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domingo, 8 de maio de 2011

Ex-guerrilheiro, Genoino recebe medalha das Forças Armadas



Novo presidente do PT recebeu doações de réus do mensalão

Ligado ao ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), o novo presidente do PT, Rui Falcão, recebeu doações de outros dois réus do mensalão em sua campanha à reeleição como deputado estadual em São Paulo, no ano passado.

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) e o ex-deputado José Genoino (PT-SP) fizeram contribuições que somam pouco mais de R$ 16.500, segundo sua prestação de contas à Justiça Eleitoral.

O deputado José Mentor (PT-SP), que também foi investigado pela CPI dos Correios por receber dinheiro do valerioduto, integra a lista com R$ 5.710 em doações.

Os valores são modestos diante dos R$ 2,55 milhões arrecadados por Falcão, mas demonstram sua proximidade de petistas envolvidos no escândalo e reabilitados recentemente pelo partido.

Ele assumiu o comando do PT no dia em que a sigla aprovou a volta do ex-tesoureiro Delúbio Soares, acusado de operar o mensalão petista.

Falcão teve a maior parte das despesas eleitorais bancada por empreiteiras e pela cúpula do PT. Nove construtoras doaram R$ 1,15 milhão (45% da receita total), e o partido, mais R$ 1,02 milhão.

(Folha de São Paulo)


Ação entre amigos
24/09/2009 - 23:25:42

O mundo dá muitas voltas. No caso da política brasileira, isso é bem evidente. Aqueles que eram “perseguidos” durante o regime militar hoje estão no poder. Durante muitos anos, mobilizaram recursos em um confronto que envolveu desde a cultura até a guerrilha armada.

O termo “perseguido” pode passar uma falsa idéia de passividade, de pessoas que foram simplesmente vítimas de um sistema opressivo. Ora, a maioria daqueles que lutaram contra a ditadura engajaram-se voluntariamente, na cultura ou nas armas. Não foram vítimas, mas agentes. Sua intenção era forjar uma “nova sociedade”, ao estilo da antiga União Soviética ou mesmo de Cuba, sua inspiração mais imediata. Se fossem vitoriosos, haveria uma repressão política milhares de vezes mais agressiva do que se viu no Brasil à época.

Todos aqueles que confrontaram a ditadura sabiam dos riscos a que se submetiam e, mais grave ainda, sabiam que, na luta, inocentes morreriam ou sofreriam graves lesões. É contundente a comparação entre a pensão que recebe um guerrilheiro que explodiu uma bomba (R$1.627,00) e a vítima que perdeu uma perna (R$571,00). Também assusta perceber a facilidade com que indenizações milionárias são concedidas, bem acima do que costuma ser estipulado por nossos tribunais, mesmo em caso de morte.

Por fim, é significativo o fato de que o objetivo da comissão formada no Ministério da Justiça é indenizar apenas a militância esquerdista, sendo suas vítimas completamente esquecidas pelo governo. Tudo isso parece com a boa e velha “ação entre amigos”: afinal, se os governos anteriores de uma forma ou de outra sempre beneficiaram “sua turma”, porque perder a oportunidade de beneficiar a “nossa turma”?

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DO RIO

O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP), que nos anos 70 participou da Guerrilha do Araguaia e foi preso pelo Exército em 1972 por sua atuação na resistência armada à ditadura, foi condecorado hoje pela manhã, no Rio, com a Medalha da Vitória.

A distinção é dada pelo Ministério da Defesa para civis e militares que tenham contribuído para a difusão dos feitos da Força Expedicionária Brasileira na 2ª Guerra Mundial ou que prestem serviços relevantes ao Ministério da Defesa.


Genoino, réu no processo do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), é hoje assessor do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Segundo Jobim, é a primeira vez que um ex-combatente da Guerrilha do Araguaia recebe a homenagem. O ministro afirmou que não houve resistência de militares ao nome de Genoino.

Na cerimônia, em entrevista a jornalistas, tanto Genoino quanto Jobim defenderam a criação da Comissão da Verdade, projeto de lei que propõe investigar violações aos direitos humanos na ditadura.


Conexão Política Adão Oliveira | adaooliveira@hotmail.com

Conexão Política

Notícia da edição impressa de 04/05/2011

Os presidentes do PT

João Egydio Gamboa, interino

“Em 2010, foi tudo pela Dilma. Agora, é tudo pelo PT.” A síntese é do novo presidente nacional do PT, o deputado estadual Rui Falcão (SP), e resume a tática partidária para as eleições municipais de 2012.

Falcão confirma que o PT terá candidato à prefeitura de São Paulo, onde a vitória é vista como “precondição” para romper a hegemonia do PSDB no governo estadual em 2014.

A ampliação de prefeituras petistas em todo o País, segundo ele, também ajudará a manter Dilma Rousseff (PT) no Planalto a partir de 2014.

Cuidadoso, deixou claro que o PT não irá menosprezar aliados, mas começa desde já o esforço para viabilizar candidaturas próprias.

A verdade é que a escolha de Falcão não teve o apoio da presidente Dilma. Ele não era o candidato preferido da titular do Planalto. Aliás, parece que a presidente tinha preferência por outros nomes.

Como será a gestão de Rui Falcão dentro desse contexto?

Com o presidente Lula (PT), o governo era independente do PT. Lula - dizia-se - era mais forte do que o partido. Agora, o desafio de Falcão é transformar o PT no partido do governo e consolidar sua hegemonia na aliança com o PMDB, legenda com quem disputa acirradamente cargos do segundo e terceiros escalões.

De qualquer forma, ser presidente do PT, partido que entrou no 9º ano comandando o País e com a maior bancada na Câmara dos Deputados, é uma aposta que tem se revelado desafiadora.

Desde a fundação do PT em fevereiro de 1980, foram sete presidentes efetivos e dois interinos. Dos sete efetivos, só Lula (1980-1986 e 1990-1993) e Olívio Dutra (1987-1988) não tiveram problemas. Hoje, Lula mantém o título de presidente de honra do partido.

Fundador do PT, prefeito de Porto Alegre, governador do Estado e ministro das Cidades no primeiro governo Lula, Olívio atualmente não ocupa nenhuma função administrativa ou cargo no partido.

Nesses 31 anos, o PT teve dois presidentes interinos que assumiram em meio a turbulências políticas. Em 2005, o presidente Lula chamou Tarso Genro, então ministro da Educação e hoje governador do Estado, para substituir José Genoino, envolvido em denúncias do mensalão.

Ricardo Berzoini, que presidiu a sigla de 2005 e 2010, foi apontado como suposto comandante dos aloprados do PT, que tentaram comprar um dossiê contra os candidatos tucanos em 2006. Por causa dessa suspeita, foi afastado da presidência do partido, assumindo o assessor especial internacional Marco Aurélio Garcia. Após ser inocentado, Berzoini reassumiu o cargo.

Resta ver como será a gestão de Falcão. Se conseguirá, ou não, completá-la sem turbulências.

Postura

O vice-presidente da CPI da Juventude na Câmara Municipal, vereador Idenir Cecchim, do PMDB, tem pautado sua participação na comissão de inquérito por apartes em que pede aos colegas que reduzam o tempo de questionamentos aos depoentes. Mas ele, por sua vez, não tem feito perguntas para contribuir com o debate.

Aurélio Perez no ato pela Anistia e protesto pela morte de operário assassinado em Belo Horizonte [Jesus Carlos/Acervo Em Tempo/CSBH]

José Genoíno em ato público pela Anistia, no dia 30 de julho de 1979, em São Paulo [Jesus Carlos/Acervo Em Tempo/CSBH]


Manisfestação Cinelândia no dia 26 de julho de 1979 [Antonio Claúdio/Acervo Em Tempo/CSBH]

Ato Público em São Paulo pelos presos políticos no dia 10 de agosto de 1978 [Niels Andreas/Acervo Em Tempo/CSBH]

Ato pela anistia em frente a um banco [Autor sem identificação/Acervo CSBH]

Ato pela anistia em Porto Alegre, 1978 [Autor sem identificação/Acervo CSBH]

Anexo:Lista de guerrilheiros do Araguaia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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A lista abaixo reúne os integrantes conhecidos da Guerrilha do Araguaia. Nos parênteses os codinomes pelo quais eram conhecidos, batizados pela guerrilha ou dados pelos moradores da região.

  • João Amazonas (Velho Cid) - integrante do PCB desde a década de 1930 e um dos fundadores e secretário-geral do PCdoB, era o teólogo da guerrilha, e responsável pela ligação entre os guerrilheiros na selva e a direção em São Paulo. Entrou e saiu diversas vezes na área do Araguaia durante o período, transportando militantes, dinheiro e orientações políticas, indo para o exílio na Albânia após o aumento da repressão militar na área, que impediu sua movimentação. Voltou ao Brasil após a Anistia e morreu aos 90 anos, em 2002.
  • Elza Monnerat (Dona Maria) - integrante da direção do PCB, fazia com Amazonas a ligação entre o Araguaia e o sul do país. Responsável pelo transporte de diversos militantes até o local da guerrilha e uma das primeiras a se instalar no Araguaia, durante os preparativos para a criação do núcleo guerrilheiro, voltou à clandestinidade urbana após o aumento da repressão militar na área, que a impediu de retornar à região do conflito, como Amazonas. Presa em fins de 1976 e libertada com a Anistia, morreu em 2004.
  • Maurício Grabois (Mário) - Membro da cúpula do PCdoB, integrante da Comissão Militar do Partido e comandante-em-chefe dos guerrilheiros do Araguaia. Foi morto numa emboscada na selva em dezembro de 1973. Seu corpo nunca foi encontrado e sua morte jamais admitida pelo Exército. É dado como desaparecido.
  • Ângelo Arroyo (Joaquim) - membro da cúpula do PCdoB e militante comunista desde 1945, foi um dos líderes da guerrilha, integrante da Comissão Militar. Foi um dos dois únicos guerrilheiros que escaparam vivos do Araguaia, depois da última campanha militar que exterminou a guerrilha, fugindo a pé para o Piauí atravessando a selva e dali para São Paulo. Foi fuzilado em dezembro de 1976 por agentes do Doi-Codi numa casa no bairro da Lapa, em São Paulo, onde se realizava uma reunião do Comitê Central do PCdoB, no episódio conhecido como Chacina da Lapa.
  • Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) - o mais carismático e temido guerrilheiro do Araguaia, negro, forte, 1,98 m e ex-campeão carioca de boxe, considerado mítico pelos moradores do Araguaia, foi morto num encontro com uma patrulha militar em janeiro de 1974. Seu corpo foi pendurado num helicóptero e mostrado em sobrevoo pelos povoados da região. Decapitado, foi enterrado em lugar desconhecido. É considerado desaparecido político.
  • Líbero Castiglia (Joca) - Italiano, foi o único estrangeiro que participou da guerrilha. Com treinamento militar na China, era ligado ao Destacamento A e fazia a segurança da comissão militar da guerrilha. Foi um dos primeiros militantes a chegar à região do Araguaia. É dado como desaparecido desde o ataque do exército ao comando guerilheiro, no Natal de 1973.
  • André Grabois (Zé Carlos) - Filho de Maurício Grabois e vivendo na clandestinidade desde os 17 anos por causa da perseguição ao pai, foi comandante do destacamento A da guerrilha. Morreu em combate junto a outros três guerrilheiros, durante tiroteio com patrulha do exército em outubro de 1973, após caçarem porcos-do-mato. Seu corpo nunca foi encontrado, é dado como desaparecido.
  • Bergson Gurjão Farias (Jorge) - Ex-estudante de Química da Universidade Federal do Ceará, e sub-comandante do Destacamento C da guerrilha, sob o codinome de 'Jorge', foi o primeiro guerrilheiro a ser morto em combate no Araguaia. Ferido a tiros de metralhadora numa emboscada, foi morto a golpes de baioneta dias depois numa instalação militar de Marabá em maio de 1972. Dado como desaparecido politico por trinta anos, seus ossos foram identificados por exames de DNA em 2009, após exumação do cemitério de Xambioá.
  • João Carlos Haas Sobrinho (Dr. Juca) - médico formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, chegou ao Araguaia vindo do Maranhão onde morou com alguns dos principais líderes da guerrilha e atendia a população. Respeitado pelos caboclos locais pelo auxílio que prestava na área da saúde de Marabá e Xambioá, o comandante médico-militar foi morto em combate em 30 de setembro de 1972. Seu corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido político.
  • Dinalva Oliveira Teixeira (Dina) - Geóloga formada pela Universidade Federal da Bahia, popular no Araguaia como parteira e temida pelos militares pela coragem física e por ser exímia atiradora, foi a mais famosa das guerrilheiras, lendária entre os moradores da região. Única mulher a ser sub-comandante de destacamento de combate, foi presa já no fim da guerrilha, em julho de 1974, e assassinada a tiros por agentes militares do CIEx. Seu corpo nunca foi encontrado e é dada como desaparecida.
  • Helenira Resende (Fátima) - ex-estudante de Filosofia da USP e vice-presidente da UNE, no Araguaia conquistou o respeito dos demais pela coragem física e determinação. Morreu em combate em setembro de 1972, metralhada nas pernas em troca de tiros com soldados do exército e morta à baioneta depois. O respeito que gozava no meio dos companheiros fez com que a partir de sua morte um dos destacamentos da guerrilha passasse a ter o seu nome.
  • Micheas Gomes de Almeida (Zezinho) - Filho de camponeses, ex-operário e veterano comunista, é o único guerrilheiro sobrevivente do Araguaia a nunca ter sido preso. Melhor guia e conhecedor da selva entre todos os guerrilheiros, fugiu da região guiando Ângelo Arroyo até o Maranhão, durante os últimos dias de aniquilamento da guerrilha. Vivendo com identidade trocada e anônimo em São Paulo por mais de 20 anos, dado como desaparecido, reapareceu nos anos 90. Mora em Goiás.
  • Maria Lúcia Petit (Maria) - ex-professora primária, participou da guerrilha com os irmãos mais velhos. Morta em junho de 1972 numa emboscada, seus restos mortais foram identificados em 1996. Junto com Bergson Gurjão, são os dois únicos guerrilheiros mortos e identificados posteriormente. Foi enterrada em Bauru, São Paulo.
  • Dinaelza Santana Coqueiro (Mariadina) - ex-estudante de Geografia da PUC de Salvador, chegou o Araguaia em 1971 com o marido, Vandick Coqueiro e Luzia Reis. Integrante do destacamento C, foi executada por agentes do CIEx em abril de 1974, após ser vista presa na base de Xambioá. É dada como desaparecida.
  • José Genoino (Geraldo) - Membro do PCdoB desde 1966, com 20 anos, ex- presidente do Diretório Central dos Estudantes daUniversidade Federal do Ceará, chegou ao Araguaia em 1970. Foi um dos primeiros presos pela ofensiva militar na área, um 1972. Foi torturado e cumpriu pena até 1977. Tornou-se o nome mais conhecido da guerrilha nos anos seguintes, elegendo-se deputado federal diversas vezes pelo Partido dos Trabalhadores. Casou-se com a guerrilheira Rioko Kayano, a quem conhecia desde 1969 mas começou a namorar na prisão.
  • Luzia Reis (Baianinha) - ex- militante do movimento estudantil de Salvador, chegou ao Araguaia em janeiro de 1972 e fez parte do destacamento C. Primeira guerrilheira a ser presa, após uma emboscada, foi torturada na base de Xambioá e transferida para Brasília, onde cumpriu dez meses de prisão. Solta, abandonou a militância e o Partido. Vive em Salvador, aposentada do serviço público.
  • Glênio Sá (Glênio) - Ex-aluno de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, chegou à guerrilha em 1970 e foi preso em 1972, traído por um camponês, depois de dois meses perdido na mata, após um tiroteio. Morreu em 26 de julho de 1990 num acidente de automóvel, quando fazia campanha para o senado no Rio Grande do Norte.
  • Suely Kanayama (Chica) - Ex-estudante da Letras na USP, baixinha e magrinha, chegou ao Araguaia em fins de 1971 e passou a integrar o Destacamento B. Apesar da frágil compleição física, foi das que mais se adaptou à vida na selva e uma das últimas guerrilheiras a morrer. Audaciosa e com treinamento de tiro e sobrevivência na selva, cercada por uma patrulha do exército no início de 1974 recusou rendição, atirou ferindo um policial e morreu metralhada por mais de 100 tiros, fato que chocou até integrantes do Exército. Consta como desaparecida política.
  • Lúcia Maria de Souza (Sônia) - ex-estudante da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, deixou o curso no 4º ano devido às atividades políticas e entrou na clandestinidade. Participante do destacamento A, o episódio de sua morte é o mais célebre da história da guerrilha, onde feriu dois oficiais do exército antes de morrer, um deles o notório Major Curió. É oficialmente desaparecida política.
  • Adriano Fonseca Filho (Chico) - ex-estudante de Filosofia da UFRJ, chegou ao Araguaia em abril de 1972. Integrante do Destacamento B, foi morto a tiros por mateiros de patrulhas do exército em 3 de dezembro de 1973, na última fase das operaçãos militares, quando caçava jabutis na mata para alimentação. Foi decapitado e enterrado em local desconhecido. Permanece como desparecido político.
  • Luiza Garlippe (Tuca) - ex-enfermeira doHospital das Clínicas, chegou no Araguaia com o companheiro Pedro Alexandrino (Peri). Integrou-se ao Destacamento B, na área da Gameleira e substituiu João Carlos Haas Sobrinho depois da morte deste, como comandante-médica. Presa em julho de 1974 junto com 'Dina', foi executada a tiros pelo CIEx.
  • Criméia Schmidt de Almeida (Alice) - ex-estudante de enfermagem da UFRJ, foi para o Araguaia em 1969 onde tornou-se companheira de André Grabois, comandante do Destacamento A. Engravidou em 1972 e com problemas na gestação foi levada para São Paulo. Presa na cidade em dezembro, foi torturada e teve o filho no Hospital do Exército, em Brasília. Hoje participa da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.
  • Jaime Petit - engenheiro e irmão mais velho da família Petit, foi morto em combate em dezembro de 1973. Decapitado, seu corpo nunca foi encontrado. É dado como desaparecido político.
  • Lúcio Petit (Beto) - engenheiro e irmão do meio da família guerrilheira Petit, foi preso durante a aniquilação final da guerrilha no começo de 1974. Visto pela última vez amarrado a bordo de um helicóptero do exército, é dado como desaparecido político.
  • Antônio Carlos Monteiro Teixeira (Antônio da Dina) - Geólogo baiano e militante do PCdoB, marido de 'Dina' - de quem se separou durante a guerrilha - chegou ao Araguaia em 1970 e integrou-se ao destacamento C. Conhecedor da mata, era o instrutor de orientação na selva dos militantes recém chegados à região. Morto em combate em 21 de setembro de 1972, na primeira fase das operações anti-guerrilha.
  • Jana Moroni (Regina) - cearense, ex-estudante de biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, chegou ao Araguaia em abril de 1971, com apenas 21 anos. Trabalhou como professora primária e agricultora. Casou-se na guerrilha com Nelson Piauhy (Nelito), dava aulas de tiro e fez parte do Destacamento A. Oficialmente desaparecida em 2 de janeiro de 1974 junto com mais dois guerrilheiros, foi vista presa e ferida na base militar em Bacaba.
  • Áurea Valadão (Elisa) - Ex-estudante de Física da UFRJ, foi para a guerrilha com o marido Arildo Valadão em 1970, integrando o destacamento C. Aprisionada por mateiros a serviço dos militares no começo de 1974, doente, faminta e em farrapos, sua morte consta em relatório da Marinha como 13 de junho de 1974. É dada como desaparecida política.
  • Arildo Valadão (Ari) - Ex-estudante de Física da UFRJ, onde conheceu a mulher, Áurea, chegou ao Araguaia em 1970 com a mulher, integrando o destacamento C. Foi assassinado e decapitado por um mateiro amigos dos guerrilheiros que se passou para o lado dos militares, em 23 de outubro de 1973. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • Carlos Danielli (Antonio) - Integrante do quadro dirigente do PCdoB, fazia a ligação entre a área rural e urbana do partido. Morreu sob torturas ao ser preso na OBAN em São Paulo, em 31 de dezembro de 1972.
  • Paulo Mendes Rodrigues (Paulo) - Economista e comandante do destacamento C, morreu em combate no dia de Natal de 1973 junto com o comandante geral da guerrilha, Maurício Grabois. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • José Humberto Bronca (Zeca Fogoió) - Ex-mecânico de aviões da VARIG no Rio Grande do Sul, foi um dos militantes do PCdoB enviado para treinamento de guerrilha na Academia Militar de Pequim. Chegou ao Araguaia em 1969, onde foi o vice-comandante do destacamento B e depois integrante da Comissão Militar da guerrilha. Último integrante da CM a ser preso, delatado por um camponês a quem pediu ajuda, subnutrido e cheio de ulcerações provocadas por picadas de mosquitos, foi executado e dado como desaparecido em março de 1974.
  • Kleber Lemos da Silva (Carlito) - economista carioca, integrou o destacamento B. Emboscado com primeiro grupo a ser desbaratado pelas tropas do exército, pediu aos companheiros que o deixassem durante a fuga, impedido de caminhar por uma fístula de Leishmaniose na perna. Delatado por um camponês, foi preso pelos fuzileiros navais 26 de junho de 1972 e executado três dias depois. Seu cadáver foi fotografado e a foto divulgada anos depois. Seu corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido.
  • Daniel Callado (Doca) - operário fluminense formado pelo SENAI, chegou ao Araguaia depois de morar em Rondonópolis, no Mato Grosso, onde era lanterneiro e craque do time de futebol da cidade. Fez parte do Destacamento C da guerrilha, que foi disperso pelos ataques militares em dezembro de 1973. Visto por moradores da região no começo de 1974, preso na base militar de Xambioá, onde era torturado a socos e pontapés por soldados comandados pelo Major Curió, desapareceu e seu corpo nunca foi encontrado. O relatório da Marinha registra sua morte como em 28 de junho de 1974.
  • Guilherme Lund (Luis) - carioca, formado pelo Colégio Militar e ex-estudante de arquitetura da UFRJ, no Araguaia integrou a segurança da Comissão Militar da guerrilha. Foi morto em combate contra tropas do exército com mais quatro guerrilheiros, incluindo o comandante geral Mauricio Grabois, no dia de Natal de 1973.
  • Maria Célia Correa (Rosa) - carioca, bancária e ex-estudante de Filosofia da UFRJ, chegou ao Araguaia em 1971 para se encontrar com o noivo, 'Paulo Paquetá' (que desertou sozinho da guerrilha em 73). Integrante do Destacamento A, perdeu-se da organização da guerrilha após combate em 2 de janeiro de 1974. Presa por um camponês quando procurava ajuda, foi entregue aos militares da base de Bacaba. Transportada de helicóptero para a mata depois de presa, foi metralhada com mais dois guerrilheiros. É dada como desaparecida.
  • Regilena da Silva Carvalho (Lena) - mulher de Lúcio Petit, o mais velho da trinca de irmãos guerrilheiros, abandonou a guerrilha em 1972. Ferida, com os pés infeccionados e de muletas entregou-se aos pára-quedistas. Presa em Xambioá e transportada para Brasília, foi solta em dezembro de 1972, após mandar mensagem ao companheiros pedindo que se rendessem.
  • Lúcia Regina Martins (Lúcia) - ex-estudante de obstetrícia da USP, chegou ao Araguaia acompanhando o marido Lúcio Petit. Desiludida com a guerrilha e o casamento, deixou a região grávida, em lombo de burro, para tratar de uma curetagem mal feita num hospital de Anápolis. Fugiu do hospital em dezembro de 1971, ainda antes da primeira ofensiva militar, voltando a São Paulo para viver com a família e recusando-se a voltar ao Araguaia. Só foi presa em 1974, quando a guerrilha já estava aniquilada. Foi acusada por Elza Monnerat de ter contado aos militares sobre a guerrilha, permitindo que ela fosse descoberta. Vive em Taubaté, SP.
  • Antônio de Pádua Costa (Piauí) - ex-estudante de astronomia na UFRJ, entrou na clandestinidade após ser preso no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, 1968. Na guerrilha, atuou como sub-comandante do destacamento A e comandante depois da morte de André Grabois. Após o confronto armado entre guerrilheiros e militares de 14 de janeiro de 1974, ele desapareceu junto com mais dois guerrilheiros. Mais tarde, foi preso na casa de um camponês que o traiu e obrigado a passar semanas guiando batedores do exército nas matas, até possiveis esconderijos de armas e mantimentos dos guerrilheiros. Executado após perder a utilidade, seu corpo nunca foi encontrado.
  • Divino Ferreira de Sousa (Nunes) - guerrilheiro com treinamento militar naChina, foi um dos primeiros no Araguaia e integrou o Destacamento A. Ferido no tiroteio que matou outros três guerrilheiros em 14 de outubro de 1973, foi levado à Casa Azul, base militar dirigida pelo Major Curió no Araguaia, e executado.
  • Elmo Correa (Lourival) - ex-estudante da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, cursou até o 3ª ano e participava do movimento estudantil. Chegou ao Araguaia com a mulher Telma Regina Correia (Lia) em 1971, e mais tarde a irmã, Maria Célia Correa, (Rosa) juntou-se a eles. Desaparecido da guerrilha após o ataque de Natal de 1973, foi morto na localidade de Carrapicho, segundo testemunhos de locais, no dia 14 de maio de 1974, segundo relatório da Marinha.
  • Tobias Pereira Junior (Josias) - ex-estudante carioca da Universidade Federal Fluminense, integrou o destacamento C da guerrilha. Entregou-se no fim de 1973 e passou semanas acompanhando os militares na localização de esconderijos de armas, munições e mantimentos. Desenhou mapas de localização e reconheceu fotografias. Mesmo auxiliando os militares depois de preso e torturado, foi assassinado em 14 de fevereiro de 1974.
  • Gilberto Olímpio Maria (Pedro) - jornalista e genro de Maurício Grabois, chegou à região no fim da decada de 60 e morreu em combate junto com o sogro, no Natal de dezembro de 1973, durante encontro com patrulhas militares.
  • Antonio Guilherme Ribas (Ferreira) - ex-presidente da UPES (União Paulista de Estudantes Secundaristas), foi preso no XXX Congresso da UNE, em 1968, e cumpriu um ano e meio de prisão. Depois de solto, viveu alguns meses clandestino na Baixada Fluminense com José Genoíno e dali foi para o Araguaia. Integrante do destacamento B comandado por Osvaldão, foi morto em novembro de 1973, durante a última campanha militar na região. Seu corpo nunca foi encontrado e é dado como desaparecido político.
  • Rodolfo Troiano (Mané) - ex-estudante secundarista mineiro, filiado ao PCdoB, foi preso por participar de manifestações estudantis em 1969, cumprindo pena em Juiz de Fora. Depois de solto, em1971 foi para o Araguaia e integrou o destacamento A da guerrilha. Morto em 12 de janeiro de 1974 segundo a Marinha, executado após ser preso, seu corpo nunca foi encontrado.
  • Pedro Alexandrino de Oliveira (Peri) - Bancário mineiro, integrante do destacamento B. Morto com um tiro na cabeça em agosto de 1974, após ser encontrado sozinho na selva. Seu corpo foi transportado de helicóptero para a base de Xambioá, onde foi chutado e cuspido pelos soldados, o que causou a intervenção de um oficial da FAB ordenando que o inimigo fosse respeitado.
  • Telma Regina Correia (Lia) - ex-estudante de geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), de node foi expulsa em 1968 por sua atividades políticas, foi para a região do Araguaia em 1971, juntamente com seu marido Elmo Corrêa, e integrou o destacamento B. Foi presa e desapareceu em janeiro de 1974.
  • Luis Renê Silveira (Duda) - carioca e ex-estudante de medicina, chegou ao Araguaia com apenas 19 anos. Preso com a perna quebrada por tiro perto da base de Bacaba, desapareceu no início de 1974.
  • Walkiria Afonso da Costa (Walk) - ex-estudante de Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais, integrou o destacamento B e foi a última guerrilheira morta, fuzilada após ser capturada, em outubro de 1974. Sua morte encerrou a Guerrilha do Araguaia.
  • Vandick Raidner Coqueiro (João Goiano) - ex-estudante de economia baiano, chegou ao Araguaia com a mulher Dinaelza Coqueiro, a guerrilheira 'Mariadina'. Integrante do Destacamento B, foi o penúltimo guerrilheiro preso e executado pelo exército, em setembro de 1974.
  • José Piauhy Dourado (Ivo) - ex-estudante da Escola Técnica Federal da Bahia, era fotógrafo em Salvador até entrar na clandestinidade, junto com o irmão, Nélson. Combatente do destacamento C, não foi mais visto pelos guerrilheiros a partir de dezembro de 1973. Relatório sigiloso da Marinha registrou sua morte em 24 de janeiro de 1974. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • Cilon Brum (Simão) - Também conhecido como 'Comprido', era um ex-estudante de Economia da PUC-RS. Presidente do DCE da universidade, chegou ao Araguaia fugindo da repressão política. Não foi mais visto pelos companheiros depois de dezembro de 1973 e foi visto preso por mais de dois meses numa base militar na região de Brejo Grande. Dado oficialmente como desparecido, anos depois, foram descobertas e publicadas fotografias que mostravam 'Simão' preso, escoltado por militares, em algum lugar da mata do Araguaia, comprovando que morreu sob custódia de tropas federais. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • Rioko Kayano - militante do PCdoB, levada ao Pará por Elza Monnerat, não chegou a se juntar à guerrilha, sendo presa na pensão de Marabá onde aguardava transporte para a zona de conflito, em 15 de abril de 1972. Na prisão, começou a namorar José Genoino com quem é casada e tem três filhos.
  • Pedro Albuquerque Neto - ex-militante do movimento estudantil cearense preso no Congresso da UNE em Ibiúna em 1968, chegou no Araguaia com a mulher em fevereiro de 1971. Fugiu da guerrilha em junho do mesmo ano, acompanhando a mulher que não aguentava mais as condições de vida da selva. Foi sua prisão em Fortaleza e posterior tortura, que se imagina deu aos militares o primeiro conhecimento da existência da Guerrilha do Araguaia.
  • João Carlos Wisnesky (Paulo Paquetá) - ex-estudante de medicina da UFRJ, desertou da guerrilha em 1973, deixando a companheira 'Rosa'. Descoberto muitos anos depois trabalhando como médico em Niterói, não fala da guerrilha.
  • Danilo Carneiro (Nilo) - Primeiro guerrilheiro preso, em abril de 1972, nas proximidades da Transamazônica quando cumpria missão de mensageiro da Comissão Militar, foi preso e torturado com golpes de fuzil, estocadas de baioneta e, arrastado por um jipe, ficou com metade do corpo em carne viva. Solto após um ano e meio de prisão, passou por 30 cirurgias para recuperar os danos da tortura. Vive em Florianópolis.
  • Manuel José Nurchis (Gil) - ex-operário paulista, integrou o Destacamento B de Osvaldão e foi morto em combate em 30 de setembro de 1972, junto com João Carlos Haas Sobrinho e Ciro Flávio Salazar. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • Dower Cavalcanti (Domingos) - aprisionado ferido após a emboscada que matou Bergson Gurjão em junho de 1972, foi torturado com choques, pau-de-arara e simulação de afogamento depois de levado para Brasília. Ficou preso até 1977. Após reconquistar a liberdade, formou-se em medicina em Fortaleza e trabalhou no Ministério da Saúde. Morreu ao 41 anos, em 1992, de ataque cardíaco.
  • Dagoberto Alves da Costa (Miguel) - Integrante do Destacamento C, foi preso apenas 52 dias depois de chegar o Araguaia e passou um ano e meio na cadeia. Hoje é psicólogo e vive em Recife.
  • Uirassu de Assis Batista (Valdir) - estudante baiano, integrante do movimento secundarista e perseguido por sua atuação política, foi para o Araguaia e integrou-se ao Destacamento A. Preso com mais dois guerrilheiros no inicio de 1974, foi visto na base de Xambioá, algemado e mancando com a perna coberta por uma leishmaniose, sendo levado em direção a um helicóptero do exército. Desapareceu e seu corpo nunca foi encontrado.
  • Pedro Matias de Oliveira (Pedro Carretel) - posseiro do Araguaia que se juntou aos guerrilheiros, teve o último contato em 2 de janeiro de 1974. Foi visto amarrado numa base militar sendo levado para a mata. É dado como desaparecido político.
  • Rosalindo de Sousa (Mundico) - advogado baiano, chegou ao Araguaia em 1971 e era famoso na região pelos cordéis que fazia. Foi fuzilado pelos guerrilheiros após um julgamento por um 'tribunal revolucionário' dentro da mata, que o condenou por 'traição ideológica' e adultério.
  • João Qualatroni (Zebão) - ex-militante do movimento estudantil secundarista do Espírito Santo, integrou-se ao Destacamento A da guerrilha. Morreu em combate em 13 de outubro de 1973, aos 23 anos, vítima de uma emboscada junto com André Grabois e mais dois guerrilheiros.
  • Batista - caboclo morador do Araguaia que se juntou aos guerrilheiros durante os combates, nunca se soube muito sobre ele. Desapareceu no início de 1974, após ser preso junto com a ex-professora e guerrilheira Áurea Valadão.
  • Lourival Paulinobarqueiro da região ligado aos guerrilheiros, acusado pelos militares de informante e de dar apoio logístico à guerrilha, foi preso e torturado pelo exército em 1972. Três dias depois de entrar arrastado na delegacia de Xambioá, sua morte foi anunciada como suicídio. Seu corpo nunca foi encontrado.
  • Antonio Alfredo de Lima (Alfredo) - Paraense morador do Araguaia,entrou para a guerrilha após ser ameaçado por grileiro da região. Aprendeu a ler e escrever com os companheiros e ensinou-lhes táticas de orientação e sobrevivência na selva. Morreu em combate com mais três guerrilheiros em 14 de outubro de 1973. Dado como desaparecido.
  • Antonio Ferreira Pinto (Antonio Alfaiate) -
  • Antônio de Pádua Costa (Piauí)´-
  • José Toledo de Oliveira (Vitor) -
  • Idalísio Soares (Aparício) -
  • Helio Luiz Navarro (Edinho) -
  • Nelson Piauhy Dourado (Nelito) -
  • Custódio Saraiva Neto (Lauro) -
  • Antonio Teodoro (Raul) -
  • Ciro Flávio Salazar (Flávio) -
  • José Maurílio Patricio (Manuel do B) -
  • Paulo Roberto Marques (Amauri) -
  • Miguel Pereira dos Santos (Cazuza) -

[editar] Referências


COMO JONAS, O GUERRILHEIRO,
MATOU SEU TORTURADOR

Luiz Maklouf Carvalho

[ Jornal da Tarde - 16 / 05 / 97 ]

Virgílio Gomes da Silva, o guerrilheiro que pontifica como Jonas no polêmico filme “O que é isso, companheiro?”, matou, em legítima defesa, um dos torturadores que o massacravam, na sede da Operação Bandeirantes (rua Tutóia, Paraíso), em setembro de 1969. A revelação foi feita ao Jornal da Tarde, em entrevista exsclusiva gravada, pelo irmão de Virgílio, o também ex-guerrilheiro e ex-preso político Francisco Gomes da Silva, o Chiquinho, 52 anos, sobrevivente da tortura e de cinco balaços recebidos numa ação desastrada (leia matéria abaixo). Virgílio foi morto sob torturas horas depois de ter atacado o torturador — e consta, até hoje, da lista de “desaparecidos”.

Ele e o irmão atuavam atuavam, até serem presos, em um Grupo Tático Armado (GTA) da Ação Libertadora Nacional (ALN), a organização de maior fôlego entre as que adotaram a luta armada como tática principal da luta contra a ditadura militar (64/85). Virgílio — que entre muitas ações comandou a do seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, a 4 de setembro de 1969 — foi preso a 29 de setembro de 1969, à Avenida Duque de Caxias 312, apartamento 23, por uma equipe de militares da Operação Bandeirantes (Oban) o braço armado da repressão política. Chiquinho foi preso na véspera, a 28, no quarto da pensão em que morava, à rua Martinico Prado.

Eis o que ele diz sobre a cena dramática de Virgílio com os torturadores:

“Vi o meu irmão na tortura. Os caras queriam saber nomes de outros militantes, endereços de aparelhos, tudo. Ele falava: 'Meu nome é Virgílio Gomes da Silva'. Chamava os caras de filhos de puta, torturadores, e cuspia na cara deles. Eu também estava sendo interrogado na Oban da Tutóia. Escutei a voz de meu irmão chegando, e o vi algemado com as mãos para trás, aos gritos. Quando chegou no topo da escada os caras jogaram ele no chão, ele algemado para trás. Um torturador — um negão, de 1 metro e 95 de altura — estava com um sapato marron, ponta fina. Deu um pontapé na fronte dele, que abriu, e o sangue começou a jorrar. Nesse momento, mesmo algemado, o Virgílio deu um impulso com as costas e acertou com os pés o queixo do negão. Ele caiu pelo vão da escada e foi aquele corre-corre. Meu irmão ficou abandonado numa poça de sangue e os caras correram pra socorrer o torturador. Eu olhei por um vitrôzinho e vi quando passou uma maca, sangue no pano branco, os pés do negão balançando que nem geléia, enfiados nuns pacotes de gelatina. Tenho certeza que ele morreu ali. Era o segundo andar e o tombo foi grande. Horas depois o Virgílio foi assassinado, pendurado num pau de arara".

Virgílio, 1,65 de altura, era pugilista e capoeirista. Como pugilista chegou a disputar campeonatos amadores promovidos pelo jornal “Gazeta Esportiva”. “Ele tinha uma força descomunal”, diz Chiquinho, que também foi boxeur amador. Ele não sabe o nome nem o apelido do torturador atingido por seu irmão. Segundo o Grupo Tortura Nunca Mais, Virgílio foi torturado e morto por uma equipe comandada pelo capitão do Exército Benone de Arruda Albernaz — um dos militares que integra a lista dos torturadores. O Exército nunca se pronunciou a respeito. Um relatório da Marinha, citado nos documentos do Grupo Brasil Nunca Mais, diz que Virgílio “morreu em 29 de setembro de 1969, ao reagir à bala quando de sua prisão em um aparelho”.

O JT localizou, nos arquivos do relatório Brasil Nunca Mais — a mais alentada denúncia documentada sobre os métodos do regime militar — um “Boletim Reservado” do Serviço de Informações do DOPS de São Paulo. É de 29 de junho de 70 (um ano depois da morte), tem o carimbo de “confidencial” e mostra como os órgãos repressivos estavam perdidos na tentativa de explicar a morte de Virgílio. O “Boletim Reservado” diz o seguinte:

“(...) em 30.9.1969 foi encontrado em local baldio um cadáver, que algum tempo depois foi identificado através de pesquisas datiloscópicas como sendo de Virgílio Gomes da Silva. Conforme laudo de exame de corpo de delito informamos que a causa mortis foi em consequência de traumatismo crânio-encefálico”.

Não há qualquer referência ao local em que o corpo foi encontrado. Nem sobre a identificação datiloscópica e nem sobre o laudo do exame de corpo de delito — documentação que nunca apareceu.

O SOBREVIVENTE

Francisco Gomes da Silva, o Chiquinho, contou ao JT, em entrevista gravada, que dos cinco tiros que recebeu durante uma ação armada, a 4 de julho de 1969, um foi disparado, acidentalmente, por um guerrilheiro que também estava na ação — o hoje advogado Aton Fon Filho, que entre outros clientes atende o Movimento dos Sem Terra. Aton — respeitado quadro militar da ALN, com treinamento em Cuba, ex-preso político torturado — não deu retorno aos telefonemas do JT.

A versão oficial, até a entrevista de Chiquinho, dizia que os cinco tiros foram disparados pelo policial Boaventura Rodrigues da Silva, da então Força Pública do Estado de São Paulo. Boaventura foi morto na ação — e, ao que constava, também por Chiquinho. Hoje, quase 30 anos passados ele diz que não foi ele que matou o policial. “Eu mesmo achei que tinha sido eu, mas depois os companheiros disseram que quem acertou no guarda foi o Fleuryzinho”, diz. Fleuryzinho — outro guerrilheiro que fez história — É Carlos Eduardo Fleury Filho. Ele foi morto pela repressão, em condições ainda não totalmente esclarecidas, a 10 de dezembro de 1971.

A ação em que Chiquinho foi baleado — e o policial morto — aconteceu à altura do número 634 da Avenida Penha de França, bairro da Penha, zona leste de São Paulo. Tratava-se de expropriar — era assim que se dizia — uma submetralhadora INA que Boaventura carregava junto com um revólver .38. A arma — sempre segundo Chiquinho — seria usada no seqüestro de embaixador americano, um mês depois. O trajeto diário do policial foi levantado, dias antes, por integrantes da organização.

Na manhã de 4 de junho, quando encontrou o irmão Chiquinho (codinome Davi) para irem ao local escolhido, Virgílio/Jonas disse a ele que só a INA deveria ser expropriada — o .38 não, porque assim a ALN demonstraria que seu poder de fogo não estava tão mal. Foram — eles, Aton, Fleuryzinho, Celso Horta (dirigindo um carro de apoio) e outros guerrilheiros da ALN. Chiquinho conta:

O Virgílio me disse: “Você é que vai tomar a sub-metralhadora. Nós temos que desmoralizar a polícia de São paulo, deixando ele com o 38”. O policial usava uma capona. Eu chego pra ele e digo 'amigo, por favor', como se fosse pedir a indicação de uma rua nas redondezas. Quando ele vira, eu bato de direita, no queixo. Ele caiu contra a porta. Com um soco. Eu batia bem, treinava boxe. Ele cai contra a porta, eu puxo a sub-metralhadora dele e passo pro meu irmão. O meu irmão passa essa submetralhadora para um outro companheiro, que vai e dá uma rajada contra a fachada do prédio em frente, onde funcionava uma lojinha de guarda- chuva que eu acho que existe até hoje, na parte de baixo. Quando o companheiro deu aquela rajada, uma bala ricocheteou na parede, voltou e acertou em cima do meu olho esquerdo. A bala entrou e saiu por trás da orelha.

JT - Então essa bala que acertou o seu olho foi o tiro de um ricochete dado por um companheiro?

CHIQUINHO - Por um companheiro.

Com a própria sub-metralhadora que vocês tinham expropriado?

É. A que eu tinha acabado de tomar.

E o que aconteceu na seqüência, depois que você tomou o tiro no olho?

Com isso o policial se recupera da pancada que eu dei. Quando eu caio e vou levantando, ele me acerta quatro tiros nas costas com o 38 que a organização fez questão que ficasse ele, para desmoralizar a polícia. Eu tombei de joelhos, levantei, e fui pegar o meu revólver. Que estava sem o cabo, só com a ferragem, porque uma bala que entrou nas costas e saiu pela barriga arrebentou o cabo do revólver.

Deu pra atirar assim mesmo?

Eu atirei assim mesmo. No momento em que ele desceu a rua, correndo em zigue-zague, eu descarrego cinco tiros, procurando acertar. Depois me falaram que não fui eu que acertou o cara. De início todo mundo me fez elogios, falando que tinha sido eu que tinha acertado o cara. Mas tarde disseram que não fui eu. Quem acertou o cara foi o Fleurizinho.

Foi o Fleurizinho que deu a metralhada que te acertou o olho?

Não. Foi outro companheiro.

Quem estava nessa ação?

Quem deu essa rajada foi Aton Fon Filho. Ele esteve em Cuba junto com o meu irmão.

Qual era o papel de cada um durante a ação?

O Virgílio e eu fizemos a abordagem. O meu papel era pegar a arma e passar pra ele. O Fleury fazia a cobertura. O Fon também, num carro em frente. Quando eu tomei a submetralhadora o caso já estava praticamente encerrado. Não tinha mais necessidade de atirar - mas ele deu a rajada na parede. Se não fosse aquilo eu teria ido pro carro e ficaria tudo bem.

Com a barriga praticamente aberta, e o rosto arrebentado, Chiquinho, depois de uma dramática fuga do local, acabou operado num hospital de Itapacerica da Serra. O médico fez a operação sob a mira da arma de Virgílio — que depois carregou o irmão cheio de bandagens nas costas, levando-o, com outros companheiros, para lugares relativamente seguros. Chiquinho sobreviveu aos tiros — ainda fez uma ação depois de tudo isso — à prisão, às torturas e aos 10 anos e dois meses de cadeia. A acusação pela morte de Boaventura impediu que ele se habilitasse a receber indenização — o que só agora vem tentando obter. Continua pobre e praticamente sozinho — mas sempre lutador. Tem um filho de um casamento que não deu certo. E trabalha, há alguns anos, como caseiro e office-boy de confiança dos advogados Aton Fon Filho e Luiz Eduardo Greenhalg.

VIRGÍLIO FOI TREINADO EM CUBA



Chiquinho ainda não viu o filme “O que é isso, companheiro?”, de Bruno Barreto (com roteiro de Leopoldo Serran), mas desde logo está convencido, pelo que ouviu de parentes e amigos, que a obra deturpa a imagem do irmão. “O Virgílio era sério, humano, e charmoso — e não esse grosseirão que aparece no filme”, diz Chiquinho, uma fonte que certamente teria ajudado Barreto e Serran a compor um perfil mais aproximado do personagem Jonas.

A rigor, limpando o discurso oficial de Chiquinho, Virgílio Gomes da Silva não era nem o fanático grosseirão do filme, e nem o militante de comportamento impecável que certa esquerda pretende vender. Era um guerrilheiro preparado e destemido — treinou guerrilha em Cuba, na primeira turma que a Aliança Libertadora Nacional enviou à ilha — sem o qual, do ponto de vista militar, a organização de Carlos Marighela não teria sido metade do que foi. Tinha parcos conhecimentos teóricos da doutrina em que acreditava — o marxismo-leninismo —mas exibia uma consistente firmeza ideológica no que diz respeito aos objetivos da organização: a derrubada do regime militar pelas armas. Cometeu, naquelas circunstâncias difíceis, alguns excessos de caráter pessoal e político. Foi um marido infiel, por exemplo, e certa feita, encantado com um espelho pintado a mão, simplesmente o surripiou de uma pastelaria, numa singular “ação” em benefício próprio.

Virgílio nasceu pobre, a 15 de agosto de 1933, em Sítio Novo, localidade de Santa Cruz, Rio Grande do Norte. Na década de 40, os pais (Sebastião Gomes da Silva e Izabel Marinho de Carvalho) mudaram-se para Belterra, em Santarém, Pará, onde trabalharam na grande plantação de borracha da Ford. Chiquinho, o caçula de 10 filhos (só quatro estão vivos), nasceu em Belterra, em 45. Logo depois os pais separaram-se. Isabel voltou com os filhos para o Rio Grande do Norte.

Na memória de Chiquinho, Virgílio veio para São Paulo com 18 anos. Trabalhou numa loja de tecidos e nas empresas Itauclab e Wersten, até tornar-se operário da Nitroquímica e iniciar-se na militância sindical. Mandou buscar a mãe e os irmãos em 54 — chegaram de avião, em Congonhas. Chiquinho acredita que já então ele entrara para o Partido Comunista do Brasil (depois Partido Comunista Brasileiro), destacando-se como diretor sindical e líder operário na região de São Miguel Paulista. Escrevia para o jornal "Novos Rumos", do partido. Alternava a militância com a prática do boxe e da capoeira. Disputou campeonatos amadores como peso-galo e conheceu Edér Jofre, a quem mais tarde homenageou dando o nome de “Galo de Ouro” a um bar que possuiu no Itaim Paulista. Casou-se com Ilda Martins da Silva, a 21 de maio de 1960.

Preso em abril de 1964, por conta de sua militância no Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Sâo Paulo, Virgílio foi incurso na famigerada Lei de Segurança Nacional. Apanhou como gente grande —deslocaram-lhe uma clavícula, diz Chiquinho — mas foi solto e entrou na clandestinidade. Estava na linha de frente quando Carlos Marighela rompeu com o PCB e criou a Ação Libertadora Nacional (ALN). Treinou guerrilha em Cuba, e ao voltar para o Brasil, diretamente ligado a Marighela e e a Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo (também assassinados), comandou um Grupo Tático Armado da organização. Fez uma dúzia de ações mais alentadas — assaltos a bancos, joalheria, empresas de ônibus, posto de gasolina, atentado a bomba — mas a que mais o notabilizou foi o espetacular seqüestro do embaixador Elbrick (dobradinha MR-8/ALN).

Chiquinho — que foi engraxate na Praça da Sé, empregado de um orquidário e gari da prefeitura de São Paulo — entrou para a organização pelas mãos do irmão. Tinha pouquíssimo estudo e um rápido namoro com a juventude do PCB — mas o determinante, segundo ele próprio, foi a influência do irmão, que dele precisava para tarefas relacionadas às ações, além das ações propriamente ditas.




















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