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domingo, 7 de agosto de 2011

AMC: 1,1 mil multas por dia

diariodonordeste

Publicado em 7 de agosto de 2011

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EXCESSO de velocidade está entre as principais infrações de trânsito cometidas pelos motoristas de Fortaleza
KID JÚNIOR

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Estacionar em local proibido é comportamento diário do condutor cearense que aposta na impunidade por falta de fiscais

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Escolinha mantida pelo Detran atende a 5 mil crianças por mês
FÁBIO LIMA (ARQUIVO (23/08/2005)

De janeiro a junho deste ano, a Autarquia Municipal de Trânsito aplicou 200.376 autos de infração em Fortaleza

Educar por meio de campanhas permanentes de conscientiza-ção ou, simplesmente, multar como punição leva o mal motorista cearense a respeitar as leis de trânsito? O assunto gera bastante polêmica e coloca em xeque o trabalho realizado pela Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC).

De um lado, condutores teimam em dirigir acima da velocidade permitida, estacionar em local proibido, avançar sinal vermelho, usar celular enquanto dirige, ignorar o cinto de segurança ou o capacete, causam acidentes e aumentam o caos diário. Do outro, a fiscalização eletrônica (fotossensores) e os "azulzinhos" aplicaram nos primeiros seis meses de 2011, 200.376 multas. São 33,3 mil por mês ou 1,1 mil por dia. Em média, a cada 45 segundos uma multa é registrada na Capital Cearense.

Somente em janeiro, R$ 1,4 milhão foi arrecado pela Prefeitura de Fortaleza com as multas. O valor é 40,7% superior ao do mesmo período do ano passado, quando registrou R$ 995 mil. No ano passado, o órgão arrecadou R$ 39 milhões com 558, 8 mil infrações.

Direção

Para os especialistas em trânsito não existe a indústria da multa e sim da infração. "Dirigimos mal e na maioria das vezes somos reincidentes", avaliam.

O engenheiro de Transportes e professor da Universidade Federal do Ceará, (UFC), Mário de Azevedo, explica que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que o dinheiro arrecadado com a cobrança de multas deve ser aplicado em três áreas: engenharia de tráfego, fiscalização e educação de trânsito. Além disso, 5% do valor de cada multa deve ir para o Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset), gerido pela União.

Para o professor, a AMC usa bem os recursos na primeira obrigação: a engenharia de tráfego peca na fiscalização (apesar de tantas multas) e, principalmente, na ação preventiva, que é a educação.

Para ele, é cena bem comum andar pelas ruas da cidade e ver motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres cometendo infrações e não se vê agentes coibindo ou educando. "No geral, impera uma sensação de impunidade. Aí acho que aparece a principal falha da AMC. Não é simples, mas a Prefeitura já deveria ter contratado muitos mais agentes de trânsito", diz.

São 370 agentes, informa o presidente do órgão, Fernando Bezerra. Ele reconhece que o número é reduzido para uma frota de 742,1 mil veículos, de acordo com dados do Detran relativos a junho desse ano.

Ele não revela o quanto a AMC investe em educação, no entanto, defende os R$ 22 milhões gastos com a aquisição e instalação de semáforos mais modernos e com tecnologia que possibilita maior fluidez e controle do tráfego, a chamada "onda verde", já observadas em avenidas com a Bezerra de Menezes e Domingos Olímpio. Em média, cada equipamento com essa tecnologia custa R$ 6 mil.

Com a mudança, Fortaleza soma agora um total de 607 semáforos, sendo 293 (48%) centralizados e 314 (52%) convencionais. "É dinheiro muito bem gasto", frisa Bezerra.

Caos

O presidente da Comissão de Viação e Transportes da Assembleia Legislativa do Estado, deputado Heitor Ferrer, o trânsito em Fortaleza e nas estradas adquire, a cada dia, uma violência só comparável ao tsunami. "A evidência é ainda maior nos feriados e a tendência é se agravar, dado o crescimento desordenado de nossa cidade".

Os recursos do Funset, aponta, assim como de outras políticas sociais, foram contingenciados na esteira do último corte orçamentário do governo federal. "Sabe-se que 72% vai para compor o superávit primário da União, necessário ao pagamento dos juros da dívida pública". Enquanto isso, as estatísticas em Fortaleza, revelam a precariedade e debilidade da educação no trânsito. Campanhas que pretendem mudar comportamentos, devem ser sistemáticas e permanentes. "Não é um outdoor afixado em poucos pontos da cidade que irá reverter a situação", critica.

Na sua avaliação, escolas, os conselhos de direitos, as igrejas, a família e os espaços públicos deveriam ser lugares de debate e proposições sobre a violência no trânsito, incentivados pelos poderes públicos.

Nesse sentido, sugere, as secretarias de Educação, de Cultura e de Comunicação tanto do Governo como da Prefeitura, têm papel fundamental.

A ideia também é argumento de defesa do coordenador do Núcleo de Atuação Especial de Controle, Fiscalização e Acompanhamento de Políticas do Trânsito, do Ministério Público Estadual, promotor Raimundo Nonato Cunha. É o caso, sustenta, de se formar os professores para passarem esses valores de respeito às normas de trânsito para as crianças. Essas novas gerações poderão trazer melhores motoristas. "A maioria dos maus motoristas atuais eu considero casos perdidos".

Apesar de viver reclamando das multas recebidas, o administrador Pedro Henrique Rodrigues admite que já ultrapassou sinal vermelho, estacionou em vaga de deficiente e vive dirigindo falando ao celular. "Sei que estou errado, mas...".

Se muita gente reclama que foi "injustiçado" e outros defendem a multa sob a alegação que "doer no bolso faz mais efeito que conversa", a Associação Nacional de Transporte Público (ANTP) calcula que o número de registros poderia ser maior. Segundo a entidade, para cada quatro veículos, uma multa foi aplicada na Capital esse ano. Isso representa 27% da frota circulante. "Se mais agentes atuassem nas ruas ou houvesse maior rigidez na aplicação da multa, seria bem pior", avalia o engenheiro de trânsito, Paulo José Soares Miranda.

TRÂNSITO
Escolinha fechada e olho no pedestre

A falta de mais campanhas educativas não é só problema de Fortaleza. O diretor científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), José Montal, critica a questão. Segundo ele, historicamente o Brasil não investe em educação no trânsito. "Hoje, diria que chegamos a um nível decepcionante de iniciativas na área".

O País, segundo ele aponta, deveria ter uma política permanente de conscientização. "Só ocorrem ações sazonais, em feriados, volta às aulas, início das chuvas e outros momentos pontuais", destaca o médico.

Para a maioria dos especialistas em trânsito, a conscientiza-ção começa na infância. No entanto, as duas escolinhas mantidas pela Prefeitura, apenas a da José Walter funciona. A outra, no Parque Adahil Barreto, está abandonada.

A assessoria de comunicação da AMC defende o órgão explicando que a escolinha "passa por reparos". Ainda de acordo com a AMC, a outra, localizada no bairro José Walter funciona normalmente e vem cumprindo o papel de educar crianças e adolescentes sobre o respeito às leis de trânsito.

O Detran-Ceará também mantém uma escolinha de trânsito. A unidade atende a cinco mil crianças por mês. As visitas são agendadas.

Sobre campanhas educativas, a AMC informa que irá iniciar a partir de setembro, campanha para pedestres. Na justificativa frisa o órgão, via assessoria, que é importante não só educar o motorista, mas quem anda a pé a só atravessar uma rua ou avenida pela faixa do pedestre.

Além disso, investe na conscientização de pais de alunos para não formar fila dupla ou parar na frente da escola do filho atrapalhando o tráfego. Outra ação, em estudo, diz respeito a campanha sobre a ultrapassagem somente pela esquerda visando os motoqueiros.

Cuidados e respeito
Atenção

Direção defensiva é dirigir com objetivo de prevenir acidentes, atento às ações incorretas de outros motoristas e das possíveis condições adversas da pista e do tempo. Trata-se da prática de dirigir com segurança, reduzindo a possibilidade de ser envolvido em acidentes de trânsito

Pedestre

Na hora de atravessar a via, o indicado é colocar-se sempre de maneira visível. Nunca atrás de bancas de jornais, árvores, veículos estacionados, ou qualquer outro obstáculo. Certificar-se sempre de que você vê o motorista e é visto por ele

Sempre

Outra dica na hora de atravessar a rua é olhar sempre para os dois lados e certificar-se de que é prudente iniciar a travessia sem correr vários riscos

EGOÍSMO
Condutor não tem noção dos perigos

A psicóloga Iara Thielen, do Núcleo de Psicologia do Trânsito, da Universidade Federal do Paraná, revela que existe um individualismo exacerbado por parte dos motoristas. "As pessoas sempre acreditam que o problema é dos outros, que correm feito loucos, enquanto que elas mesmas só exageram um pouquinho, diz ela.

O mesmo comportamento é constatado em motoristas que param em cima da faixa: a culpa nunca é delas. "É o farol que fechou e não deu tempo de seguir. Ou, pior, dizem não estar atrapalhando, que os pedestres podem contornar o carro".

As pesquisas também indicam que as formas de melhorar o trânsito apontadas por motoristas são mais fiscalização, mais radares para evitar o excesso de velocidade. "Ninguém nunca admite que precisa tirar o próprio pé um pouco do acelerador", complementa. A função da fiscalização, para ela, é punir os mal educados, não educar.

LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER






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