barbosa, professora-doutora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Essa mudança se tornou possível graças à tecnologia digital. “E a Apple foi fundamental nesse processo, criando interfaces amigáveis e facilitando a circulação da informação”, afirma Lívia.
 
É pela capacidade de influenciar não só o mercado, mas também comportamentos na sociedade, que alguns especialistas não temem que mudanças bruscas atrapalhem o destino da Apple num futuro próximo. “Jobs vai se tornar uma espécie de godfather: as pessoas irão até ele para pedir a benção”, diz Leander Kahney, referindo-se ao grande Dom Corleone, protagonista de O poderoso chefão, clássico do cinema dirigido por Francis Ford Coppola. “Não há ninguém na indústria como ele.” A grande questão, no entanto, é o que acontecerá daqui a uma, duas ou três décadas, quando a sombra de Steve Jobs tiver se desfeito completamente. 
 
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 MATÉRIA: CONHEÇA TIM COOK, O SUCESSOR DE STEVE JOBS
 
O engenheiro  tranquilo
 
por Carlos Eduardo VALIM
 
Conheça Tim Cook, confirmado como CEO da Apple, que terá a missão quase impossível de substituir o rei da tecnologia do novo milênio. O que muda na gestão da empresa sob o seu comando?
  
Ao contrário das três vezes em que Steve Jobs pediu afastamento médico temporário das operações da Apple, o anúncio definitivo de sua saída na semana passada não deixava a menor dúvida quanto ao seu substituto. Com o fim da era Jobs, veio a esperada confirmação  de Tim Cook, 55 anos, como CEO da empresa. Na prática, ele já ocupava o posto nos últimos anos, cuidando das operações do dia a dia e sendo reconhecido como o “cara da cadeia de suprimentos”. Cook, diga-se vinha sendo aprovado com distinção em todas as vezes que fora convocado para substituir a estrela maior da companhia. Sempre que precisou dar um passo à frente e liderar o corpo de executivos, com as seguidas ausências de Jobs, a empresa continuou a sua marcha de sucesso e até continuou ampliando o seu valor de mercado. Mais do que isso, pode-se dizer que ele participou ativamente da revolução tecnológica que a empresa promoveu na última década. Não por acaso, o comunicado oficial do conselho de administração da Apple, que oficializou a saída de Jobs e sua promoção a CEO, afirma que Cook mereceu o cargo por ter demonstrado um “notável talento e grande discernimento em tudo o que faz”.
 
A surpresa na escolha pelo engenheiro nascido no Alabama para o comando, portanto, não está no fato em si, mas em ele ser tão diferente de Steve Jobs. O fundador da Apple largou a universidade após cursar um semestre, para se dedicar à computação, caligrafia e filosofia oriental. Já Cook, filho de um operário de estaleiros, está longe do perfil de um visionário. Trabalhou por 12 anos na IBM e foi contratado pela Apple em 1998, após uma passagem pela fabricante de computadores Compaq – depois comprada pela HP. Ele também faz mais o perfil de “workaholic” do que o de um líder inspirado. Os executivos da empresa reportam que encontram em suas caixas postais eletrônicas mensagens enviadas pelo executivo a partir das 4h30 da manhã. Outra de suas práticas é promover conferências telefônicas no domingo à noite para planejar a semana. Enquanto Jobs já revelou que uma das experiências mais importantes da sua vida foi experimentar LSD nos anos 70, Cook é um entusiasta dos exercícios físicos, como o ciclismo e a caminhada nas montanhas. Com ele no comando, as famosas cobranças e críticas agressivas de Jobs a seus funcionários darão lugar a uma fala mais calma e aos argumentos baseados em números.
 
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Tim Cook, o novo CEO, já dirigia o dia-a-dia da companhia nos últimos meses 
 
As diferenças continuam em relação à persona pública de ambos. Jobs é um palestrante nato e é conhecido por ostentar uma personalidade egocêntrica. Apesar de estar se acostumando aos holofotes e às apresentações públicas, Cook é reservado. Mesmo assim, embora nunca tenha saído oficialmente do armário, não escapou de ser considerado o gay mais poderoso dos Estados Unidos pela revista Out, voltada à comunidade GLBT. Com tantas diferenças entre ambos, como o contido executivo ganhou a confiança de Jobs? Mais do que ninguém na empresa, ele foi o grande responsável por tirar a Apple da manufatura de seus produtos para que pudesse se dedicar à invenção de tecnologias, ao design e ao marketing ousado. Para conseguir isso, precisou estruturar a cadeia de fornecimento, permitindo a terceirização de toda a produção. Hoje, a taiwanesa Foxconn é responsável por montar toda a família “i”, constituída de produtos como os iPhones e iPads. Cook ainda é reconhecido como a pessoa que mais entende a Apple depois de Jobs. Em uma conferência de resultados, há dois anos, explicou o negócio com precisão: “Acreditamos no simples, não no complexo”, disse. “Acreditamos que precisamos deter e controlar as tecnologias primárias por trás de nossos produtos. E participar apenas de mercados em que podemos fazer contribuições significativas.” 
 
Todos esses motivos explicam por que, mesmo com tantos talentos na empresa, ele foi o escolhido para o comando. Alguns outros seriam mais parecidos com Jobs. Entre os candidatos a substituto, por exemplo, estava Jonathan Ive, conhecido como o gênio do design. Ele ficou famoso por conseguir extrair de sua equipe o visual cristalino e minimalista que vem ao encontro do gosto de Jobs pela arte oriental. De outro lado, está Phil Schiller, responsável por coordenar os esforços de marketing da empresa, capazes de criar a antecipação por um produto muito antes de ele chegar às lojas. Por fim, existe Scott Forstall, talvez o mais forte candidato a clone de Jobs. Vice-presidente sênior de software, ele foi um dos arquitetos do sistema operacional Mac OS X, que faz funcionar todos os dispositivos da companhia. Mas nenhum deles até hoje pôde provar ser capaz de administrar uma organização tão grande quanto é a Apple hoje. Algo que Cook já conseguiu. Aparentemente, ele acredita que continuará dando conta do recado. “Estou confiante de que nossos melhores anos estão à frente de nós e que, juntos, vamos continuar a fazer da Apple o lugar mágico que ela é”, escreveu no primeiro e-mail enviado aos funcionários como CEO.
 
 
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MATÉRIA: A APPLE NO BRASIL 
 
 
iPad made in Brazil? Sem data
 
As negociações para a instalação de uma fábrica de iPads no País emperram, mas os planos continuam de pé. A marca da maçã nunca demonstrou grande apreço pelo mercado brasileiro
 
por Denize BACOCCINA e Rodrigo CAETANO
 
Nem parados e nem concluídos. Assim estão as negociações entre o governo brasileiro e a Foxconn, empresa taiwanesa que fabrica produtos para a Apple, para a  instalação de uma fábrica de iPads e iPhones em Jundiaí, no interior de São Paulo. Em abril, a presidente Dilma Rousseff, juntamente com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, anunciou que a companhia faria investimentos de US$ 12 bilhões e começaria a produção local a tempo de tornar os produtos disponíveis para o Natal deste ano. Mas não é o que vai acontecer. Não que os chineses tenham desistido do negócio. Aparentemente, o acordo, pelo menos nos termos pretendidos pelo governo,  está mais difícil de ser concretizado do que se imaginava.  A última reunião da Foxconn com Mercadante aconteceu há duas semanas. O problema é que essas negociações acontecem ao estilo chinês. Os negociadores do país mais populoso do mundo são conhecidos – e temidos – pela dureza com que defendem seus pontos de vista, ignoram as demandas do interlocutor e voltam atrás, sem cerimônia, em pontos que já haviam sido acordados no dia anterior, se lhes for conveniente, como já comprovaram funcionários dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento. 
 
O principal entrave no negócio é um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Banco estatal não negou o empréstimo e, em princípio, é favorável ao financiamento de grandes empresas que vão produzir no Brasil para exportar. Mas a instituição tem um processo de aprovação dos empréstimos que pressupõe a análise de garantias, e este processo ainda está em andamento. Mesmo com as dificuldades em chegar a um acordo, a Foxconn não está parada. Segundo o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, Evandro Oliveira, a empresa já está contratando funcionários para sua nova fábrica. Para o sindicalista, no entanto, os primeiros iPhones brasileiros só devem chegar ao mercado em 2012. “A previsão inicial era inviável”, diz.  Esta não é a primeira vez que o governo patina ao tentar trazer a Apple, que sempre deixou o Brasil à margem de sua estratégia mundial. No ano passado, o próprio Steve Jobs teria recusado um convite da Secretaria do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro para abrir uma loja da empresa na cidade.
 
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Para o sindicalista Evandro Oliveira, a previsão inicial era inviável
 
Na época, segundo informações do jornal O Globo, o agora ex-comandante da companhia teria afirmado que a “política maluca de taxação superalta do Brasil” era o motivo para não aceitar o convite. O pouco apreço da Apple pelo País pode ser comprovado, também, com a demora em trazer seus principais lançamentos para cá. Na lista de 25 países que iriam receber os primeiros lotes do iPad 2, por exemplo, lançado em março deste ano, estavam todas as principais potências de mercado, além de países de pouca expressão, como a República Checa, a Hungria e o minúsculo Luxemburgo, com seus 493 mil habitantes – menos que a população de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. No Brasil, atualmente o terceiro maior mercado de computadores do mundo, o lançamento só ocorreu dois meses depois. Resta saber se Tim Cook vai mudar esse enredo e resolverá seguir o caminho já trilhado pelas grandes marcas de tecnologia do planeta, que já se instalaram com armas e bagagens por aqui. 
 











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